TrabalhosGratuitos.com - Trabalhos, Monografias, Artigos, Exames, Resumos de livros, Dissertações
Pesquisar

Cem anos de Paz

Por:   •  18/2/2016  •  Resenha  •  1.232 Palavras (5 Páginas)  •  2.708 Visualizações

Página 1 de 5

UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro

Curso de Relações Internacionais 2015.2

Disciplina: Política Externa do Brasil Independente

Professor: Rafael Bosisio

Aluna: Aléxia Chrystie Michel Martins

Bibliografia: POLANYI, Karl. Cem Anos de Paz. In:__________. A Grande Transformação: As origens da nossa época. 3ª ed. Rio de Janeiro: Campus, 1980. p. 17-35.

Resenha Crítica – Cem Anos de Paz (1815-1914)

O autor se propõe a analisar as origens políticas e econômicas do conflito do século XIX que, segundo ele, foram responsáveis pela ruína da civilização da época. De acordo com o estudioso, depois de passar pelo Renascimento e as superações, tudo o que vem depois de Napoleão é decadente e gerou uma grande crise. Polanyi aponta os quatro pilares que estruturavam essa civilização europeia: o sistema de equilíbrio de poder, o padrão monetário internacional do ouro, o mercado autorregulável e o Estado liberal.

O sistema de equilíbrio de poder – característica mais sensível às relações internacionais – dizia respeito à crença de que a soberania e a igualdade de peso nas decisões internacionais existiam para todos os Estados. Polanyi argumenta que havia a falsa ilusão de que todas as decisões eram tomadas por um arranjo igualitário de Estados nacionais modernos. Na realidade, todos eram impérios, se expandiam e se relacionavam diplomaticamente, mas o equilíbrio não existia, especialmente porque os interesses da Inglaterra eram colocados em primeiro plano. Já o padrão monetário foi uma medida para determinar o valor das moedas internacionais, que dava a impressão de que todas as economias internacionais eram reguladas por um preço determinado pelo preço do mercado. Esse padrão também estava vinculado ao bom comportamento do Estado, sua imagem e reconhecimento e, à sua capacidade de acumular riqueza para lastrear e fortalecer sua moeda. Polanyi explica que o estabelecimento de um padrão monetário vem da necessidade de universalizar qualquer coisa a partir do Iluminismo e, ainda, conclui que essa dinâmica acaba por prejudicar as economias fracas aprofundando a hierarquização entre as economias.

O terceiro ponto, lê-se o mais importante para o autor, trata da crença no mercado autorregulável. Segundo a teoria de Adam Smith, as forças de oferta e demanda determinariam o preço das mercadorias e o comércio se autorregularia. Polanyi afirma que é uma utopia acreditar nessa estrutura, pois os Estados, por mais liberais que possam ser, intervém em suas economias quando necessário e acabam por manipular todo o sistema a seu favor – fazendo com que esse modelo econômico quebre. O autor vai além e indaga sobre como uma civilização que nasceu do iluminismo acredita que o mercado se autorregula, se nenhuma instituição, por mais consolidada que seja, consegue escapar da natureza e influência humanas. O autor também critica essa dinâmica ao observar que a crença no mercado autorregulável provoca uma transformação social de alcance planetário. À medida que eu considero que o mercado se comporta assim universalmente, eu naturalizo diferenças sociais gritantes entre os homens visto que, sob essa ótica, pode-se argumentar que o país que não adota o modelo é um país diferente dos outros países liberais e, indivíduo que não tem a livre iniciativa de produzir riqueza, tem menos valor em si que outro indivíduo que não tem consciência disso.

A última base da sociedade decadente do século XIX é o Estado Liberal. Polanyi atesta que só há como agir ou tomar alguma decisão política no cenário internacional através do Estado, pois, o homem não conseguiu produzir outra organização política que cumprisse esse papel. Ou seja, não há como separar política e economia. Em suma, civilização europeia cria seu próprio veneno. Polanyi – a partir de sua visão substantivista, que argumenta como a economia está intercalada com a sociedade e a cultura – refuta os quatro princípios da sociedade liberal do século XIX e defende tempestivamente a necessidade do Estado atuar na economia e, ainda, afirma que acreditar nesses fundamentos é um equívoco.

Após analisar suas bases, o autor trata do continente europeu no período de 1815 até 1914, revelando que houve a formação de um clima internacional de insegurança apesar o grande interesse pela paz (há concomitantemente concorrência militar entre os Estados, que culminaria na 1ª Guerra Mundial). Dessa forma, o sistema de equilíbrio de poder se revestia de um pacifismo pragmático, uma espécie de “paz armada”; onde podemos citar o forte desenvolvimento da química e indústria bélica e a atuação da Santa Aliança num primeiro momento, e do Concerto Europeu posteriormente (que conquistava a paz pela lógica da guerra e evitava que o conflito se desse em solo europeu, pois, na realidade, a Ásia e a África vivenciavam diversas revoltas). Fica claro, portanto, que a paz era um subproduto do sistema de equilíbrio de poder, pois ela estabelecia o cenário favorável ao avanço econômico das potências europeias. Em outras palavras, esta estava subordinada à segurança e à soberania com o objetivo de não haver conflito armado entre as grandes nações – pois foi uma época violenta, estabilizada à custa da sufocação de rebeliões que poderiam tomar proporções maiores. A paz era mantida não em função do bem-estar mundial, mas da lucratividade dos negócios que dependia de uma tranquilidade relativa entre os países economicamente envolvidos.

...

Baixar como (para membros premium)  txt (8 Kb)   pdf (91.5 Kb)   docx (11.6 Kb)  
Continuar por mais 4 páginas »
Disponível apenas no TrabalhosGratuitos.com