O Deslocamento Compulsório
Por: susan.g • 15/10/2023 • Trabalho acadêmico • 998 Palavras (4 Páginas) • 99 Visualizações
Deslocamentos compulsórios, restrições à livre circulação: elementos para um
reconhecimento teórico da violência como fator migratório
REFERÊNCIA: VAINER, Carlos B. Deslocamentos compulsórios, restrições à livre
circulação: elementos para um reconhecimento teórico da violência como fator migratório.
Anais, p. 819-835, 2016.
Vainer inicia o texto realizando uma breve análise do conceito de migrante segundo a
ONU, onde o autor destaca que o conceito pressupõe que a migração acontece como um ato
de vontade própria, ou seja, não há outros problemas envolvidos, como os que serão
abordados ao longo do texto, com foco na violência. Além disso, o autor destaca a ideia da
“liberdade de ir e vir” (pg. 820), que na verdade é um mito, pois os indivíduos não possuem o
poder ilimitado de locomoção.
O autor aponta alguns dados de migração também, fazendo uma análise entre os dados
de 115 milhões de deslocados compulsórios entre 1910 e final da década de 50 por conta de
conflitos bélicos, e entre 80 e 90 milhões e “reassentados involuntários” entre 1983 e 1993,
por conta de grandes projetos urbanos (pg. 821). Nessa perspectiva “se tratando de
deslocamentos compulsórios, a guerra do desenvolvimento tem sido tão implacável quanto as
guerras propriamente ditas” (pg. 821).
* Migração: O Exercício da Escolha no Território da Liberdade
Num segundo momento Vainer (2016), busca discutir brevemente a abordagem
neoclássica do processo migratório. A partir desta corrente de pensamento, uma das premissas
do processo migratório é a escolha a partir das possibilidades, onde o espaço está organizado
por uma série de pontos nos quais há uma série de possibilidades, vantagens e desvantagens, e
a partir disso o indivíduo escolheria qual o melhor ponto para ir, com base na realidade do
ponto em que este mesmo indivíduo está inserido.
Por essa visão, o resultado sempre será um processo constante de equilíbrio do
sistema, onde “a migração atuaria como seu fator corretivo” (pg. 823), onde as decisões que
serão tomadas e que causem desequilíbrio do sistema recompensadas por outras “decisões
equilibradoras” (pg. 825). Dessa maneira, o indivíduo seria “livre” para escolher suas
decisões,
Para o pensamento liberal, o território aparece como o espaço da
liberdade, e a migração como o movimento em que se exercita esta
liberdade (pg. 825).
* Migração: A Vivência da Corção no Território da Estrutura
Neste tópico, o autor busca destacar e abordar como “as relações sociais de produção e
propriedade que antecedem e sobredeterminam os processos migratórios” (pg. 825), ou seja,
aqui há-se uma análise de como as relações desiguais são determinantes para as ocorrências
dos fluxos migratórios, como exemplo o próprio êxodo rural. E como esse processo está
relacionado ao mercado de trabalho, onde o indivíduo possui a força de trabalho para
oferecer.
Para melhor entendimento sobre, o autor debruça-se à Marx, realizando uma análise
sobre a dimensão de liberdade, onde:
a) numa primeira dimensão (positiva), porque é livre de todo e
qualquer tipo de adscrição territorial, o trabalhador pode circular;
b) numa segunda dimensão (negativa), porque não dispõe dos
meios para assegurar sua reprodução – isto é, é livre porque
despossuído dos meios de subsistência e produção –, o trabalhador
está obrigado a circular à busca de compradores da única
mercadoria de que dispõe, a força de trabalho (pg. 826).
Tem-se aqui uma perspectiva do indivíduo “livre para circular, obrigado a circular”
(pg. 826).
A respeito dos mecanismos de coerção e violência, dentro do espectro capitalista o
Estado assume o protagonismo nesse processo de relação social, onde o indivíduo está ao
relento à dependência do capitalismo. E é dentro desta concepção, em que o indivíduo ou um
conjunto de indivíduos se encontram em um conjunto de conflitos que obrigam os mesmo a
saírem de onde querem permanecer, mesmo contra a própria vontade, ou então de não
poderem se deslocar para onde quiserem, por ser proibido. À vista disso:
Deslocamentos compulsórios, restrições à circulação nos falam de
um território que não é nem espaço abstrato da racionalidade, nem
mera manifestação da estrutura; eles nos contam a história de um
território que
...