O Eurocentrismo é o singular etnocentrismo europeu
Por: Rizia Ferreira • 8/2/2018 • Abstract • 1.752 Palavras (8 Páginas) • 839 Visualizações
HISTÓRIA, RELAÇÕES INTERNACIONAIS: DISCIPLINAS EUROCÊNTRICAS.
Bruna Komatsu, Emily Rafany, Mariana Santos, Milena Luz e Nathaly Almeida
RESUMO: O eurocentrismo é o singular etnocentrismo europeu. Está presente na construção de toda visão de mundo ocidental e a formulação de uma equivocada historiografia mundial que coloca o continente europeu e seu modelo de desenvolvimento como o ápice da civilização e um padrão a ser seguido. Por conta disso a história de outros povos não é contada ou é bruscamente reescrita.
É inegável a predominância de concepções eurocêntricas não só no espaço acadêmico, mas também fora dele. Como sua manifestação no senso comum, nos meios de comunicação de massa, nas instituições, etc. Ou seja, toda nossa visão de mundo foi moldada pelo eurocentrismo. Isso foi resultado de anos de dominação europeia no ocidente desde a conquista da América em 1492. Por conta desta visão a Europa foi colocada como centro da história mundial e o seu modelo de desenvolvimento racial branco, religião judaico-cristã, cultura greco-romana e modelo econômico capitalista foi e ainda é visto como superior. Surge então a necessidade de compreender como se deu o processo de formação desse fenômeno histórico-cultural e porque devemos combatê-lo.
Muitos povos ao longo da história manifestaram um etnocentrismo, porém há uma singularidade no etnocentrismo europeu. Como foi dito por Muryatan Barbosa (2008), ele deve ser visto como uma ideologia, paradigma e/ou discurso, pois somente nele há uma expressão definitiva de dominação dos povos europeus no mundo. Samir Amin (1994) definiu o eurocentrismo como a crença generalizada de que o modelo de desenvolvimento europeu-ocidental seja uma fatalidade (desejável) para todas as sociedades e nações. Já Aníbal Quijano (2000) tem preferido conceituar o eurocentrismo como um paradigma. Isso porque sua característica singular seria a de se reproduzir como uma estrutura mental, consciente ou não, que serve para classificar o mundo. E, portanto, poder abordá-lo.
Por conta desta predominância do eurocentrismo nos estudos acadêmicos há inúmeros equívocos na formulação e, por consequência, ensino da História. Exemplo disso são os textos clássicos do Iluminismo, além da filosofia dos séculos XVIII e XIX com Voltaire, Hegel, Marx e Engels. Justamente por sua origem disciplinar ter sido desenvolvida por autores europeus que construíram interpretações evolutivas das sociedades humanas, baseadas no progresso da história europeia-ocidental, colocando-a como seu ápice. Um nítido exemplo é como Hegel, ao analisar a historia da África, afirma que ela não faria parte da ''historia do mundo'' por ali não poder encontrar progressos e movimentos históricos.
Um destes equívocos se manifesta no conceito semântico de Europa e na manipulação/formulação de sua própria história. De acordo com Dussel (2005) a transformação unilinear Grécia-Roma-Europa é um invento ideológico romântico alemão de fins do século XVIII. Isso é passível de ser observado quando se tem consciência de que a futura Europa “Moderna”, ocupada por bárbaros por excelência, não é a Grécia originária, sendo simplesmente o horizonte incivilizado e não humano.
Outras relações que confirmam essa mudança podem ser encontradas na oposição entre o Ocidental, o império romano que fala latim e, Oriental, o império helenista que fala grego. Em ambos, não há conceito relevante que virá a se denominar Europa posteriormente. Ademais, desde o séc. VII o Império Romano Oriental Cristão – Constantinopla - enfrenta o mundo árabe-muçulmano, assim o grego clássico é, mais que cristão-bizantino também árabe-muçulmano.
A Europa latina medieval enfrenta também o mundo árabe-turco. Sua primeira tentativa de se impor no mediterrâneo oriental é através das cruzadas, que fracassaram e fez com que a Europa continuasse sendo uma cultura periférica e isolada do mundo turco muçulmano. Ela nunca foi, até este momento, “centro” da história. Porém, surge uma novidade no período do Renascimento italiano: a união do Ocidental Latino ao Grego Oriental, que juntos enfrentam o mundo turco. Esquecendo-se da origem helenístico-bizantina do mundo muçulmano, tem-se a falsa equação: Ocidental= Helenístico + Romano + Cristão.É daí que surge a ideia eurocêntrica do romantismo alemão. Tal visão é duplamente falsa: (I) porque não há uma história mundial, e sim histórias justapostas e isoladas; (II) porque o lugar geopolítico impede-a de ser o centro. Tem-se então uma Europa Latino do séc. XV sitiada pelo mundo muçulmano, periférica e secundária no extremo ocidental do continente euro-afro-asiático.
William McNeill (1998) aponta uma causa desses equívocos. Devido a escassa atenção que historiadores prestavam para as conexões culturais e civilizacionais para as quais não foram encontradas provas literárias explícitas muitas invenções foram apropriadas pela Europa ou erroneamente denominadas como europeias, como a pólvora e a impressão. Porém ambas invenções foram trazidas da China por habilidosos artesãos analfabetos, devido as fortes conexões pela Eurásia. A ausência de registros escritos constroem drasticamente o passado perceptivel da maior parte dos povos do mundo e a arqueologia ainda não fornece informações suficientes para permitir a construção de narrativas gerais de ameríndios, australianos, e História da África subsaariana.
Zevallos (2015) atribui outro fator a tal processo de apropriação e como vemos a conquista da América de forma equivocada. É de senso comum dizer que a dominação do Novo Mundo foi em decorrência da 'clara supererioridade' do Velho Mundo. Porem o autor evidencia que os amerindios eram superiores em áreas como a saúde, agricultura e mineração.
Antes da invasão ibérica, povos andinos já tinham conseguido desenvolver sofisticadas técnicas de mineração e refino, sendo a exploração de prata a principal atividade econômica. A tecnologia de mineração indígena andina foi um dos alicerces materiais que possibilitaram a passagem para a modernidade, permitindo o surgimento do mercantilismo hispânico. O acúmulo de riqueza monetária (“período da acumulação primitiva do capital”) foi o suficiente para vencer os turcos em Lepanto poucos anos após exploração dos metais preciosos.
E ainda pode-se dizer que na época esses povos eram uma verdadeira potencia agrícola, sendo a batata, milho, mandioca e batata doce, conhecidos, colecionados e sistematicamente cultivados e processados. Eles foram essenciais para eliminar definitivamente a fome na Europa. O que explica a explosão demográfica europeia dos séculos XVII e XVIII. Havia uma tecnologia de construção, que se opõe a tecnologia de destruição desenvolvida na Europa, sendo este o principal motivo que possibilitou a conquista e dizimação da America indígena. Há pouco conhecimento a respeito disso, pois nos primeiros anos da conquista o eurocentrismo já de desenvolvia. Sobre a apropriação Zevallos discorre:
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