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Resenha critica : Globalização como dar certo

Por:   •  8/6/2018  •  Resenha  •  1.431 Palavras (6 Páginas)  •  409 Visualizações

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Resenha crítica

STIGLITZ, Joseph E. Making Globalization to Work. New York: W.W. Norton, 2006. (Globalização: como dar certo. São Paulo: Cia das Letras, 2008)

A obra “ Globalização: como dar certo” do ganhador do  Prémio de Ciências Econômicas em Memória de Alfred Nobel e professor de economia da Universidade de Columbia, Joseph Stiglitz apresenta, em uma linguagem acessível, uma grande crítica à globalização baseado nos anos de experiencia e em seus estudos da área. Stiglitz foi assessor econômico do presidente dos Estados Unidos Bill Clinton e ex-economista-chefe do Banco Mundial e propõe diversas medidas para fazer a globalização funcionar a favor de países mais pobres, criticando a orientação neoliberal da economia (coisas como o FMI e a recomendação internacional chamada Consenso de Washington de 1989 que direcionavam a economia para redução ao mínimo do papel do governo, liberalização total, privatização total), defendendo que tal diretriz trouxer mais problemas do que soluções.

O principal ponto defendido por Stiglitz é que essas políticas aumentaram a desigualdade social e a pobreza mundial e as contrapõe ao caminho tomado pelos países asiáticos, que não abriram mão de um papel forte do governo na direção econômica. Stiglitz questiona ainda as políticas que só se preocupam com o combate à inflação e as mensurações do desenvolvimento que só levam em conta o PIB, mostrando que muitas vezes o PIB vai bem, mas o povo vai mal. No livro ele propõe uma série de reformas para que a humanidade venha a viver num planeta mais democrático, menos desigual e mais saudável.

    

Stiglitz deixa claro que os países industrialmente avançados, Estados Unidos e Europa, fazem as “regras do jogo” da globalização. E é usado como exemplos os EUA concordaram que a Europa poderia designar o chefe do FMI (Fundo Monetário Internacional), desde que um americano ocupasse a segunda posição em importância; ou como a Europa concordou que o presidente americano designasse o chefe do Banco Mundial. Essa visão se contrapõe com a de Thomas Friedman, que em seu livro, O Mundo é Plano, após visitar a sede da empresa Infosys,em Bangalore, na Índia, ele expõe sua visão de que a atual globalização(a qual ele chama de “globalização 3.0”) será movida por um grupo muito mais diversificado de não-ocidentais e não-brancos, e de que todos os cantos do mundo estão adquirindo poder.

Por mais que Stiglitz reconheça o enorme crescimento econômico da Índia, ele argumenta que esse crescimento estava beneficiando apenas 250 milhões de pessoas, enquanto para 800 milhões de indianos, pouco beneficiou. Thomas Friedman viu a importância que China e Índia estão adquirindo na economia mundial, e por simplesmente não serem os Estados Unidos ou a Europa significa que todos os cantos do mundo estão adquirindo poder. No texto do Stiglitz, mostra que o sucesso do Leste Asiático e da Ásia Meridional é específico dos governos, os quais não deixaram todas as decisões econômicas nas mãos do mercado. O mesmo poder adquirido pela China e pela Índia não se pode generalizar para “todos os cantos do mundo”, já que a América Latina e a África continuam à margem da globalização.

O autor enfatiza o fracasso do Consenso de Washington ao tentar desenvolver a economia internacional, recomendando a abertura comercial, principalmente nos países latino-americanos, que se encontravam em uma crise econômica na década de 1980 e acharam que o Consenso seria uma saída. Em A América do Sul como espaço geopolítico e geoeconômico: o Brasil, os Estados Unidos e a China, Cristina Pecúlio ainda aponta que o Consenso de Washington aparentava dar fim a Doutrina Monroe, mas logo a América Latina se desiludiu com o Consenso quando o crescimento econômico foi de curto prazo, seguido de recessão e estagnação; além de perceber a falta de interesse dos Estados Unidos de realmente desenvolver a região, vendo a  América Latina apenas como a “reserva de mercado”. E que a ascensão de governos de esquerda, na América do Sul, foi importante para lançar projetos sociais na região, além de um reordenamento da região no cenário internacional.

Um bom autor que pode ser utilizado para se analisar a obra de Stiglitz, é o economista americano Milton Friedman, Friedman tem uma visão muito mais positiva sobre a globalização e é um forte defensor das ideias liberais criticadas por Stiglitz, defende em sua obra “Capitalismo e Liberdade” que o poder do governo deve ser limitado e descentralizado, permitindo assim, sua ausência nos mecanismos que regulam o mercado. Claramente um pensamento bem neoliberal, e não só Stiglitz critica esse pensamento na obra em análise como faz críticas diretas ao próprio Friedman em uma entrevista ao Business Insider. Friedman apoia a ideia de Adam Smith da “mão invisível”, Smith escreveu que um indivíduo que trabalha em seu próprio interesse é "conduzido por uma mão invisível para promover um fim que não fazia parte de sua intenção, essa mão invisível também controlaria as relações comerciais e assim não seria necessário a intervenção do Estado na economia. Stiglitz apontou que, de fato, a existência da mão invisível foi "provada" em 1954 pelos economistas Kenneth J. Arrow e Gerard Debreu. Arrow e Debreu foram capazes de mostrar a existência de um equilíbrio entre oferta e demanda em uma economia livre e competitiva - mas também deixaram claro que isso só poderia existir se um dado conjunto de suposições sobre a economia e o comportamento do consumidor fossem verdadeiras. "Então, alguns de nós, começamos, no final dos anos 60, a nos perguntar: 'Bem, o que acontece se essas condições não forem satisfeitas?'" disse Stiglitz (2018). Stiglitz disse que ele e o economista Sandy Grossman investigaram essa questão ao longo dos anos 70. Em 1980, eles publicaram um artigo que declarava que embora o equilíbrio de mercado pudesse existir em teoria, era "impossível" que ele existisse em uma economia competitiva na realidade. Seguindo essa linha de pensamento, o argumento de Friedman se desfaz.

Quando Stiglitz cita o que ele considera ser o problema de Friedman, ele explicou que Friedman é influenciado por um movimento que foi tendência do pensamento econômico da época. Esse movimento foi liderado pela escola de economia de Chicago (onde Friedman se formou e foi professor), e a ideologia do livre mercado desenvolvida na Universidade de Chicago em meados do século XX é parte fundamental das ideias defendidas por Friedman. Na visão de Stiglitz, os americanos, particularmente de direita, adotaram o modo de pensar da escola de Chicago porque parecia ser a solução eficiente para estimular uma economia estagnada.

Stiglitz diz que estas discussões sobre como equilibrar a renda de curto e longo prazo está ganhando recentemente mais atenção nos EUA por causa das tensões da classe “venenosa “e da política “feia”,  por conta da desigualdade de renda, e porque pessoas em posição de poder estão olhando para o quadro geral e percebendo que algo tem que mudar. E independentemente do desempenho do mercado de ações este ano, a economia em geral não está indo muito bem, argumentou Stiglitz, quando você olha para ele do ponto de vista do crescimento do PIB. "Quando estávamos crescendo a 4%, poderíamos ter crescido ainda mais rápido", disse ele. "Mas nós pegamos os 4% e curtimos. Mas quando estamos crescendo de 2-2,5%, e estávamos crescendo a 3,5%, a pergunta natural é: 'O que aconteceu? Há algo errado? ‘Stiglitz disse que, embora os CEOs não resolvam a desigualdade sozinhos, a razão pela qual eles existem na sociedade é fazer o crescimento da economia, e agora, estão percebendo que precisam fazer mudanças. É por isso que, por exemplo, alguém como o CEO da BlackRock, Larry Fink, chefe do maior gestor de ativos do mundo, sentiu-se obrigado a tomar uma posição contra a visão de curto prazo. Em uma carta aos CEOs deste ano, Fink anunciou que a BlackRock só fará negócios com empresas que definiram claramente as estratégias de longo prazo que beneficiam a sociedade de alguma forma. Para Stiglitz, a carta de Fink e declarações similares de grandes empresas como a “Unilever” não são apelos para se sentir bem e parabenizar um ao outro, mas estão surgindo a partir de um senso de urgência. É urgente abandonar a doutrina de Friedman.

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