A Articulação: Origens, Caráter E Influência Política
Casos: A Articulação: Origens, Caráter E Influência Política. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: jucrisouza • 15/11/2014 • 9.462 Palavras (38 Páginas) • 489 Visualizações
A Articulação: origens, caráter e influência política
Tendência majoritária, a Articulação (ART) é a face do PT. Sua política, suas teses, sua prática social e partidária dão o tom ao partido. Detentora do controle da direção partidária, com o domínio da máquina burocrática, a maioria dos parlamentares e dos prefeitos, a ART é a principal responsável pela práxis petista, por suas formulações estratégicas, concepção de socialismo e modelo de partido. Não é exagero afirmar que a evolução do PT se confunde com sua trajetória.
Essa influência política determinante tem raízes na própria constituição do PT. O elemento essencial para a formação do PT foi a participação dos sindicalistas. [1] Com efeito, os dirigentes sindicais expressam um dos pilares de sustentação do PT, que lhe dá um caráter de massa. O prestígio dos sindicalistas reflete essa relação – principalmente pelo carisma de lideranças como Lula. Essa base sindical é constituída por diferentes categorias e setores econômicos – com destaque para os metalúrgicos do ABCD. [2] A militância da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e a atuação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), também contribuíram para o crescimento e a consolidação do PT no meio rural. [3] No III CONCUT, 94,1% dos delegados rurais declararam preferência pelo PT.
A ART é a principal porta de entrada para o novo contingente de trabalhadores que desperta para a luta política e para muitos dos que decidem assumir a militância partidária. Ela incorpora a maior parte dos militantes que não passara pela experiência do pré-64. [4]
A expressividade de suas lideranças, contribui decisivamente para que ela se torne depositária da combatividade e do desejo de participação política de uma geração sem militância orgânica anterior ao PT. Outros fatores, como a linguagem pouco acessível e a ausência de um método mais adequado para o trabalho de massas utilizado por determinados agrupamentos e organizações de esquerda, bem como o sentimento anticomunista arraigado em todos estes anos, também contribuem para o seu predomínio.
Destaca-se ainda o fato de essa esquerda, vinculada à tradição marxista, encontrar-se fragilizada pela crise instaurada com a sua derrota no pós-64. Além do mais, a ART, devido à sua prática política pragmática, responde de forma mais positiva às necessidades imediatas da nova geração. Sua composição heterogênea proporciona a flexibilidade organizativa mais adequada às características desta vanguarda emergente.
A ART surge em 1983. Em seu primeiro manifesto público, o Manifesto dos 113, defende um PT de massas, de luta e democrático. Durante a maior parte da sua existência, expressa um aglomerado de personalidades e posições políticas diferentes unificadas na defesa do projeto de construção do PT enquanto partido estratégico.
Quando da sua formação tem duplo objetivo: 1º) combater as posições dos que ameaçam diluir o PT numa “frente oposicionista liberal como o PMDB” ou daqueles que se deixam “seduzir por uma proposta “socialista” sem trabalhadores, como o PDT”; e, 2º) combater as Tendências organizadas que, em sua avaliação, mantém uma prática ambígua em relação ao PT, ora concebendo-o como um partido tático, ora intentando transformá-lo numa organização à sua semelhança, com política e métodos marxistas e/ou leninistas. (VIANA, 1991: pp. 121-23).
Para a ART, a esquerda organizada não se submete à democracia do PT mas sim a comandos paralelos que priorizavam a divulgação das suas posições em detrimento daquelas do partido. Neste momento, a ART não se vê como uma das Tendências do partido. Numa simbiose que descarta a contribuição das demais forças políticas, ela se coloca como a única autenticamente petista – os outros seriam os que usavam duas camisas. Sua constituição inaugura o período da bipolarização interna: ela, de um lado; do outro, uma frente composta pelos setores minoritários (as Tendências). Ambas se caracterizam pela heterogeneidade. O petismo transforma-se em sinônimo de engajamento militante na ART.
Majoritária e hegemônica, sua força oculta sua vulnerabilidade. Primeiro, porque sua heterogeneidade dificulta a formação de um núcleo dirigente com uma estratégia definida (as formulações a que chega são mediadas pela necessidade de atender aos diversos interesses coletivos e individuais). Segundo, porque há uma disparidade entre a cúpula e a base (em termos de recursos, acesso às informações, formação política etc.). A base não participa da formulação política, apenas ratifica e lhe dá sustentação.
Conseqüentemente, a maioria configurada é superficial, sua unidade é frágil e aparente. Os embates teóricos e a experiência adquirida tendem a desenvolver o espírito crítico da base, que pode se transformar em rebeldia e pressão sobre a cúpula, o que acentua a tensão existente em seu interior.
Uma das formas de superação dessa tensão se dá pela emergência de setores dissidentes e o posterior rompimento – além dos casos individuais. A dissidência, em geral, surge como manifestação de descontentamento e revolta. De repente, o mecanismo que sustenta as posições majoritárias – de delegação de poder à Comissão Executiva Nacional e de confiança na liderança do núcleo histórico, os sindicalistas – se torna insuficiente. A base passa a exigir a democratização das discussões e decisões e se mostra favorável às propostas consideradas inadmissíveis pela direção. É a "revolta dos bagrinhos". [5]
A reação das suas lideranças é diferenciada: alguns dirigentes reforçam a pressão dos liderados e incorporam as críticas; outros adotam uma postura autodefensiva. De qualquer forma, esse processo pressiona a ART a aprofundar as definições políticas e organizativas, isto é, a se assumir enquanto Tendência interna do PT. Na prática, a ART se remodela, constituindo-se, no período que antecede o 5º EN, numa corrente política em torno de Lula e dos sindicalistas, com a participação de setores vinculados à Igreja progressista e incorporando quadros marxistas oriundos da corrente O Trabalho (OT).
A formação dessa corrente insere-se no esforço de consolidar um núcleo dirigente. [6] Na prática, isso significa fechar os espaços para os setores que defendem uma política mais branda e conciliadora e para aqueles politicamente não confiáveis abrigados sob o guarda chuva da ART.
Esse processo reflete o crescimento da esquerda nos anos 80, cujo auge será precisamente o ano de 1989; e, expressa o esforço político
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