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As Expressoes Da Questao Social

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Por:   •  8/5/2014  •  11.176 Palavras (45 Páginas)  •  501 Visualizações

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INTRODUÇÃO

Existe certo consenso de que o Serviço Social, enquanto profissão, emerge no Brasil, na década de 1930, como uma especialização do trabalho coletivo inserido na divisão sócio técnica do trabalho e de que, na sua intervenção, dá respostas tanto para as classes com as quais trabalha como para as classes que contratam seus serviços (IAMAMOTO, 1982). Entretanto, se este é o caminho metodológico que realizamos hoje para conhecer a profissão, quer dizer, se hoje compreendemos que a profissão somente pode ser compreendida a partir da sua inserção nas relações sociais, na totalidade maior onde ela se movimenta, nem sempre foi assim. Esta forma de abordar a profissão – que evidentemente se inscreve dentro de uma matriz de pensamento, aquela inaugurada com Karl Marx (1818_1883) – começa a ser hegemônica no Brasil a partir da década de 1980, fruto da renovação sob a perspectiva da

intenção de ruptura, que se processava desde finais da década de 1960 (NETTO, 1996).

_______________

* Prof. Adjunta da Fac. Serviço Social/UFJF_MG. ** Assistente Social graduada na FSS/UFJF_MG..

Anteriores a este período existiam outras matrizes de pensamento que eram hegemônicas no Serviço Social, tendo uma visão cronológica da história da profissão, como sucessão de fatos, baseados principalmente no positivismo nas suas diferentes versões.Como já mencionamos, será somente a partir da década de 1980, portanto, num curto período histórico, que a forma de compreender a profissão, assim como seu significado histórico e as implicações da intervenção profissional se transformará radicalmente. Como explica Yazbek

(2000), para compreender a profissão será preciso, inseri_la no movimento histórico da sociedade,

que é produto das relações sociais:

(...) nesta perspectiva, a reprodução das relações sociais é entendida como a reprodução da totalidade da vida social, o que engloba não apenas a reprodução da vida material e do modo de reprodução, mas também a reprodução espiritual da sociedade e das formas de consciência social, através das quais o homem se

posiciona na vida social . Dessa forma, a reprodução das relações sociais é a reprodução de determinado modo de vida, do cotidiano, de valores, de práticas culturais e políticas e do modo como se produzem as idéias nessa sociedade.

Idéias que se expressam em práticas sociais, políticas, culturais e padrões de comportamento e que acabam por permear toda a trama de relações da sociedade (YAZBEK, 2000, p.89) O Serviço Social, ao trabalhar com as classes trabalhadoras – ou como diria Yazbek com as classes subalternas – no seu viver cotidiano, sempre interveio nas formas de organizar os seus costumes, os seus modos de vida, seja de forma direta ou indireta, mas, nem sempre teve uma compreensão teórica sobre este ‘agir’. Esta visão da ação profissional mencionada pela autora supracitada considera como parte da atuação do assistente social o que costuma ser denominado como ‘mundo da cultura’¹.

Dada a relevância e pertinência do tema para os assistentes sociais e na tentativa de desenvolver e incitar o debate acerca das relações entre o Serviço Social e a cultura, neste artigo2 realizamos uma aproximação de como o Serviço Social, na sua trajetória histórica, se aproximou das concepções de cultura, partindo da sua emergência até a década de 1990.

Para a análise, dividimos o referido artigo em cinco pontos. No primeiro ponto, apresentamos as diferentes concepções de cultura presentes no Serviço Social de uma forma mais geral. No segundo ponto, trabalhamos sobre as concepções de cultura presentes na gênese do Serviço Social, sobretudo sobre a influência do positivismo. No terceiro ponto, trabalhamos sobre a década de 1950 até o golpe militar de 1964, analisando a influência das vertentes desenvolvimentistas. No quarto ponto, nos debruçamos sobre as concepções de cultura imperantes no Serviço Social, no período da ditadura militar, considerando as limitações colocadas pela Doutrina de Segurança Nacional. No quinto ponto, trabalhamos sobre o período da transição democrática até finais dos anos 1990.

Finalmente, realizamos algumas considerações gerais sobre a nossa questão central que é analisar como o Serviço Social, no seu percurso histórico, se aproximou das diferentes concepções de cultura. Como mostraremos a seguir, não separamos a esfera da cultura das demais esferas de vida social. Entretanto, nossa preocupação está centrada em analisar a esfera de cultura e as suas características, sem, por isto, isolá_la das demais.

CONSIDERAÇÕES SOBRE CONCEPÇÕES DE CULTURA PRESENTE NA

TRAJETÓRIA DA PROFISSÃO NO BRASIL

Falar em ‘cultura’ enquanto categoria analítica requer alguns cuidados. A princípio, devemos considerar que esta categoria apresenta várias concepções. Esta vem mudando com o passar do tempo, além de mudar dependendo da matriz teórica na qual se referencia. Mas, todos concordam que é o homem quem produz ‘cultura’. Na nossa concepção, o homem é um sujeito histórico, um ser humano_genérico, que produz e se reproduz em condições determinadas, históricas, inserido numa determinada classe social. É este homem concreto o que produz a cultura, que possui uma visão de mundo, que se transforma e transforma a realidade na qual age.

Do mesmo modo, entendemos que a cultura não é estática, esta se transforma no próprio agir do homem, se transforma no processo histórico.

De acordo com Bezerra (2006), a cultura surge como esfera determinada pelo trabalho, construída como a manifestação da consciência social, só sendo possível se considerarmos uma imensa rede de relações produtivas que se estabelecem em um determinado momento histórico.

Dessa maneira, cada forma diferenciada de organização do trabalho e da vida material corresponde a um universo cultural equivalente.

Segundo Williams (1992), a palavra cultura é de origem romana, oriunda da expressão latina colere, cujo significado relaciona_se ao cultivo, cuidado e trabalho do homem com a natureza para preservá_la e torná_la passível de habitação humana.

Posteriormente, estendeu_se também

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