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CIÊNCIA POLÍTICA

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Por:   •  26/6/2014  •  7.149 Palavras (29 Páginas)  •  240 Visualizações

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TEMA Nº 1

CIÊNCIA POLÍTICA

Eu não tenho pátria: tenho mátria.

Eu quero frátria.

(Caetano Veloso)

“A política, dentre todas as vocações, é amais nobre. A política, dentre todas as profissões é amais vil”.

(Rubem Alves)

INTRODUÇÃO

De todas as vocações, a política é a mais nobre. “Vocação”, do latim vocare, que dizer “chamado”. Vocação é um chamado interior de amor: chamado de amor por um “fazer”. No lugar deste “fazer” o vocacionado quer “fazer amor” com o mundo. Psicologia do amante: faria, mesmo que não ganhasse nada.

“Política” vem de polis, “cidade”. A cidade era, para os gregos, um espaço seguro, ordenado e manso, onde os homens podiam se dedicar à busca da felicidade. O político seria aquele que cuidaria desse espaço. A vocação política, assim, estaria a serviço da felicidade dos moradores da cidade.

Talvez por terem sido nômades no deserto, os hebreus não sonhavam com cidades: sonhavam com jardins. Quem mora no deserto sonha com oásis. Deus não criou uma cidade. Ele criou um jardim. Se perguntássemos a um profeta hebreu: ”O que é política?”, ele nos responderia: ”A arte da jardinagem aplicada às coisas públicas”.

O político por vocação é um apaixonado pelo grande jardim para todos. Seu amor é tão grande que ele abre mão de seu pequeno jardim que ele poderia plantar para si mesmo. (...)

Um político por vocação é um poeta forte: ele tem o poder de transformar poemas sobre jardins em jardins de verdade. A vocação política é transformar sonhos em realidade. É uma vocação tão feliz que Platão sugere que os políticos não precisam possuir nada. (...). Vocação é diferente de profissão. Na vocação a pessoa encontra felicidade na própria ação. Na profissão o prazer se encontra não na ação. O prazer está no ganho que dela se deriva. (...). Assim é a política. São muitos os políticos profissionais. Posso, então, anunciar minha segunda tese: de todas as profissões, a profissão política é a mais vil. O que explica o desencanto total do povo, em relação à política. (...).

Nosso futuro depende dessa luta entre políticos por vocação e políticos por profissão. O triste é que muitos que sentem o chamado da política não têm coragem de atendê-lo, por medo da vergonha de serem confundidos com gigolôs e de terem que conviver com gigolôs. (...).

Já celebramos os quinhentos anos do descobrimento do Brasil. Os descobridores, ao chegarem, não encontraram um jardim. Encontraram uma selva. (...) Aquela selva poderia ter sido transformada em jardim. Não foi. Os que sobre ela agiram não eram jardineiros. (...) E foi assim que a selva, que poderia ter sido transformada em felicidade de todos, foi sendo transformada em desertos salpicados de luxuriantes jardins privados onde uns poucos encontraram vida e prazer.

Há descobrimentos de origens. Mais belos são os descobrimentos de destinos. Talvez, então, se os políticos por vocação se apossarem do jardim, poderemos começar atracar um novo destino. Então, ao invés de desertos e jardins privados, teremos um grande jardim para todos, obra de homens (e mulheres) que tiveram paciência de plantar árvores à cuja sobre nunca se assentariam.

O PENSAMENTO POLÍTICO GREGO

Os males não cessarão para os humanos antes que a dos puros e autênticos filósofos chegue ao poder, ou, antes que os chefes das cidades, por uma divina graça, se não ponham a filosofar verdadeiramente. (Platão)

É preciso que o melhor governo seja aquele que possua uma constituição tal que todo o cidadão possa ser virtuoso e viver feliz. (Aristóteles)

1. Antecedentes

Os tempos homéricos têm como fonte histórica, sobretudo, as obras Ilíada e Odisséia. Naquele período predomina o sistema gentílico, cuja célula básica é o génos, formado por pessoas ligadas entre si por laços religiosos ou de nascimento. Geralmente a origem comum é considerada a partir de um ascendente divino, venerado em cultos coletivos.

Com a desintegração lenta da ordem gentílica, aumentam as diferenças sociais: a desigual divisão de terras privilegia alguns, gerando uma aristocracia baseada na riqueza decorrente da propriedade da terra. Em contrapartida, os que perdem seus lotes passam a trabalhar para os ricos, e aos poucos, se desenvolve o sistema escravista.

A alteração política decorrente é o aumento do poder da aristocracia, como o conselho de nobres e a assembléia de guerreiros. Já vimos como a virtude da aristocracia é centrada na figura do “guerreiro belo e bom”, cuja excelência se acha na coragem e na força. Mas não podemos dizer, ainda, que há ação política propriamente dita, pois resta a crença de que agentes divinos promovem o agir humano.

A passagem do mundo rural e aristocrático da Grécia homérica para a formação das primeiras aglomerações urbanas no período arcaico é concomitante a mudanças na estrutura social, política e econômica. A intensificação do sistema escravista acentua a divisão do trabalho, desenvolve o artesanato e estimula o comércio, a partir da necessidade de dar vazão aos produtos excedentes. Os gregos lançam-se ao mar em busca de terras mais férteis e novos pontos de comércio, fundando colônias na Jônia (atual Turquia) e na Magna Grécia (sul da Itália). Começa então a surgir a cidade-estado (pólis), que dá início a uma nova organização política, típica da Grécia Antiga. A pólis é constituída, pela acrópole, parte elevada onde se situa o templo e também de onde se defende a cidade, e pela ágora , praça central onde se estabelecem as trocas comerciais e na qual os cidadãos se reúnem para debater os assuntos da cidade.

Parece que as primeiras ‘pólis’ teriam surgido na Jônia, e nos séculos VIII e VII a.C. encontram-se disseminadas por todo o mundo grego. Com a invenção da moeda, a economia deixa de ser natural, baseada na troca em espécie, e passa a ser monetária, enriquecendo os comerciantes e proprietários de oficinas, os quais, ainda sem representação política, tendem a aspirar ao poder. A luta contra a aristocracia exige a institucionalização

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