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Ciencia Política

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Por:   •  26/4/2013  •  2.436 Palavras (10 Páginas)  •  710 Visualizações

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Nos últimos meses, com o desenrolar das revoluções no Oriente Médio, a Turquia foi apresentada como um modelo possível e desejável para a região. O país, de população quase totalmente muçulmana, seria um exemplo perfeito de convivência exitosa entre valores democráticos e um governo sob o comando de um partido islâmico, no poder há quase uma década. A utopia turca, contudo, não se sustenta, segundo um de seus mais atentos e qualificados observadores: o historiador Soner Cagaptay, do Washington Institute, um centro de estudos sobre o Oriente Médio com sede nos Estados Unidos. Diz Cagaptay: "A Turquia é um modelo falso. A imprensa está acuada e os tribunais foram dominados pelo partido do governo. Os políticos do AKP dizem o contrário, mas suas políticas acabarão levando à criação de um estado islâmico". Muçulmano, Cagaptay cresceu e se formou em Istambul, antes de se mudar para os Estados Unidos, onde fez seu doutorado e deu aulas nas universidades Yale, Princeton e Georgetown. O historiador concedeu a seguinte entrevista, por telefone, de seu escritório, em Washington.

A democracia turca é um exemplo para as nações do Oriente Médio que estão se desfazendo de seus regimes ditatoriais?

Não. O modelo da Turquia é falso. Quando o Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP, do premiê Recep Tayyip Erdogan) chegou ao poder, em 2002, o país já tinha tradição democrática. Esse partido islâmico aceitou as regras da democracia apenas para eliminá-las em seguida, impondo o controle sobre os tribunais e pressionando a imprensa. O sistema de pesos e contrapesos, cuja função é estabelecer limites ao Poder Executivo, está sendo destruído na Turquia. Recentemente, o governo obteve o direito de indicar praticamente todos os juízes da Suprema Corre, sem a necessidade de aprovação no Parlamento. Já a intimidação à imprensa chegou a um ponto muito crítico, com jornalistas sendo grampeados, presos ou acusados de tentativas de golpe "de estado. Há mais jornalistas presos na Turquia do que na China ou no Irã. Muitos estão em penitenciárias de segurança máxima, junto com os criminosos mais perigosos. Em 2007, dois repórteres investigativos do diário Alilim foram condenados a 3000 anos de cadeia cada um, sob a acusação absurda de terrorismo. Há quase 1000 processos criminais contra jornalistas. O governo está cada dia mais autoritário e disposto a calar a oposição. A Turquia é a prova de que, quando os partidos islâmicos participam de eleições, escondem o faro de que, depois de chegar ao poder. não têm a menor intenção de respeitar a democracia.

No Egito, a Irmandade Muçulmana pretende apoiar candidatos seculares à Presidência. Isso se assemelha à estratégia usada pelo AKP para chegar ao poder na Turquia?

Sem dúvida. O partido islâmico turco chegou ao poder com a ajuda de políticos seculares e, menos de uma década depois, já enfraqueceu a maioria das instituições indispensáveis a uma democracia. As próximas eleições, em junho deste ano, podem até ser limpas, mas não serão justas, porque a imprensa está totalmente acossada. Se depender da vontade dos banidos que querem subordinar o estado à religião, eles foram eleitos para nunca mais deixar o poder. A essa estratégia chamo de "uma pessoa, um voto, uma só vez". Algo parecido ocorreu no Leste Europeu depois da II Guerra Mundial. Na Checoslováquia, os banidos comunistas subiram ao poder com o apoio de sociais-democratas. Uma vez confortavelmente instalados no governo, expulsaram os antigos aliados. Um deles foi atirado pela janela e morreu, dando um sentido macabro ao verbo "defenestrar", cuja raiz contém a palavra fenestra, "janela", em latim.

A Irmandade foi criada em 1928 com o objetivo de tomar o Egito um estado islâmico, governado pela sharia. O objetivo do grupo mudou?

A organização agora quer copiar o modelo turco - tal como é na realidade, e não como alguns sonham. A Irmandade tem visto na ascensão do AKP uma maneira eficiente de alcançar o estado em que a religião dirige a política interna e externa. Os fundamentalistas egípcios perceberam que, mesmo em um país onde os militares eram os mais fortemente seculares do Oriente Médio, onde a democracia já existia fazia seis décadas, onde havia uma imprensa livre e uma Justiça independente, o banido islâmico conseguiu impor seus valores ao restante da sociedade. Por isso, em democracias incipientes como o Egito e a Tunísia, a chance de eles conseguirem o mesmo é muito maior.

Os militares egípcios são muito poderosos. Eles podem manter sob controle as forças islâmicas mais radicais?

Na Turquia. o Exército também era visto como o guardião do estado secular. mas o governo islâmico usa o argumento de que sofre tentativas de golpe como desculpa para perseguir a oposição, inclusive os militares. O que ocorre na Turquia nos ensina que até os adversários militares mais cedo ou mais tarde são obrigados a se ajoelhar diante dos partidos islâmicos. A campanha de difamação do governo de Erdogan corroeu a popularidade das instituições militares turcas. O AKP convenceu a população de que o Exército estava disposto a sabotar seu próprios aviões, a bombardear mesquitas históricas de Istambul e a vender armas para crianças. Militares que se opõem ao AKP são grampeados. e as autorizações judiciais para as escutas são dadas não apenas para conversas com conteúdo político, mas também para assuntos particulares e familiares. A maioria dos oficiais está tão intimidada que não quer mais levantar a voz contra o governo. O mesmo pode ocorrer com o Exército do Egito, que, além do mais, não tem tradição democrática alguma.

Qual a possibilidade de os países do Oriente Médio serem governados por islâmicos moderados?

Isso até pode acontecer, mas por pouco tempo. Toda vez que a religião se torna o centro da vida política, os muçulmanos moderados são derrotados pelos fundamentalistas. O processo pode ser comparado a um concurso de beleza em que o vencedor é sempre o sujeito mais feio. Nessa disputa, a nota de corte é dada pela pureza ideológica. Cada um quer se mostrar mais islâmico que o outro. Quando o governo dominado por um partido de orientação religiosa anuncia uma nova medida, imediatamente aparece outro grupo dizendo que a decisão não foi islâmica o suficiente e propõe algo ainda mais radical. Dessa forma, a religião torna-se o compasso moral do estado e tanto a política externa como a interna passam a ser medidas por seu grau de pureza ideológica.

No século XI, a região da Andaluzia,

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