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Estresse No Trabalho

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Por:   •  10/3/2015  •  3.826 Palavras (16 Páginas)  •  255 Visualizações

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RESUMO

Este estudo objetiva aprofundar o entendimento sobre o estresse e suas implicações,

abordando o tema em relação aos seus elementos conceituais, incluindo as tipologias,

mecanismos, fisiologia, principais sintomas, correntes teóricas que orientam as pesquisas na

área, bem como resultados de pesquisas (SEYLE, 1936, 1956; COUTO, 1987; COOPER et

al.,1988; KARASEK e TORRES, 1996; LEVI, 2003 e 2005; ZILLE, 2005; GUYTON e

HALL, 2006). Do ponto de vista metodológico, em relação aos fins, este estudo enquadra-se

como uma pesquisa de natureza descritiva e em relação aos meios, como uma pesquisa

bibliográfica (VERGARA, 2006; GONÇALVES, C. A. e MEIRELLES, A. M, 2004). Como

conclusões apresentam-se considerações que relacionam as manifestações de estresse e suas

implicações no cotidiano dos trabalhadores, ressaltando a teoria e os resultados das pesquisas

que serviram de referência para este estudo.

Palavras chave: estresse, estresse no trabalho, implicações do estresse, prevenção ao estresse,

organizações.

ABSTRACT

This study aims to deep the knowledge about stress and its implications, analyzing the theme

in relation to its conceptual elements, including types, mechanisms, physiology, major

symptoms, main theories in this area as well as research results (SEYLE, 1936, 1956;

COUTO, 1987; COOPER et al.,1988; KARASEK and TORRES, 1996; LEVI, 2003 and

2005; ZILLE, 2005; GUYTON and HALL, 2006). From the methodological point of view,

for the purpose, this study is classified as a descriptive research and in relation to strategies, as

a bibliographic research (VERGARA, 2006; GONÇALVES, C. A. and MEIRELLES, A. M,

2004). As conclusion, the study shows considerations that relate the manifestations of stress

and its implications on daily life of workers, emphasizing theory and research findings that

were reference for this essay.

Key words: stress, stress at work, implications of stress, stress prevention, organizations. 416

1 - INTRODUÇÃO

As organizações vêm intensificando a competição entre si por clientes e mercados, passando

também a competir pelo recurso mais importante: o talento humano. Diante desse cenário,

têm-se requerido dos trabalhadores novas competências e habilidades, além de formas

diferenciadas de produzir e relacionar-se com o trabalho, associando-se o importante valor

pela saúde. Todos esses aspectos estão diretamente relacionados à qualidade de vida do ser

humano e suas motivações, o que reflete diretamente e indiretamente nos níveis individuais e

globais de produtividade (SAUTER, 2005).

Nessa dimensão o estresse pode ser considerado um obstáculo, uma vez que poderá

interceptar e desviar o fluxo de energia, gerando assim, uma ruptura no equilíbrio pessoal. A

vida acelerada dos dias atuais, principalmente nos grandes centros urbanos, contribui com um

grande número de fatores capazes de interferirem nesse equilíbrio, que é considerado de

fundamental importância para a saúde das pessoas.

Na visão de Goldberg (1986), as situações de tensão excessiva no trabalho vêm contribuindo

para provocar nos indivíduos importantes quadros de estresse. Como decorrências tornam-se

vulneráveis a diversos tipos de doenças, com destaque para o infarto prematuro do miocárdio,

derrame cerebral, quadros psiquiátricos, úlceras, colites, manifestações psicológicas diversas,

distúrbio do sistema imunológico, câncer, entre outras.

Dada a relevância desse quadro, estudos relacionados à qualidade de vida e, sobretudo ao

estresse têm recebido, nos últimos anos, maior atenção pelas organizações em todo o mundo.

O estresse vem sendo considerado um problema generalizado, afetando os trabalhadores, a

organização e a sociedade como um todo, que pode ser minimizado ou até mesmo evitado,

por meio de ações na ambiência ocupacional. Os problemas de saúde mental, entre eles o

estresse, estão entre as causas mais importantes que contribuem para o aparecimento de

diversas doenças e disfunções entre a população de trabalhadores, tendo como conseqüências

além dos distúrbios relacionados à saúde, custos crescentes e significativos que afetam as

organizações e do estado como um todo (LEVI, 2003, 2005).

Este estudo tem como principal objetivo aprofundar o entendimento sobre o estresse e suas

implicações para os indivíduos, abordando-o no que se referem aos seus elementos 417

conceituais, incluindo ai as correntes teóricas, os mecanismos, a sua fisiologia, os principais

sintomas e seus reflexos. Serão abordados também resultados de pesquisas que contribuem

para uma melhor compreensão dessas ocorrências (SEYLE, 1936, 1956; COUTO, 1987;

COOPER et al.,1988; KARASEK and THEORELL, 1990; ZILLE, 2005; GUYTON e

HALL, 2006).

Do ponto de vista metodológico, tendo como referência a tipologia apresentada por Vergara

(2006) e Gonçalves e Meirelles (2004), em relação aos fins, enquadra-se como uma pesquisa

de natureza descritiva e em relação aos meios, como uma pesquisa bibliográfica, uma vez que

sistematiza o conteúdo objeto do estudo.

Foi estruturado em três partes, que além desta introdução, apresenta uma visão central deste

estudo que é o estresse e suas implicações para os indivíduos e organizações, para num

terceiro momento apresentar as reflexões finais.

2 - APROFUNDANDO O ENTENDIMENTO SOBRE O ESTRESSE

A palavra stress, do inglês, deu origem ao termo estresse em português, que, de acordo com o

Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, significa “conjunto de reações do organismo a

agressões de origem diversas, capazes de perturbar-lhe o equilíbrio interno” (FERREIRA, p.

233, 1993).

Para Cooper, Cooper e Eaker (1988), a raiz da palavra stress vem do latim stringere e tem

como significado espremer. Os autores mencionam que a palavra stress consta do vocabulário

anglo-saxônico desde o século XVII, empregada para descrever adversidade ou aflição. Já no

século XVIII, a palavra stress passa a ser empregada para expressar pressão ou forte esforço

do corpo humano. No entanto, somente no século XX é que o termo ganha a conotação

científica dos dias atuais (SELYE, 1956, e ROSSI, 1991).

Foi o pesquisador canadense Hans Selye que utilizou pela primeira vez o termo stress em

inglês, que deu origem ao termo estresse em português, quando publicou o artigo síndrome

produzida por vários agentes nocivos. O autor usou o termo para descrever uma síndrome que

havia identificado e que apresentava importantes ligações com o estado de saúde e doença dos 418

seres vivos. Para fins deste estudo, a terminologia adotada é estresse, ou seja, o equivalente à

palavra stress, grafada em inglês (SELYE, 1936).

Desde o início da utilização dessa terminologia muitos erros foram cometidos com a sua

aplicação de forma equivocada. Assim sendo, optou-se por definir o estresse, em um primeiro

momento, com um conceito do que não é estresse. “O termo stress tem sido aplicado de

formas tão diversas e tem sido definido de forma tão confusa que creio que seria mais fácil e

instrutivo começar por estabelecer claramente o que ele não é" (SELYE, p. 62, 1956).

Dessa forma, Selye (1956) considera que o estresse não é tensão nervosa, estímulo e descarga

hormonal das glândulas supra-renais, que se restringem apenas às conseqüências de lesões no

corpo, alteração da homeostase, reação de alarme, agente de estresse ou estressor e reação

específica ou não específica do organismo. O estresse é um estado caracterizado por uma

síndrome específica de fatos biológicos. Ocorrem modificações pontuais no sistema biológico

que são causadas por uma grande variedade de agentes, mas deve-se considerar o estresse

como sendo inespecificamente induzido. Dessa forma, ele é a resposta inespecífica do corpo a

exigências às quais está sendo submetido.

2.1 - CONCEITOS E TIPOLOGIAS DO ESTRESSE

O estresse se manifesta de duas formas: o distresse, ou estresse da derrota, que é o estresse da

forma como o conhecemos em seu lado negativo; e o eustresse, considerado o estresse

positivo. O eustresse, da mesma forma que o distresse, representa uma reação do corpo a um

estímulo externo, só que nesse caso na forma de superação e prazer. Os dois termos são

empregados de maneira distinta – eustresse e distresse – para distinguir as conseqüências

positivas e negativas do estresse para a vida do indivíduo, muito embora, do ponto de vista

fisiológico, essas duas formas de reação sejam exatamente iguais. O eustresse é o estresse da

superação, realização, do triunfo e do contentamento. Até certo ponto, algumas pessoas vêem

com bons olhos certas experiências e situações de estresse por causa dos sentimentos

positivos que se têm diante delas. O eustresse que as acompanha é uma parte natural da

superação eficaz de desafios, como por exemplo, os de um perigo eminente e de um trabalho

profissional desafiador. Dessa forma, o eustresse é considerado o estresse da vitória (SELYE,

1956).419

Outra importante diferenciação entre os tipos de estresse refere-se ao estresse de sobrecarga e

ao estresse de monotonia. Quando a estrutura psíquica do indivíduo se torna incapaz de

suportar as excessivas exigências psíquicas do meio por um longo período de tempo, fazendo

com que o desempenho no trabalho seja reduzido, diz-se que está sob estresse de sobrecarga.

Já na situação inversa, em que o indivíduo está submetido a um nível de exigência muito

inferior ao que a sua estrutura psíquica demanda, poderá ocorrer outro tipo de estresse,

caracterizado como estresse de monotonia (SELYE, 1974).

Outros conceitos também são apresentados pela literatura, como os de Couto (1987) e de

Simonton et al. (1987), que consideram o estresse um estado em que ocorre um desgaste

anormal do organismo humano, ocasionando redução em sua capacidade de trabalho,

provocada pela incapacidade prolongada de o indivíduo tolerar e superar as exigências

psíquicas da vida ou de adaptar-se a elas. O desgaste do organismo humano é causado por uma

tensão crônica, característica da vida moderna. Para esses autores, as pessoas mais vulneráveis

ao estresse são aquelas que não conseguem se descontrair, relaxar, mesmo que o desejam.

Couto (1987) diferencia dois tipos de estresse: o agudo e o crônico. Quando perdura por um

período maior – três ou mais semanas – o estresse é caracterizado como crônico, podendo

causar um efeito deletério maior sobre a saúde do indivíduo. Por outro lado, quando se

apresenta de forma mais breve, caracteriza-se como estresse agudo.

French (1983) contribui no sentido da compreensão do estresse decorrente das situações de

trabalho, o que é denominado pelo autor como estresse ocupacional. Trata-se de uma reação

do indivíduo ao seu ambiente de trabalho, que, de alguma forma, o atinge. Essas ameaças

podem ser entendidas como agentes estressores que caracterizam uma relação pouco

produtiva entre a estrutura do indivíduo e o seu ambiente ocupacional, demonstrando que

excessivas mudanças estão sendo direcionadas ao trabalhador e que ele não está devidamente

preparado, do ponto de vista psicológico, para internalizá-las de forma positiva.

Do ponto de vista fisiológico, o estresse é responsável por provocar nos indivíduos alterações

de modo a preparar o organismo para enfrentar e/ou superar as fontes de pressão excessivas as

quais está submetido. Quando não há um equilíbrio do organismo em relação às pressões

psíquicas do meio e a estrutura psíquica do individuo, instala-se um quadro de estresse. O

sistema nervoso e o sistema endócrino são de fundamental importância na mediação desse 420

processo, pois realizam a integração e coordenação entre os diversos órgãos e sistemas do

corpo humano.

Indivíduos sujeitos a situações adversas reagem, por estimulação do sistema límbico, com a

produção aumentada do hormônio adenocorticotrópico (ACTH), produzido no hipotálamo e

secretado pela glândula hipófise. Este hormônio, após atingir a corrente sanguínea, irá

estimular o córtex (região periférica) da glândula adrenal a produzir glicocorticóides, em

especial o cortisol. Isso resulta em alguns efeitos no organismo como a mobilização

aumentada de glicose, proteínas e lipídios a partir de suas reservas celulares, tornando-os

disponíveis para a geração de energia (GUYTON e HALL, 2006).

Destaca-se também a atuação do sistema nervoso autônomo (SNA) que, segundo Guyton e

Hall (2006), é responsável pelo controle da maioria das funções viscerais do organismo como,

por exemplo, pressão arterial, sudorese e temperatura corporal. Quando o indivíduo se vê

frente a situações de tensão excessiva ou que exigem aumento do vigor físico, ocorre a

estimulação, muitas vezes em massa, da subdivisão simpática do SNA. Tal estimulação gera

efeitos fisiológicos característicos no organismo como aumento do fluxo sanguíneo no

cérebro e nos músculos, permitindo um melhor raciocínio e respostas musculares mais

rápidas; elevação da pressão sangüínea; dilatação das pupilas, proporcionado aumento do

campo e da acuidade visual; aumento das taxas de metabolismo celular do corpo; elevação da

concentração de glicose no sangue; e aumento da freqüência cardíaca e respiratória,

proporcionado melhoria na oxigenação do sangue, o que torna mais eficaz o desempenho de

diversos órgãos do corpo. Este conjunto de reações corresponde à resposta simpática do

organismo e visa fornecer uma ativação extra ao corpo, afim de que haja uma melhor

preparação do organismo para enfrentar e/ou adaptar-se às fontes de pressão excessiva ao qual

está sendo submetido.

Esses efeitos geram nos indivíduos, do ponto de vista comportamental, aumento da

excitabilidade, agressividade e sensibilidade; ou seja, o organismo fica preparado para

enfrentar as ameaças a ele direcionadas. Segundo Couto (1987), de forma errônea e numa

linguagem popular corrente, essas reações são confundidas com estresse, chegando até mesmo

a ser denominadas com este nome. O estresse não é, entretanto, essa reação em que o

organismo busca a adaptação, mais sim uma decorrência deste estado, caso a adaptação e o

equilíbrio psíquico não ocorra, afirma o autor.421

2.2 - AS ABORDAGENS TEÓRICAS QUE ORIENTAM OS ESTUDOS DO ESTRESSE

A literatura, que trata dos estudos do estresse apresenta três abordagens, que podem ser

consideradas complementares e interligadas. A primeira é a bioquímica, que se relaciona à

fisiologia do estresse, que surgiu nas décadas de 1930 a 1950, influenciada pelos estudos de

Selye (1936, 1956). A segunda é a psicológica, que apresenta a sua ênfase principal na

compreensão da influência que a percepção e o comportamento do indivíduo são

manifestados no processo de estresse. Esta abordagem apresenta as seguintes vertentes: a

psicossomática (GIRDANO e EVERLY, 1979, ADAMS, 1980, COOPER, COOPER e

EAKER, 1988, KAPLAN e SADOCK, 1993); a interacionista (LAZARUS, 1974); a

behaviorista, a partir da década de sessenta, com contribuições de Friedman e Rosenman

(1974); a psicopatologia do trabalho, que, segundo Billiard (1996), teve primeiramente as

contribuições de Paul Silvadon no ano de 1952 e seu contemporâneo Le Guillant; e, por fim, a

vertente da psicologia social, citada por Lhuilhier, Mignèe e Raix (1990). A terceira

abordagem é a sociológica, que está relacionada à compreensão das diversas variáveis que se

estabelecem no contexto da sociedade. Nesta linha estão os estudos de Albrecht (1990) e Levi

(2003, 2005).

Essas abordagens são aprofundadas a seguir e mostram sob diversas óticas, como podem ser

entendidas e estudadas as manifestações relacionadas ao estresse.

A abordagem bioquímica

Foi desenvolvida a partir dos estudos de Selye (1936, 1956), considerado o primeiro

pesquisador a fazer uma análise profunda em relação às manifestações do estresse do ponto de

vista bioquímico. O trabalho de Selye foi influenciado por pesquisadores que não estudaram

diretamente o estresse, mas que proporcionaram importantes subsídios para a sua

compreensão, como foi o caso do fisiologista francês Bernard, ao apontar a capacidade de

manter a constância do equilíbrio interno como um dos traços mais característicos de todos os

seres vivos.

Segundo Selye (1956), Adams (1980), e Cooper, Cooper e Eaker (1988), o fisiologista

Cannon retoma o conceito de Bernard sobre a constância do equilíbrio interno, desenvolvendo 422

e denominando-o de homeostase. Nos estudos de Cannon, foi observado que os seres vivos,

de forma geral, possuíam mecanismos que possibilitavam a mobilização de seus sistemas para

uma reação de combate a eminências de agressão à sua integridade. Essa reação foi

denominada de síndrome de luta ou fuga. De acordo com essa síndrome, o indivíduo reage às

condições adversas (ambientais, emocionais e fisiológicas), preparando-se para uma resposta

rápida e eficaz, visando proteger o seu organismo da situação adversa a qual está sendo

submetido.

Para Selye (1956), a identificação das alterações do corpo em busca do equilíbrio foi à base

para o desenvolvimento do seu estudo teórico sobre o estresse. Dessa forma, o autor avança

em relação às constatações de Bernard e Cannon, uma vez que, além da reação de alarme,

outras duas fases relacionadas à homeostase são descritas. Essas fases, segundo o autor, são: a

de resistência e a de exaustão. A fase de alarme é desencadeada quando o indivíduo percebe,

de forma consciente ou inconsciente, a presença de alguma ameaça à sua integridade que

demanda adaptação. Essa ameaça, segundo o autor, é denominada de fonte de pressão. Nesse

caso, ocorre uma alteração biológica do organismo, dotando-o de prontidão para uma reação à

ameaça imposta. Nessa situação, as atividades aceleradas que ocorrem no organismo são

denominadas de tensão.

Ainda segundo Selye (1956), a fase posterior à fase de alarme, denominada fase de

resistência, pode terminar de duas formas. Na primeira situação, a fonte de pressão é

eliminada, e o organismo retoma a condição de homeostase, desaparecendo os sintomas

observados nas fases de alarme e resistência. Na segunda situação, com o prolongamento das

fontes de pressão, a capacidade de resistência do organismo fica minada, culminando com o

que o autor denomina de fase de exaustão. Nessa fase o organismo perde a batalha para os

agentes estressores, configurando o quadro de estresse, caracterizado por um desequilíbrio

entre os níveis de pressão (estressores), advindos do meio, e a estrutura psíquica do indivíduo.

A abordagem psicológica

Segundo Cassirer (1994, p. 46), o ciclo de funcionamento do homem não é só

quantitativamente maior do que o dos animais, uma vez que passou por importantes mudanças

qualitativas. O autor afirma que o homem evoluiu no sentido da sua adaptação ao ambiente.

Entre o sistema receptor e o sistema efetuador, que são encontrados em todas as espécies 423

animais, observa-se no homem um terceiro sistema, denominado de simbólico. Assim, o

homem, em relação aos animais irracionais, vive a dimensão da realidade. No caso dos

irracionais, uma resposta direta e imediata é dada a um estímulo externo, enquanto que no

caso do homem essa resposta é diferida, ou seja, ocorre uma interrupção e um conseqüente

retardamento, em função do processo de pensamento.

Cooper, Cooper e Eaker (1988) contribuíram com importantes estudos para o

desenvolvimento da abordagem psicológica do estresse. Esses estudos ampliaram o

entendimento sobre esse complexo processo que envolve os seres humanos. Os estudos nessa

linha começaram no início do século XX, a partir do desenvolvimento da psicossomatização,

com questionamentos em relação ao estado emocional dos indivíduos e a suas condições de

saúde apresentadas.

Na visão de Cooper, Cooper e Eaker (1988), Lhuilier, Mignèe e Raix (1990), Arnold,

Robertson e Cooper (1991) e Moraes et al. (1998), o trabalho de Lazarus (1974) é

considerado o marco para os estudos da abordagem psicológica, uma vez que o mecanismo

psicológico é percebido como determinante no processo, associando-se ao desencadeamento

de quadros de estresse.

A abordagem psicológica em relação aos estudos sobre estresse não apresenta uma direção

única, embora nas suas diversas vertentes apresente coerência em relação a determinados

pressupostos. As vertentes decorrentes dos estudos relacionados a essa abordagem, a seguir

apresentadas, são: a psicossomática, a interacionista, a behaviorista, da psicopatologia do

trabalho e da psicologia social.

A vertente psicossomática: para Kaplan e Sadock (1993), essa vertente considera que as fortes

situações emocionais desencadeiam o processo de estresse nos indivíduos, situações essas

geradoras de doenças, que poderão ser de cunho biológico ou puramente psicológico.

A vertente interacionista: tem a sua base na psicologia experimental, que considera e

aprofunda a abordagem psicológica nos estudos de estresse. O principal fundamento dessa

corrente está relacionado com a compreensão da relação que o indivíduo estabelece com o

meio, os mecanismos de interação e a interpretação dos eventos à sua volta. Nessa

concepção, a reação do indivíduo ao estresse depende de como ele percebe, de forma 424

consciente ou não, o significado de uma ameaça ou desafio advindo do ambiente. Em síntese,

busca compreender o estresse como sendo decorrente de uma relação estabelecida entre o

indivíduo e o ambiente, permeado pelo mecanismo psíquico (LAZARUS, 1974).

A vertente behaviorista: nesta vertente destacam-se os estudos desenvolvidos por Friedman e

Rosenman (1974), que investigaram a associação de determinados tipos de comportamentos

relacionados a problemas cardíacos. Com base nesses estudos, foram caracterizados dois tipos

básicos de comportamentos, denominados Comportamento Tipo A e Comportamento Tipo B.

Segundo os autores, o comportamento tipo A é característico de indivíduos que possuem certo

nível de agressividade e competitividade bastante exacerbada, enquanto o comportamento do

tipo B é próprio de indivíduos mais tranqüilos, equilibrados, apresentando, portanto,

características de personalidade opostas às apresentadas pelo tipo A.

A vertente da psicopatologia do trabalho: vem crescendo de forma significativa como

orientação de pesquisa que, apesar de centrar a sua preocupação em relação aos aspectos

relacionados à doença mental, apresenta novos conceitos que são utilizados nos estudos

relacionados ao estresse. Para Billiard (1996), o movimento conhecido como psicopatologia

do trabalho teve o seu início na França, após a Segunda Guerra Mundial, e contou com as

contribuições da psicologia social. A relação entre a modernização industrial e o movimento

destinado à promoção da saúde consistiu-se na base principal para o desenvolvimento desse

novo campo de estudos, que passou a aliar as questões do trabalho com os aspectos

relacionados à saúde mental.

A vertente da psicologia social: a psicologia social estuda como as pessoas influenciam umas

às outras. Em relação ao estresse, a preocupação central desta corrente está focada em

entender esse fenômeno social, advindo das relações entre os indivíduos. Não constitui

preocupação da corrente da psicologia social entender como o estresse manifesta

individualmente, mas sim como afeta as relações grupais e como, coletivamente, o grupo

reage diante das fontes de pressão. Existe também a preocupação de como o estresse pode

desenvolver-se coletivamente ou, até, epidemicamente em função de variáveis como as

formas que estão estabelecidas as relações entre os indivíduos; o contexto comum; o ambiente

coletivo dos trabalhadores; os rituais de transmissão; e a consolidação da cultura nas

organizações (DAVIDOFF, 1983).

425

A abordagem sociológica

De acordo com Cassirer (1994), na abordagem sociológica percebe-se uma dependência entre

a visão de mundo do indivíduo e a sua realidade social. O indivíduo depende da estrutura

social em que vive para estabelecer o seu universo simbólico, bem como para construir a sua

cultura individual que servirá de base para interpretar os fatos ao seu redor, o que proporciona

elementos para a sua identificação e diferenciação.

A construção simbólica e cultural do indivíduo é fundamental para o desenvolvimento

humano, uma vez que é por meio dessa construção e da transmissão de geração para geração

que a humanidade cresce e desenvolve socialmente, afirma Leontiev (1978). Ainda segundo

esse autor, o desenvolvimento psíquico dos indivíduos está relacionado à estrutura cultural

estabelecida. Nessa dimensão, as alterações culturais afetam diretamente os mecanismos

psicológicos individuais.

Nos dias atuais, a presença mais forte do estresse social revela uma alteração sociocultural,

que influencia o mecanismo psíquico e altera as condições ambientais nas quais o indivíduo

está inserido, provocando influências no mecanismo biológico. Para a compreensão do

estresse nessa abordagem, é de fundamental importância entender não só o indivíduo, no que

se refere a seu mecanismo psicológico e a seu ambiente, como também os valores sociais e as

suas transformações. Isso implica compreender um movimento de transformação amplo e

contínuo, entendendo as novas variáveis que se estabelecem dentro da sociedade,

possibilitando, assim, a interpretação das fontes de pressão à luz de cada nova realidade

(LEVI, 2003, 2005).

Para Kaplan e Sadock (1993), a complexidade atual da civilização, a rapidez das mudanças e

a perda de valores tradicionais, como os religiosos e os familiares, contribuem na geração de

conflitos e ansiedades para a sociedade. Na percepção desses autores, esses contextos podem

contribuir para um estado de tensão nos indivíduos que não pode ser compreendido

simplesmente como um fenômeno psicológico isolado, mas sim como um fenômeno coletivo.

Morgan (1996), apontando para os rumos que os valores culturais do processo de trabalho têm

assumido, coloca a organização como elemento gerador de estresse e que, em alguns casos,

afeta de forma endêmica os valores sociais. Ainda na visão desse autor, o estresse, muitas 426

vezes, tem sido utilizado pelas organizações com o objetivo de maximizar os seus resultados,

sendo disseminado como positivo e produtivo, constituindo-se em um dos motivos pelos

quais as organizações valorizam culturalmente os maníacos pelo trabalho (workaholics) e

aqueles que morrem de trabalhar, que são vitimas de karoshi.

A positividade do estresse nesse caso não apresenta fundamentos, uma vez que o

conhecimento acadêmico produzido até então aponta para a improdutividade, considerando

esse cenário, inclusive contribuindo de forma decisiva para o adoecimento dos trabalhadores

(ZILLE, 2005; COOPER, et al. 1988; COUTO, 1987).

França e Rodrigues (1996) consideram as questões sociais como determinantes de doenças

ocupacionais, e dentre essas o estresse. Para esses autores, o ser humano é considerado como

um todo, ou seja, biológico, ecológico e socialmente determinado. Dessa forma, o seu bemestar,

além de físico e psicossocial, está intimamente relacionado às situações que o

envolvem, como membro de um grupo, de uma comunidade e, mais do que isso, do sistema

sociocultural em geral.

Analisando esse contexto, Rio (1995) também considera a variável sociocultural como

relacionada ao estresse. Aponta algumas alterações de valores, que, segundo ele, podem se

caracterizar como fontes de pressão importantes; por exemplo, o incentivo social à

competitividade, a pressão do tempo, a ética do lucro, o consumo compulsivo e a aceleração

das mudanças.

Os diversos contextos apresentados neste item mostram a importância da abordagem

sociológica nos estudos de estresse, como também a crescente preocupação dos pesquisadores

em relação a essa temática. Fica claro que o estresse vem se tornando um problema cada vez

...

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