Filosofia e Relações Internacionais
Por: Pedro Pereira • 13/5/2016 • Trabalho acadêmico • 2.043 Palavras (9 Páginas) • 310 Visualizações
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO[pic 1]
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS
CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS
A Crise Migratória na Europa: a Xenofobia Europeia
Relatório apresentado como exigência parcial para obtenção de nota na disciplina de Ética e Filosofia, do curso de Relações Internacionais da Faculdade de Ciências Sociais, ministrada pela Prof. Yolanda Gamboa.
Pedro Enrique Pereira RA00174094
São Paulo
2014
A crise migratória atual é, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), a maior do tipo desde a Segunda Guerra Mundial. Ela é decorrente de motivos que se estendem desde a crises sociais humanitárias, como a extrema pobreza na Eritreia, perseguições políticas, como no Kosovo e onde as revoltas da Primavera Árabe foram derrotadas, e guerras, como a interminável Guerra da Síria – sendo essa a que apresenta o maior fluxo de imigração vigente no quadro geral. Estima-se que cerca de 59 milhões de pessoas já tenham sido obrigadas a deixar os seus países em decorrência desses fatores.
Contudo, apesar de ser evidente que a maioria desses imigrantes acabam se deslocando para Estados vizinhos que tenham condições melhores a serem oferecidas – tendo em vista a proximidade -, muitos se deslocam para regiões mais distantes buscando melhores condições de vida e segurança. Como se observa na situação síria, em que 95% dos refugiados estão em países da região, como Iraque, Turquia, Líbano, Jordânia e Egito (segundo dados da Anistia Internacional), entretanto, pelo menos 5%, a fim de recomeçarem suas vidas em locais mais propensos a melhores qualidades de vida, acabam estendendo seus trajetos. Nisso, verificam-se a presença de muitos imigrantes, por exemplo, curdos e sírios, em locais distantes de suas terras natais, como o Brasil e a Europa.
Dessa maneira, seguindo uma visão mais próxima à crise migratória no continente europeu, como a dissertação propõe, verifica-se que os Estados-membros da União Europeia, em 2014, aceitaram cerca de 184 mil pedidos de asilo, dos 626 mil realizados. Observa-se ainda que a maioria dos pedidos feitos são provenientes da Síria (122 mil), do Afeganistão (41 mil) e do Kosovo (37 mil) – dados obtidos através da Eurostat, órgão de estatísticas da União Europeia.
Entretanto, para além de números, faz-se necessário entender a condição desses imigrantes como indivíduos, que apenas almejam buscar um lugar mais digno e seguro para viver. Nisso se incluí, a situação de suas travessias no mar mediterrâneo – entre a África e a Europa -, em que centenas de mortes já foram registradas e ainda são, diariamente, a situação de recepção dos Estados em relação aos seus asilados e também em relação a recepção da sociedade, em geral, quanto a eles – no que se refere, primordialmente, a xenofobia europeia. Nesse quadro, será observado, portanto, a aplicação da ideia de 4 pensadores importantes para o século XX, de modo a desenvolver os seus pontos de vista a respeito da questão do problema xenofóbico na Europa e esses pensadores são: Paul Veyne, Michel Foucault, Michel Serres e Peter Sloterdijk.
Primeiramente, verifica-se a construção da metodologia histórica de Paul Veyne, em comparação com os processos históricos do continente europeu. O autor francês, em sua obra “Como se escreve a história”, discorre a respeito do pensamento de seu compatriota Michel Foucault, quanto ao seu método de fazer Filosofia e a forma de como ele contava as “suas histórias” (por exemplo, a da loucura, em A História da Loucura, e também a da prisão, em Vigiar e Punir), que primeiramente buscava na compreensão dos indivíduos, dentro de suas épocas, “interpretar o que as pessoas faziam ou diziam, em compreender o que supõem seus gestos, suas palavras, suas instituições”, ou seja, estar na pele do outro. Nesse aspecto, verifica-se, portanto, a percepção da metodologia histórica de Foucault, identificada por Veyne para o fazer Histórico e a maneira que o historiador a incorporou para a ciência, em geral.
Nisso, aborda-se nesse ponto, portanto, o cenário da Europa dessa maneira. Muitos Estados europeus ainda hoje sofrem resquícios da grande crise econômica que se desenrolou a partir de 2008, de modo que altas taxas de desemprego persistem a atingir vários países do continente e, assim, também, grande parte da população, principalmente os jovens, que encontram grandes dificuldades em arranjar um trabalho, de maneira que é certo que essa geração europeia será a primeira, em décadas, a ter uma qualidade de vida inferior à de seus pais. Portanto, observa-se que os indivíduos europeus vivem sob um claro quadro de insegurança generalizado, no que se respeita a continuidade de seu modo de vida. Assim, infere-se a problemática da migração dentro do contexto desses países.
O migrante, principalmente aquele que chega sob condição de refugiado, a partir de pedido de asilo, ou ilegalmente, tem em mente, justamente, a busca, sob qualquer circunstância, de uma condição para se estabelecer, recomeçar a vida e também prosperar. Desse modo, coloca-se dentro do imaginário inseguro do senso comum europeu, mais essa condição de disputa, que pode, em casos mais extremos, resultar em condições de plena xenofobia – que é, justamente, a aversão ao diferente, ao estrangeiro. Exemplo mais evidente são os casos generalizados de ataques de gregos à imigrantes recém-chegados da Síria, sendo que a Grécia é um dos países que apresentam as mais altas taxas de desemprego de todo o continente.
Nesse aspecto, vale lembrar que casos de aversão como esses estão bem inseridos na memória histórica europeia, de maneira que a xenofobia, além de ser um produto circunstancial, também é um produto histórico. Como exemplo, não é necessário ir longe para tais observações, uma vez que, em meio a Segunda Guerra Mundial, tanto os Fascismos, como o Nazismo, levaram ao extremo o sentimento antissemita e anti-eslavismo que rondava toda a Europa – não só a Alemanha e a Itália – nas décadas e séculos anteriores aos conflitos, por meio de seus massacres generalizados. O que evidência, por vez, uma outra faceta dessa aversão, que se relaciona a outros momentos históricos dos Estados europeus.
A xenofobia europeia atual também pode ser desencadeada a partir de um outro tipo de insegurança, que é a da miscigenação. Hitler pregava, em seu projeto, a raça ariana, da mesma maneira que os neocolonialistas (franceses, ingleses, alemães, italianos, etc.), nos séculos XVIII e XIX observavam na África e na Ásia, “seres” biológica e intelectualmente inferiores aos europeus, tendo como base as teorias racistas do darwinismo social, que englobavam a ideia da eugenia, como por exemplo, de Francis Galton. Nesse ponto, a justificativa já estava baseada na concepção de nações (dos diversos Estados unificados europeus), contudo, puxando mais ainda o passado, observa-se que a explicação europeia se baseava no “fardo do homem branco” em catequizar o mundo dos selvagens, que por vez, eram os povos da América, quando a Igreja Católica ainda tinha grande influência no cenário político - neste último caso, seguindo as grandes explorações e colonizações de portugueses e espanhóis. Assim, verifica-se que por séculos os europeus evitaram a “mistura” com os outros povos, os denegrindo e os depreciando, e sempre mantendo seus próprios valores culturais intactos, de modo que essa vinda dos imigrantes da África subsaariana, Síria, Kosovo, só fazem com que seja posta em insegurança essa enraizada ideia de que a cultura europeia é intocável – o que, por ora, provoca respostas por setores dessa sociedade bem violentas, seja pelo levante de grupos neofascistas, neonazistas, nos parlamentos de diversos países europeus, seja pelo preconceito institucionalizado, pouco perceptível, para com os imigrantes e os diferentes na sociedade europeia.
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