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Politica Cambial

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Por:   •  4/4/2014  •  1.194 Palavras (5 Páginas)  •  323 Visualizações

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No Brasil, muitos economistas sustentam que a política cambial seria um importante instrumento de promoção do desenvolvimento pois permitira às empresas nacionais competir com outras do resto do mundo, estimulando-as a adotar tecnologias de ponta. A suposta sobrevalorização da taxa de câmbio enfrentada no momento teria, segundo essa visão, efeitos de longo prazo nefastos sobre a economia. A principal ameaça seria a desindustrialização - muitas vezes descrita como um retorno à economia agrária - que acabaria por reduzir o ritmo de crescimento da economia brasileira. Note-se que o argumento apresenta desenvolvimento da indústria e desenvolvimento do país como se fossem a mesma coisa.

Segue-se desse raciocínio que, para se desenvolver, o Brasil precisaria reverter a tendência à sobrevalorização da taxa de câmbio. Supostamente, essa estratégia teria sido a adotada pelos países emergentes que mais rapidamente crescem. A tendência à sobrevalorização resultaria tanto da doença holandesa - entrada de divisas devido às exportações de commodities - como do fluxo de investimentos externos causados pelas altas taxas de juros e retorno do capital superior ao observado no resto do mundo.

Embora a tese do vínculo entre desenvolvimento de longo prazo e câmbio desvalorizado conte com muitos adeptos, ela não tem sustentação empírica. Ao contrário, na extensa literatura do campo de crescimento, evidências nessa direção são exceções e não se sustentam ante os mais básicos testes estatísticos e perturbações nos modelos utilizados para estimá-las.

Não por acaso, a profissão vem dando escassa atenção ao tópico fora do Brasil. Por exemplo, em todos os 28 capítulos e cerca de 1.800 páginas dos dois volumes do HandBook of Economic Growth - o mais importante resumo do estado da arte no campo - não há nenhum capítulo dedicado à política cambial, uma indicação de que o consenso é de sua pouca importância na determinação do crescimento. Nas poucas páginas dedicadas ao tópico, em um artigo do economista Willian Easterly da Universidade de Nova York, o autor não encontra relação robusta entre valorização/desvalorização cambial e crescimento econômico. Esse artigo é uma resenha sobre políticas públicas e crescimento econômico, utilizando uma extensa base com dados de inúmeros países e cobrindo muitos anos, bem como diferentes metodologias econométricas. Na maioria das regressões, o impacto do câmbio sobre o crescimento não é significativo e, nas poucas regressões em que o é, a associação entre as duas variáveis depende em grande medida de valores extremos, desaparecendo quando são retirados da amostra.

O artigo de Easterly não é o único nem o primeiro a chegar a essa conclusão. O mesmo autor, em outro trabalho de 2002 com Ross Levine, buscou identificar a importância relativa das instituições, da política econômica, bem como da geografia para o desenvolvimento de longo prazo. O principal resultado é que, quando se incluem nos testes empíricos variáveis representativas do impacto das instituições sobre a economia, não se encontra qualquer evidência de que a política cambial afete o desenvolvimento econômico. Isso sugere que aqueles poucos estudos que encontraram relação entre desenvolvimento de longo prazo e desvalorização cambial não se sustentam em um modelo mais geral que inclua variáveis representativas de garantias de contrato ou de limites ao poder do Executivo, por exemplo.

Outros estudos clássicos que investigam de forma mais geral a robustez de regressões de crescimento também não indicam relevância do câmbio. Dessa forma, pode-se sumarizar os resultados dizendo que a evidência de relação entre crescimento e taxa de câmbio é nula ou muito fraca, além de certamente pouco robusta.

Ainda assim, poder-se-ia afirmar que o impacto da desvalorização cambial sobre a produção manufatureira, por ser real no curto prazo, teria efeitos mais sutis e de longo prazo difíceis de captar com os usuais testes econométricos. Entretanto, um olhar casual sobre o crescimento industrial brasileiro (antes da atual crise econômica) revela que, em um período no qual o câmbio se valorizou intensamente (2002-2008), não há qualquer evidência de desindustrialização ou de especialização em setores de baixa tecnologia.

Utilizando-se uma série de câmbio real que leva em conta uma cesta de moedas disponível no IPEADATA, verifica-se que, entre 2002 e agosto de 2008, o Real valorizou-se cerca de um terço em relação ao valor inicial da série. No mesmo período, segundo os dados do PIB trimestral calculado pelo IBGE, o setor industrial cresceu 33% e, conforme a PIM/IBGE, a produção da indústria

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