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O mundo é muito complexo.
Você já deu uma olhada no nosso mapa mundi?
Tem lá todos os continentes e as divisões territoriais que delimitam os Estados.
Mas estas fronteiras são apenas linhas imaginárias, não sendo algo físico, e de alguma forma elas foram decididas e um território foi delimitado.
Seja por meio de colonização ou guerras.
Mas o que garante a existência destes Estados?
O que garante que não vai chegar um zé ruela e falar “este lugar agora é meu” dentro do nosso território?
Bom, assim como nossa sociedade é um sistema, existe também um Sistema Internacional, o sistema que abrange as nações.
Quer saber mais sobre isso?
Fica ligado aí!!
(VINHETA)
O Sistema Internacional na realidade não existe fisicamente.
Ele é um conceito abstrato e teórico feito para tentar entender as causas e consequências dos acontecimentos ao longo da história.
E o Sistema Internacional em que vive o mundo atualmente é um sistema anárquico.
Ou seja, não existe um Governo Mundial, cada nação é soberana em seu território.
Até existem algumas organizações para consenso entre os Estados, uma vez que também não dá pra sair metendo o louco aonde quiser pois o mundo seria um caos.
Mas estas organizações não mandam nos países, são apenas uma maneira de botar um pouco de ordem no negócio.
No sistema anárquico os Estados soberanos estabelecem entre si relações de cooperação devido a inexistência de um órgão hierárquico superior.
Segundo o teórico Raymond Aron, o sistema internacional é um “conjunto constituído pelas unidades políticas que mantém relações regulares entre si e que são suscetíveis a entrar em uma guerra geral”.
Ou seja, a anarquia do sistema torna ele instável.
Nunca sabemos quando algum sem noção pode começar uma guerra.
E em um sistema anárquico prevalece a política do Poder.
Ou seja, o Poder é metaforicamente a força do Estado no sistema internacional.
Mas o que é o Poder?
É essencialmente a capacidade do Estado de impor seus desejos e visão de mundo aos demais.
Já houveram diferentes formas de distribuição no poder do mundo, como por exemplo a época do Concerto Europeu, quando varias nações europeias eram manda-chuva absolutas do mundo.
Nesta época havia uma distribuição que chamamos de multipolar, uma vez que várias nações diferentes tinham grande poder e entravam em conflito.
Ou também é um bom exemplo o caso da Guerra Fria, quando a a distribuição de Poder ocorria de forma bipolar.
Isso porque haviam duas grandes nações com duas grandes ideologias se enfrentando no globo: a dos EUA e a da URSS.
Ou os dias de hoje, em que a distribuição de poder pode ser considerada unipolarizada, uma vez que depois da Guerra Fria veio a hegemonia norte-americana.
Bom, mas o que garante que os Estados não vão transgredir algumas regras impostas pelo sistema?
Afinal, não tem ninguém pra deixar um país de castigo, né.
Acontece que principalmente ao longo do século XX o Direito Internacional evoluiu muito devido à interdependência entre os estados e do processo de globalização, além também dos diversos acordos e tratados feitos ao longo da história.
Ou seja, eu não vou te ferrar porque preciso de algo que você tem e vice-versa.
Então é mais inteligente ser seu amigo que seu inimigo.
Com isso rolou uma aceitação voluntária entre os Estados por medo de punição vinda a partir dos outros.
Certo, mas como nasceu este conceito de Sistema Internacional?
Bom, pelo que se lembra sua introdução veio no ano de 1648 com o Tratado de Westphalia, aonde definia que os Estados deveriam buscar e agir por seus próprios interesses.
O conceito, claro, foi evoluindo ao longo dos anos e sendo aprimorado, com fatores como o Iluminismo e as Guerras Napoleônicas seguidas do Congresso de Viena, em 1815, que buscou preservar o equilíbrio de forças.
Depois, com a Primeira Guerra Mundial, veio o fim dos grandes impérios com a dissolução do Império Otomano e do Império Austro-Húngaro.
Após isso foi criada a Liga das Nações para mediar os conflitos e interesses entre os Estados, o que até foi uma iniciativa ok mas encontrou seu fim com a Segunda Guerra Mundial.
E após a Segunda Guerra Mundial tivemos a enorme bipolaridade de poder entre EUA e URSS durante a Guerra Fria, que resultou na criação da Organização das Nações Unidas, a ONU, e em seu Conselho de Segurança.
Neste Conselho de Segurança nasceu o reconhecimento pela soberania de cada Estado.
Ou seja, um Estado só pode ser considerado soberano internacionalmente com o reconhecimento dos demais países.
Porém este não é um fator determinante definitivo, afinal o Conselho de Segurança é mais uma ferramenta de mediação que de imposição.
Veja como exemplo o caso da anexação da Crimeia pela Rússia, que a comunidade internacional se recusa a reconhecer, embora no território já é considerado uma parte da Rússia e ponto final.
Temos uma série de vídeos sobre o assunto que podem ser muito interessante para você que está assistindo este.
Bom, podemos classificar os países de acordo com seu poder e influência ao redor do mundo.
Os conceitos para classificar são: superpotência, grande potência ou potência regional.
Vamos começar pela superpotência.
Hoje em dia existe apenas uma nação considerada superpotência.
Quem serááá?? Claramente a Murica.
Outrora a URSS foi também uma superpotência, depois de perder a Guerra Fria os EUA seguiram sendo a única superpotência no globo.
Mas o que define um país como superpotência?
Um país é uma superpotência quando tem a capacidade de influenciar em qualquer evento no mundo.
Ou seja, mesmo que o local do conflito seja do outro lado do globo, a superpotência tem poder de meter o bedelho nos paranauês.
Um exemplo claro disso é a atuação dos Estados Unidos na Síria nos conflitos recentes, uma vez que a Síria está localizada no Oriente Médio enquanto os EUA ficam na América.
Abaixo da superpotência vem a Grande Potência, que é aquela capaz de exercer certa influência sobre a diplomacia mundial.
Não confunda com as superpotência, que tem poder de atuação em quaisquer conflitos ao redor do globo de forma simultânea.
A Grande Potência possui poder para influenciar em conflitos ao redor do mundo, mas não em tantos e com tanta intensidade.
São exemplos de Grandes Potências a China, a Rússia, a Alemanha, a França, o Reino Unido e o Japão.
E abaixo das Grandes Potências temos as Potências Regionais, que são os Estados capazes de influenciar em eventos que ocorrem em sua região geográfica.
É o caso do Brasil, uma vez que podemos exercer grande influência em qualquer treta rolando na América do Sul, mas jamais em algo ocorrendo nas Coreias.
São outros exemplos de Potência Regional a índia, Austrália, México.
Antigamente o Poder se resumia à vertente militar do negócio, desconsiderando outros fatores.
Ou seja, se o Estado possuía um exército supra-sumo o suficiente ele podia vir meter o juliano no seu território.
Hoje em dia as relações de poder são mais complexas.
E para explicar essas relações vou utilizar a teoria do Xadrez Tridimensional, de Joseph Nye.
Esta teoria diz que o travam-se três batalhas simultâneas por poder, como se fossem três jogos de xadrez jogados simultaneamente.
E nesses jogos são disputados tanto o Hard Power, quanto o Soft Power.
Mas, claro, eu não expliquei ainda o que é isso, então vamos lá!
O Hard Power é o poder exercido por meio da força, da imposição, da treta.
Já o Soft Power é o poder exercido por influência ao outro por meios culturais ou ideológicos.
Enquanto o primeiro se baseia na coerção, o segundo tem base na sedução.
Bom, imagina um tabuleiro de xadrez de três camadas.
Na Camada Superior, é disputado o Hard Power MILITAR.
Ou seja, é disputado o poder bélico dos países, o poder de fazer KABUM deles.
Antes da Segunda Guerra Mundial, esse poder era baseado no tamanho e estrutura do exército.
Mas após isso entrou um fator completamente decisivo na definição de poder bélico: as ogivas nucleares, que são bem apelonas.
As ogivas nucleares são mais uma arma de blefe que uma arma de ataque.
Apenas dois casos foram registrados na história do uso de ogivas nucleares contra civis: os casos de Hiroshima e Nagasaki.
Mas em um geral, as ogivas nucleares são um recurso de ameaça, e não de ataque, visto que o uso de um ataque nuclear em um território pode gerar um ataque de reação em seu território e assim todos saem perdendo.
Apenas 9 Estados possuem capacidade para produção de armas nucleares: Estados Unidos, Russia, China, França, Reino Unido, Índia, Paquistão, Israel e Coreia do Norte.
Dessas, as 5 primeiras são membros do Conselho de Segurança, logo não representam uma ameaça direta à estabilidade.
Os demais quatro países possuem uma quantidade insignificante de ogivas nucleares para serem considerados jogadores da Camada Superior.
Dos 5 países, apenas os EUA e a Rússia tem ogivas o suficiente para serem considerados jogadores da Camada Superior, mas devido ao fato de os avanços tecnológicos e estruturais dos EUA serem astronomicamente superiores, o país é considerado o ÚNICO jogador da camada.
Ou seja, o Hard Power militar é completamente dominado pelos EUA.
Há diversas formas de demonstrar o poder militar, não apenas com guerras, como é o caso de intervenções ou até de desfiles militares.
Em segundo lugar vem a Camada Intermediária, aonde atua-se o Hard Power econômico.
Este poder é exercido por meio de sanções, embargos, suspensão de subsídio, etc.
Mas engana-se quem pensa que a quantidade de dinheiro que o país tem é o fator decisivo nesta camada.
Afinal, não basta ter dinheiro se não souber usá-lo.
O fator decisivo nesta camada é a capacidade de articular o valor bruto financeiro do Estado em investimentos que serão beneficentes para o mesmo.
Nesta camada os EUA tem um belo destaque, mas não é o único jogador.
Estados como China, Japão e nações europeias são aqueles que disputam a Camada Intermediária com os EUA.
E por último vem a Camada Inferior, que é a camada aonde atua o Soft Power, o chamado “poder sobre opinião”.
O Soft Power é um poder que pode ser exercido não apenas por Estados, mas por quaisquer organizações, como algumas ONGs.
Neste quesito não explora-se a coerção, e sim a sedução, o convencimento.
Utiliza-se de ideais atraentes para o mundo, como democracia, liberdade, paz, sustentabilidade, para prevalecer sua opinião em detrimento das demais.
Como disse Nye: “Se eu conseguir leva-lo a querer fazer o que eu quero, não precisarei obriga-lo a fazer o que você não quer.”
Um exemplo claro disso vem, mais uma vez, dos Estados Unidos, que também domina largamente esta camada do xadrez tridimensional.
Afinal, vivemos no Brasil e nossas crianças crescem assistindo a filmes de super-heróis norte-americanos que salvam Nova York de diversos vilões.
A indústria cultural é um fortíssimo determinante de Soft Power, aonde por meio de obras espalham-se exatamente os valores que o Estado quer que espalhe-se, e os demais Estados acabam involuntariamente seguindo estes valores.
Bom, citar esta teoria foi importante pra mostrar que, ao contrário do que acontecia anteriormente, o poder bélico não é mais o único fator determinante do poder de um Estado.
Afinal, hoje se uma nação possuir apenas poder militar ela não será bem sucedida, pois tem poder apenas unidimensional.
Ao mesmo tempo que um Estado que se torna um jogador tridimensional e se destaca nos três níveis gradualmente acaba com o equilíbrio entre as demais nações, perpetuando-se como hegemônico, e torna-se muito difícil de ser alcançado.
É o caso dos Estados Unidos.
Mas é importante citar que essa supremacia em todos os campos do sistema faz o Estado despertar a frustração em outros povos, que acabam tornando o Estado hegemônico um alvo de ameaças.
(END CARD)
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