A Consolidação do Sistema Urbana
Por: Suzileide • 16/2/2017 • Projeto de pesquisa • 1.902 Palavras (8 Páginas) • 442 Visualizações
Deuteronômio -- Comentário e exegese, do texto -12,13-31. Sacrifício
Sobre o livro
Ao começarmos ler o livro do deuteronômio, percebemos logo que estamos diante de um texto resultado de um longo processo redacional. A complexidade dos temas tratados, na variação de estilo, as repetições, diferenças de cenários, a mudança de pronomes (“vós” 1,6-5,5; “ tu” 5,6-21) nos indicam que este livro formou-se aos poucos. Segundo estudos mais recentes, o processo de redação do Deuteronômio durou cerca de 350 anos; de Jeroboão II até a reforma de Esdras (750aC a 400 aC).
Quem escreveu o livro do Deuteronômio, onde e quando? O livro passou por um longo processo de crescimento e, provavelmente, sua evolução foi de dentro para fora. Portanto, não tem um autor único, mas vários autores ou grupos sociais, com interesses, situações, locais e momentos históricos diferentes. Não é possível precisar cada momento desse processo.
Consolidação do sistema urbana
Com certeza as leis contidas no Deuteronômio foram reelaboradas em função da reforma da corte, em vista de consolidar a política do sistema urbano. Portanto, a macro estrutura do estado pode ser uma porta de entrada para a compreensão do deuteronômio.
Contexto social
O estado transforma o relacionamento tribal e familiar em relacionamento formal, rei-súdito (Dt 17,15).
A classe de escribas especialistas em sabedoria e grandes conhecedores das leis da corte do Oriente Próximo Antigo. Eles formam um grupo desde o tempo do rei Ezequias, e começam a redigir a historia de Israel, na perspectiva da corte. “Dentro deste conjunto de escritos, elaboram a primeira “edição do Deuteronômio”, que significativamente tem sua” última edição com os escribas do tempo de Neemias e Esdra ( Dt 1,15). O legalismo aí presente perpassa toda a historia, até a época do cristianismo.
Contexto econômico
As festas são centralizadoras e usadas como elemento aglutinador do povo, é apropriada pelo estado para aumentar a arrecadação através das ofertas e do aumento do comercio (Dt 16,26), estabelece ainda, um sistema fiscal (dízimo) em função da arrecadação do estado (14,24-25).
Contexto político
A lei do rei. Em Dt 17,14-20 encontramos a lei do rei, a lei que não se encontra em nenhum outro texto do Pentateuco. O fato de aprovar a existência de um rei torna-se legitima a organização sociopolítica do estado.
A lei de guerra: constata em Dt 7,1-2(lei do anátema) e em Dt 20,10-20 a legitimação da “limpeza étnica” através da destruição de povos vizinhos, facilitando a ação militar de conquistas.
Lei de”segurança nacional”: O Texto apresenta leis que denotam repressão política (Dt 13,2-19; 17,2-7).
Contexto Ideológico e Religioso
Nacionalismo: a nação eleita tem a pretensão de ter um grande território, à semelhança do Reino Unido dos tempos de Davi e Salomão (Dt 11,24; 15,6). Povo eleito: a eleição faz do povo de Israel um povo santo e separado (Dt 7,6), propriedade exclusiva do senhor seu Deus. Esta eleição gratuita por parte de Iahweh deve ser correspondida pela fidelidade do povo, excluindo de seu meio deuses e cultos estrangeiros (Dt 7,5). Este espírito nacionalista, acresentado com a mentalidade da raça eleita, criou restrição para os estrangeiros: deles se podia cobrar juros (Dt, 23,21), eles não tinha o amparo do perdão das dívidas previstas na lei do ano sabático, ou seja eles astavam expostos à exploração da escravidão (Dt 15,1-3); não se podia nomear um rei estrangeiro Dt 17,15c).
Em suma, podemos dizer que ao estrangeiro era vedado o direito de gozar da lei do povo de Deus. O ápice da teologia da “raça eleita” encontramos na lei do puro e impuro do tempo de Esdra (Esd 9-10). Iahweh, Deus único; a unicidade do Deus é o principal “dogma” do Deuteronômio, proclamado desde o inicio (Dt 6,4). O sistema urbano se apropria da imagem de Iahweh para combater o sincretismo religioso, as praticas dele decorrentes, e dar unidade nacional a Israel. Os reformistas propõem–se, a acabar com as diferentes manifestações religiosas, muito comum na vida do povo do interior. Nesse contexto, eles ligam a deusa Aserá a Baal, como meio de extingui-la do culto. O objetivo desse posicionamento é reforçar a autoridade real (2Rs 23,4-7).
Iahweh baalizado: as características de Baal como deus que controla as chuvas, fecunda a terra, agora são incorporadas por Iahweh (Dt 11,10-17).
Iahweh, único rei; os escribas reelaboram o Javismo nos esquemas do Oriente Proximo Antigo onde o rei exigia fidelidade e obediência por parte dos súditos (Dt 17,2-7). A exigência de fidelidade a Iahweh chega ao ponto de fazer dos pais delatores dos próprios filhos(21.18-21).
Iahweh ciumento e vingativo (Dt 6,14-19; 28,15-46); os reformistas os reformistas apresentam um rosto de Deus que contrasta com a imagem de Deus Pai-mãe. É um Deus violento, sem misericórdia, que manda matar até irmão, filho, filha mulher, amigo, se estes tentarem seduzir alguém a seguir outros deuses(Dt 13; 19).
Esse rosto de Deus se opõe a experiência do Deus da vida que encontramos nos grupos proféticos de Oseias, segundo Isaias e outros.
Experiência do exílio e pós-exílio
Com o exílio o povo de Israel fez uma das experiências mais duras de sua história. Destruição de todos os símbolos que lhe sustentavam a identidade: terra, templo, culto, etc. Nesse contexto, para explicar a destruição e mostrar as possibilidades da saída, os redatores reescreveram a história. Essa redação é marcada pela teologia oficial, desenvolvida por Ezequiel e seu grupo. Os elementos fundamentais dessa teologia são; templo (Dt 31,11), terra (Dt 4,38,30,16), raça eleita ( Dt 4,37; 29, 13), lei do puro e impuro ( Dt 7, 1-16), teologia da retribuição (Dt 7,9-11) Todos esses elementos são retomados e reforçados na última edição da história, no pós-exílio, pelo grupo de escribas de Esdras para dar respaldo à teocracia dirigida por sacerdotes e levitas. A observância da lei (Dt 31; 32,45-47) ganha relevo no período de Neemias e Esdras e aqueles que o serviam a pérsia: “ todo o que não observar a lei de Deus – que é lei do rei – será castigado rigorosamente, com a morte ou desterro, com multa ou prisão” (Esd 7,26).
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