A ESPIRITUALIDADE LITÚRGICA E CULTO COM A VIDA
Por: gilbertomaia • 11/8/2020 • Ensaio • 1.012 Palavras (5 Páginas) • 237 Visualizações
ESPIRITUALIDADE LITÚRGICA E CULTO COM A VIDA (Junho/2016)
Uma vez mais voltamos ao poço de Sicar para encontrar Jesus e a samaritana numa conversa aberta e celebrante sobre a vida. Na reflexão que iniciaremos agora, vamos considerar a espiritualidade litúrgica na perspectiva do culto divino que, de acordo com Jesus, deverá ser feito em espírito e verdade.
É comum encontrar cristãos que consideram a liturgia como o único culto que prestamos a Deus. Muitos, devido ao fraco conhecimento religioso e, por extensão, deficiente formação litúrgica, confundem as celebrações litúrgicas com manifestações isoladas de culto que se presta a Deus. Não podemos esquecer que a liturgia é o maior e o mais excelente culto que prestamos a Deus, como diz a Sacrosanctum Concilium, n°7. Assim sendo, ela uma vez mais é fonte onde os cristãos bebem a espiritualidade cristã para que transformem a vida num culto de adoradores a Deus pela vida diária.
Inspirando-se no texto bíblico
Na conversa com a samaritana, Jesus explica à mulher que Deus procura adoradores em espírito e verdade, pois "Deus é espírito e, importa que os que o adoram o adorem em espírito e verdade" (Jo 4,24).
A maior parte dos exegetas concorda que a expressão "em espírito e verdade" significa um culto de adoração feito no Espírito Santo, isto é, pela ação do Espírito Santo e na verdade (sinceridade) de uma vida coerente com os mandamentos divinos. O verdadeiro culto a Deus, portanto, é guiado pelo Espírito Santo em nós e manifesta-se pela coerência de vida pautada no evangelho.
Sendo assim, o culto de adorações que o homem e a mulher presta a Deus não se realiza somente por uma ritualidade ou porque feito em lugares sagrados, como aconteceu no caso da samaritana que citava a montanha como local ideal para prestar culto ao Pai (Jo 4,20). Jesus explica que o culto de adoração a Deus acontece na vida da pessoa. O verdadeiro culto de adoração não consiste em uma forma ritual, um modo de se colocar diante de Deus, nem mesmo em estar neste ou naquele local, mas em viver uma realidade espiritual, que está em harmonia com a natureza divina, que é Espírito. Em síntese: o culto que prestamos a Deus acontece na vida concreta de cada um.
Liturgia, fonte do culto ao Pai
Uma vez que nossa reflexão situa-se junto ao poço se Sicar, a liturgia volta a ser recordada como fonte do culto que acontece na e pela vida dos celebrantes. A liturgia, deste modo, é promotora de uma espiritualidade que transforma a vida pessoal dos celebrantes num culto de adoração a Deus.
Cada vez que celebram a liturgia, os celebrantes comungam Jesus Cristo e o Espírito Santo que age em todos os momentos litúrgicos. Meu professor de Liturgia Oriental, Daniel Gelsi, ensinava que o Espírito Santo age na liturgia como um "corifeu": aquele que leva os celebrantes ora a louvar, ora a compreender as escrituras, ora a suplicar... Pois bem, o mesmo Espírito que continua a agir na vida dos celebrantes, qual "corifeu", levando-os a prestar um culto a Deus através da vida concreta. Nas atividades da vida, vivendo coerentemente o evangelho, a liturgia alimenta a vida espiritual de cada celebrante e leva-o a fazer da vida uma oferta agradável a Deus.
São Paulo nos ajuda a compreender ainda mais esta dimensão na carta que escreveu aos romanos: "Irmãos, pela misericórdia de Deus, peço que vocês ofereçam os próprios corpos (as próprias vidas) como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus. Esse é o culto autêntico de vocês" (Rm12,1). E, numa outra carta, dessa vez, escrita aos efésios, Paulo recomenda uma espiritualidade que se adeque à vida nova em Cristo: "É preciso que vocês se renovem pela transformação espiritual da mente" (Ef 4,23).
Os dois textos (e há outros) nos fazem compreender a função pedagógica da liturgia na formação espiritual do cristão. Formação esta que consiste em fazer com que os celebrantes tenham uma espiritualidade de acordo com o projeto do evangelho, isto é, que vivam na verdade, inspirados pelo Espírito Santo e de acordo com os valores do Reino de Deus.
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