O Cético e o Religioso
Por: Pedro Nascimento • 26/10/2018 • Ensaio • 1.353 Palavras (6 Páginas) • 133 Visualizações
O cético e o religioso baseiam-se na certeza.Nunca imaginei que faria algo desse tipo, mas o que eu poderia fazer? Olhava minhas mãos, calejadas, tanto esforço para evitar o trabalho brasal e aqui estavam elas, enchadas, doloridas e vermelhas; sentia vergonha da sujeira nas minhas mãos e dos cascos que um dia foram unhas, tantos anos, tantas paginas, sempre soube que o meu estudo e o meu zelo me levariam a lugares em que nunca imaginei estar, mas confesso, não esperava por estar aqui, neste lugar que nem sei onde fica nem se vou sair. Ergo meus olhos e vejo os rostos dos meus colegas de cela, desfigurados e humilhados, ao meu lado estavam pais e filhos separados de suas esposas e mães, haviam intelectuais, pessoas concientes e fieis, todos estamos aqui pelo mesmo motivo. É incrivel a forma como me olham, como dirigem-se a mim mesmo nestas condiçoes deploraveis, nas biografias que li todos os autores tecem palavras belíssimas sobre os grandes sinais dos Santos da Igreja, mas nem o escritor mais fiel que escrevera tão profundamente sobre o extase espiritual conseguiu chegar aos pés de descrever o milagre que eu presenciava quando os pricioneiros me reconheciam. Atreve-mo a referir-se como que uma transfiguração. Por mais torturado que fosse o filho ao ver o pai, já de idade, padecer nesta cela, por mais esperança que o pai não tivesse mas demonstrasse ao filho, por mais dulvidas, inseguranças e medo que todos eles sentissem, buscavam em mim suas forças e eu sofria com eles. Sofria por não saber como ajudar, por não saber se iriamos mesmo sair dali vivos, por não ter certeza de mais nada e sofria ainda mais por tambem estar com medo. Prcisava fazer alguma coisa, lembrei do meu irmão se ele estivesse aqui por certo já teria armado um revolta e conduzido todos a uma grande libertação, ele certamente se sairia melhor aqui do eu, mas foi vontade de Deus e escolha minha estar aqui, eu preciso fazer alguma coisa, mas farei do meu jeito. Diante de mim não tenho revolucionarios nem guerrilheiros, e mesmo se tivesse, não os colocaria em sacrifio mesmo se quisessem, alguem já se deu em sacrificio por nós. Essa era minha resposta.
Em meu corpo apenas um trapo preto, em minhas mãos um pedaço de pão roubado do refeitorio, e debaixo do meu traveseiro um vidro de azeite, adquirido de forma suspeita, que fermentava suco de uva. A meia noite a cela era iluminada apenas pela luz da lua que vencia o breu das grades de uma janela no alto da sala, acordei gentilmente os meus colegas, o mais silenciosamente que pude, e os indiquei a cama desocupada do canto, logo a baixo da entrada de ar e luz, nela coloquei um lençol branco, fiz uma cruz com uma das tabuas finas que seguravam o colchão e pus sobre o lençol o pedaço de pão e ao lado o vidrinho com o suco fermentado, rasguei uma tira fina da toalha branca que nos deram para tomar banho e a coloquei sobre os ombros, Deus! Não sabia que dia era, não sabia em que tempo litugico estavamos e não tinha um missal romano, a única missa que sabia de côr era a primeira que tinha celebrado, missa votiva de Nossa Senhora com suas leituras proprias. Eu que celebrei com Cardeais, em altares de marmore com castiçais de prata e ambulas folhadas, com paramentos antigos e belos, tudo Ad majore Dei gloriam, estava aqui com outros presos, apenas por sermos catolicos. Iniciei o rito pedindo perdão a Deus por traze-lo ao mundo naquelas condiçoes, não havia renda, não havia incenso, não havia se quer um calice. Precisava celebrar não só por eles mas tambem por mim, essa era a causa da minha vida, não a derrubada de um partido, mas a Eucaristia, a única coisa que poderia fazer era alimntar a fé dos meus filhos, pois sou padre e é meu dever mostar a eles que ainda há esperança. A cada oração proferida, a cada versiculo recitado e proclamado eu via resurgir cada vez mais forte o amor que tomava conta do meu peito. Na oração eucaristica eu consagrei um pedaço de pão no Corpo do meu Senhor e o pousei sobre uma flanela e quando fui transubstanciar o suco fermentado o derramei em uma caneca, que para minha surpresa, estava vazando, para não perder mais das poucas gotas de suco que restavam as coloquei na minha mão e nela consagrei o Sangue do meu Senhor. Eu chorava por não poder dar mais dignidade a Aquele que deu tudo por mim, mas eu precisava dar aguma coisa para os outros prisioneiros e tudo o que me restava era Ele. Na Doxologia eu ergui minhas mão aos céus olhei para a luz fraca e palida e disse: “Por Cristo, com Cristo e em Cristo, a Vós Deus Pai todo poderoso, toda honra
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