Os Elementos Gerais de Teologia
Por: adrianosv.bh • 19/4/2022 • Resenha • 3.081 Palavras (13 Páginas) • 163 Visualizações
I - ELEMENTOS GERAIS DE TEOLOGIA MORAL
Prof. Pe. Dejair Roberto de Rossi
Introdução
A cada dia que passa fica cada vez mais difícil falar em moral e em teologia moral. Pois, ao lado de muitas perspectivas e horizontes que se abrem, colocam-se também inúmeros desafios e impasses provenientes das novas posturas culturais como o relativismo, o pluralismo, o subjetivismo, o indiferentismo que desafiam a reflexão moral. A insegurança que daí decorre nos obriga a sopesar com cuidado as inúmeras questões que se levantam, numa tentativa de, sem nos fecharmos ao futuro, estar abertos ao passado.
De acordo com os estudiosos, estamos vivendo não apenas profundas e grandes mudanças em nossa sociedade, mas uma mudança de época, isto é, uma transformação de paradigma. Esta mudança provoca em nós a sensação de vazio, de ausência de sentido e de normas, de incertezas e de crise. Sentimo-nos como um barquinho à deriva, no meio do oceano, sacudido pelas ondas, sem rumo e sem direção. Sentimo-nos desamparados, dispersos, sem referenciais, sem consenso, com dificuldades de captar o sentido da vida e chegar à verdade.
Nesta situação a consciência ética fica desorientada, mergulhada numa crise em torno da verdade. O pensar e o agir hoje partem do próprio indivíduo, produzindo deslizes individualistas comprometedores. Há uma perda de referenciais e de consenso. Rompeu-se a unidade de raiz e já não caminhamos todos na mesma direção. Substituímos a uniformidade e a unanimidade por uma sociedade plural e policêntrica. Sentimo-nos dispersos, sem rumo, com dificuldades de captar o sentido da vida e chegar à verdade. A vida pessoal e social fica cheia de dificuldades, às vezes até comprometida em seu equilíbrio. Vivemos uma crise de paradigmas.
Por isso, faz-se necessário acionar a capacidade ética e teológica, enquanto capacidade de discernimento, de examinar tudo, mas ficar com o que é bom, como diz São Paulo (1Ts 5,21). Se assim for o humano sentir-se-á respaldado, caminhando mais seguro neste momento da história, de convivência para uma vida melhor. Elas nos ajudam a recuperar a nossa capacidade de saber cuidar da vida, organizá-la pessoal e socialmente, sem perder de vista o seu valor, a sua dignidade, alicerçando-a em valores em favor da vida de cada ser humano e que se estendem ao cuidado da natureza e incluem necessariamente a abertura para Deus.
Antes, porém, de começarmos a abordar as questões concernentes à TM, faz-se necessário acenarmos para a sua origem, para a tarefa que lhe compete, para o seu relacionamento com os outros setores da teologia e com as ciências humanas a fim de apontarmos os seus fundamentos e a sua principal razão de ser.
1. A Incumbência da TM:
A TM, enquanto ciência, possui atrás de si uma longa história. Embora como teologia encontre o seu berço na S.E., enquanto ciência dos costumes ela está mergulhada na noite dos tempos. Todos os povos da Antiguidade instituíram códigos morais, princípios e valores, pelos quais pautaram as suas condutas e alimentaram as suas vidas. Contudo, nenhum povo da Antiguidade conseguiu, como o povo grego, articular melhor o seu patrimônio moral.
Antes de falarmos das incumbências e tarefas da T.M., convém mostrar a etimologia e o sentido primeiro da T.M.
1.1. O que a Moral
A palavra Moral vem do latim Mos, Mores, que significa Costume(s). Os gregos preferiam a palavra Ética. De fato, a palavra ética é mais rica do que o termo Moral e remete para o Ethos, que designa tanto o vigor que mantém e alimenta a identidade profunda de um povo, como a identidade e o caráter profundos das pessoas.
Embora o termo ética seja mais reservado para a Filosofia e aos códigos específicos de comportamento, e se prefira a palavra moral para expressar a dimensão teológica, ambos, quando bem entendidos e articulados, se complementam porque ambos remetem para o humanum e se colocam ao serviço dele.
1.2. O que é aTeologia Moral?
Embora toda definição empobreça a riqueza de uma realidade por causa de suas limitações intrínsecas, uma definição inicial pode nos ajudar a captar o sentido mais profundo desta mesma realidade. Assim, podemos definir a TM como sendo AQUELA PARTE DA TEOLOGIA, QUE, À LUZ DA REVELAÇÃO E DA FÉ VIVIDA NA COMUNIDADE ECLESIAL, BUSCA VIABILIZAR O CAMINHO DE HUMANIZAÇÃO PLENA DAS PESSOAS E DA SOCIEDADE, NO CAMINHO DE JESUS CRISTO E DO SEU REINO.
Como acabamos de afirmar acima, nenhuma definição é completa. Entretanto, a definição que acabamos de apresentar oferece-nos uma ideia das pilastras da TM. Ei-las:
a) Ela faz parte da Teologia, isto é, está e deve estar estreitamente vinculada aos vários aspectos da Teologia, como a Eclesiologia, a Cristologia, a Exegese, a Pastoral, a História, a Liturgia, etc. No passado, infelizmente, desvinculada dos demais setores da teologia, a TM transformou-se no braço forte do Direito Canônico, totalmente vinculada ao aspecto jurídico.
b) A TM se coloca numa perspectiva da Revelação: diferentemente da ética que se coloca mais numa perspectiva filosófica, a TM está vinculada à Revelação, revelação entendida não de maneira estática, mas dinâmica, isto é, que vai assumindo novos coloridos de acordo com a comunidade de fé.
c) O objetivo da TM, o que ela visa não é simplesmente a integração psicológica, mas a integração total das pessoas quanto da sociedade. Por isso, se insiste no aspecto comunitário e social da TM.
e) Finalmente, Cristo é a norma máxima da TM, que como o homem perfeito, revela-nos qual a nossa postura diante da vida e dos acontecimentos. E não apenas a sua doutrina.
f) A TM é constituída de vários setores: o fundamental, o das virtudes, o da vida e da pessoa, o da sociedade, o da sexualidade e matrimônio, o do pecado e reconciliação. Nós nos situamos, nessas reflexões, no setor da Moral Fundamental, ou seja, buscamos desvendar o que seja a TM e detectar as suas diretrizes básicas, diretrizes essas que irão repercutir em todos os demais setores.
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