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A Arte de falar para Adolescentes

Por:   •  1/9/2021  •  Resenha  •  2.064 Palavras (9 Páginas)  •  890 Visualizações

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                        A Arte de falar para Adolescentes

"A culpa é dos hormônios." Até há bem pouco tempo, a indisciplina e o comportamento emocionalmente instáveis dos adolescentes eram atribuídos à explosão hormonal típica da idade. Pesquisas recentes mostram, no entanto, que essa não é a única explicação para a agressividade, a rebeldia e a falta de interesse pelas aulas, que tanto preocupam pais e professores. Nessa fase, o cérebro também passa por um processo delicado, antes desconhecido: as conexões entre os neurônios se desfazem para que surjam novas. Simplificando: o cérebro se "desmonta", reorganiza as partes e em seguida se "monta" novamente, de forma definitiva para a vida adulta.

Entre 13 e 19 anos, é comum os jovens apresentarem reações e comportamentos que independem da vontade deles. Portanto, nem sempre palavras ditas de maneira agressiva ou arrogante são fruto da falta de educação. Para quem convive diariamente com turmas dessa faixa etária - que ora parecem estar no mundo da lua, ora com pane no sistema - e quer conquistá-las, a saída é agir de forma firme, mas respeitosa.

Não adianta bater de frente

A primeira "lição" para quem trabalha com adolescentes é não tomar para o lado pessoal qualquer tipo de afronta vinda de um aluno. Responder a uma provocação no mesmo tom só faz você perder o respeito e a admiração do grupo o que dificulta o trabalho em classe. Além disso, ao perceber que tirou o professor do sério, o jovem se sente vitorioso e estimulado a repetir a dose. "Educar não é um jogo em que se determina quem vence ou perde", afirma a psicopedagoga Maria Helena Barthollo do Centro de Estudos da Família, Adolescência e Infância no Rio de Janeiro. Ela sugere que a luta com a garotada dê lugar a parcerias. Os acordos incluem regras, direitos e limites que valem para todos, inclusive você.

O jovem, a partir dos 12 ou 13 anos, está passando por um período de instabilidade psicológica natural. De acordo com a psicopedagoga Nádia Bossa, professora da Universidade Santo Amaro, em São Paulo, nesse período ele revive conflitos típicos da infância. "Aos 2 ou 3 anos, quando a criança percebe sua fragilidade, grita, teima, testa os adultos. Quando a mãe, por exemplo, impõe um limite, ela tem a garantia de que está sendo cuidada", explica. O adolescente faz o mesmo. "Ele testa os limites dos adultos numa tentativa de estabelecer novos parâmetros de poder sobre sua realidade." Considerando a informação, fica mais fácil para você não interpretar reações intempestivas como uma agressão pessoal.

O professor de História Renato Mota Duarte da Escola Municipal de Ensino Fundamental e Médio Derville Allegretti, em São Paulo, já se deu conta de particularidades dessa fase. "Não grito quando os alunos ignoram que eu entrei na sala. Dou bom dia e começo a chamada em voz baixa. Aos poucos eles se acalmam." Mas quando o professor encontra a turma na maior briga? É hora de estabelecer a ordem e ouvir os motivos da discussão. "Não adianta fingir que nada aconteceu porque a cabeça deles está longe da matéria", observa o professor de Ciências e Biologia Jefferson Marcondes de Carvalho, do Colégio Madre Alix, também em São Paulo. Nessas situações, ele age como um intermediário, levando os estudantes a entrar em acordo, mantendo sempre o respeito.

Os alunos precisam ter voz

Os dois educadores apostam na qualidade do relacionamento com os alunos como um dos fatores determinantes para a aprendizagem. Carvalho organiza oficinas de malabarismo com a turma e Duarte incentivou a grafitagem, depois de encontrar a parede do corredor pichada. Dessa forma, os alunos dele perceberam que tinham liberdade de pedir o que desejavam. "A escola tem que acolher as sugestões dos estudantes, analisá-las e ver se são viáveis. Assim, eles se sentem considerados e respeitados", explica Nádia Bossa.

Na escola de Duarte, a cada 15 dias os intervalos têm tempo dobrado, porque os estudantes fazem apresentações musicais para os colegas. O professor também trabalha a interação e o respeito entre os jovens, debatendo assuntos que tanto os inquietam, como sexualidade, drogas, violência e desemprego. Ele costuma atender cada um de seus alunos em particular. "Procuro saber como eles estão se sentindo, os problemas pelos quais estão passando e como é o relacionamento com a família. Deixo que fiquem à vontade para falar." Confiança e consideração: o professor Renato Duarte, da Escola Derville Allegretti, atende em particular cada um dos alunos, que confidenciam a ele angústias e inseguranças. (Crédito: Foto: Gustavo Lourenção)

O interesse facilita a aprendizagem

Confiança e consideração: o professor Renato Duarte, da Escola Derville Allegretti, atende em particular cada um dos alunos, que confidenciam a ele angústias e inseguranças

Se os adolescentes admiram e respeitam o professor, ele já tem meio caminho andado para desenvolver os conteúdos curriculares. Para percorrer a outra metade do caminho, é preciso ter boas táticas. Uma das melhores formas de ensinar os jovens é fazer da sala de aula algo bem próximo do mundo deles. Por isso, Duarte fica por dentro da onda hip-hop e aprende parte da linguagem e dos interesses da garotada, enquanto Carvalho assiste à MTV ? canal aberto com programação dirigida aos jovens ? para saber as novidades. Ambos já sabem que o adolescente só retém na memória o que chama muito a atenção. E a ciência confirma o que eles concluíram no dia-a-dia. Atividades feitas com base em um rap que a moçada adora, por exemplo, permitem que as informações sejam fixadas na memória com mais facilidade.

"A música estimula o lobo temporal no cérebro e faz com que os circuitos estabelecidos com o córtex pré-frontal? região que analisa a informação? sejam mais consistentes", afirma a neuropediatra Tania Saad, professora do Instituto Brasileiro de Medicina de Reabilitação, no Rio de Janeiro. O lobo frontal é a região responsável pelas emoções e pelas experiências de vida. Como o cérebro está se reorganizando, o adolescente não tem idéia do que é ou não importante. Por isso, se ele não vê relevância de uma informação para sua vida, o novo dado se perde no turbilhão que é a sua cabeça.

Para fazer das aulas algo que instigasse seus alunos da 6ª série, Carvalho recebeu o jogo Super Trunfo com entusiasmo em sala. Na brincadeira, vence quem tem as cartas com carros mais potentes ou velozes. Com base no conteúdo estudado, a meninada bolou o Super Trunfo Animal. Os alunos pesquisaram vertebrados e invertebrados e levantaram uma série de características de diversos bichos. Eles criaram os critérios de pontuação, que variaram conforme a sala. "Numa turma, os animais em extinção venciam porque eram raros. Em outra, eles perdiam porque, se houvesse uma alteração ambiental, seriam os primeiros a morrer", conta Carvalho.

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