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A Morte Manda Mensagem

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Por:   •  31/5/2014  •  648 Palavras (3 Páginas)  •  288 Visualizações

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A Morte Manda Mensagens

Lá no sertão é crença comum que quando se vai levar um defunto para enterrar,

Não se pode parar. Pra nada.

O morto tem que estar sempre em movimento.

Sempre pra frente. E Nunca pode para sô

Se os carregadores querem fazer mal a alguém é só parar com o defunto nas terras desse alguém ou na frente da sua casa.

É desgraça na certa para o dito cujo.

Por isso, donos de terra ficam de butuca quando passa carregamento de defunto.

Até tiro dão se há ameaço de parar.

Os carregadores têm que ser rapidinhos.

Dar sossego depressa à alma do morto pra o distinto não ficar com raiva nem vagando por aí.

Pois bem.

Num certo dia de Abril, eis que morre o Chico Gavião.

Homem novo ainda. Tombou mortinho da silva por causa do barbeiro.

Chororô dos parentes e pesar entre os amigos.

Mas, o Defunto tinha que ser enterrado.

Xico preto dos treis pés, seu amigão do peito, arruma mais cinco para carregar o corpo do cumpadre Gavião até o cemitério de Tatuí.

Caminho longo, de quatro léguas, ou mais.

Botam o defunto numa rede, onde passam uma vara bem grossa e, dois a dois,

Vão carregando o amigo até a cidade dos pés juntos.

Cansaço muito.

Diminuem um pouco a marcha e andam e andam.

Tardezinha chegando.

Caminhando, caminhando, a noitinha concluem que não dá para chegar a Tatuí antes do fechamento do cemitério.

Negócio é descansar e continuar no rompante da manhã.

Cada um se ajeita como pode.

Morto é deixado num canto.

Puxam o ronco. Cansaço dos diabos.

Só o Xico preto dos treis pés, pesaroso com a morte do amigo e medroso como ele só,

Não consegue pegar no sono e fica apreciando a lua cheia, toda brilhosa, no céu.

Lá pelas tantas, com os olhos ainda arregalados, vê uma coisa que o deixou de cabelos em pé.

O morto parece que se levanta e vem caminhando em direção ao grupo de amigos, no rumo dele.

Passa por cima de um, assim meio no ar como flutuando,

Passa pelo outro e mais outro, até passar pelo quinto.

Tudo muito de leve, parecendo fantasmado.

Quando o cumpadre Gavião vai passar por cima do Xico preto, este não se contém e apronta o maior berreiro,

Soltando os gritos represados na garganta:

- Pra cima de mim não, coração!

...

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