A Pergunta Pelo Sentido
Exames: A Pergunta Pelo Sentido. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: clone • 9/10/2013 • 8.787 Palavras (36 Páginas) • 340 Visualizações
1- A PERGUNTA PELO SENTIDO DA EXISTÊNCIA
1.1 AS PERGUNTAS ÚLITMAS
No decorrer da cultura humana, duas questões centrais foram impostas à razão com um pedido de explicação: a existência do mundo e o aparecimento do ser humano. A reflexão filosófica sobre esses pontos deu origem ao que se chama, respectivamente, problema cosmológico e problema antropológico. No primeiro problema, a razão se pergunta se o mundo tem uma causa e qual é essa causa. No segundo, a pergunta versa sobre o significado da vida humana e se essa é portadora de um projeto.
O problema cosmológico pode ser definido como a busca da causa (ou das causas) que deu (deram) origem ao cosmo. Essa resposta ofereceria o seu sentido último e determinaria o seu destino. Trata-se de uma pergunta que nasce da observação empírica, e que, apesar de permanecer sendo filosófica na sua essência, continua a estar presente enquanto pergunta também nas reflexões dos homens de ciência.
Do ponto de vista filosófico, os pré-socráticos enfrentavam o problema cosmológico como busca de um princípio unificador (a)rxh&) de caráter material (como a água para Tales ou o ar para Anaxímenes)1 ou de caráter espiritual (como o intelecto para Anaxágoras)2. Posteriormente, na reflexão platônica e aristotélica se passará gradualmente da ideia de princípio (do qual tudo é feito) para aquela de causa, da qual procedem o ser e a perfeição das coisas (o Uno, o Ato Puro, a Causa Primeira).3
A partir dessa reflexão, a filosofia formulará o problema cosmológico de acordo com três temas frequentes: (a) como necessidade de fundamentar correntes causais (movimento, potência/ato, etc.); (b) como solução para o problema da contingência (procurar um fundamento necessário ao que é contingente); (c) como busca da origem da ordem e da beleza do cosmo. A partir de um esquema geral, diante do problema cosmológico (considerando pelo momento o homem como parte do cosmo) existem três posições essenciais: aquela Causa necessária, que contém o projeto e o sentido do mundo, (a) existe [a
1 Cf. MARCONDES, Danilo. Iniciação à História da Filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. 7. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002, p. 25.
2 Cf. IDEM. Ibidem, p. 34.
3 Cf. MARITAIN, Jacques. Introdução geral à Filosofia: Elementos de filosofia 1. 9. ed. Rio de Janeiro: AGIR, 1970, p. 51-67.
Introdução à Teologia I 2
afirmação de Deus], (b) não existe [ateísmo], (c) ou não podemos dizer nada sobre sua existência [agnosticismo].
Portanto, o questionamento ilimitado sobre toda a realidade é uma dimensão constitutiva do homem. Nesse horizonte, surge uma questão diferente das outras: a questão do homem sobre si mesmo, sobre o sentido de sua existência. Trata-se de uma questão singular porque é a questão que mais profundamente e mais de perto o afeta. Na questão do homem sobre si mesmo, possui uma importância decisiva duas constatações tão evidentes que ninguém pode duvidar delas: “não existo desde sempre” e “não existirei para sempre”. Essas duas constatações revelam a experiência de uma existência limitada por seu começo, no tempo passado, e, por seu fim, no tempo que deve vir (tem começo e tem fim). Se por um lado a constatação de que “não existo desde sempre”, impõe ao homem a questão de sua origem, a outra constatação, “não existirei para sempre”, revela a experiência mais evidente de que nossa existência tem um fim e a marca intrinsecamente como não fundamentada em si mesma. Perante o problema antropológico, pode-se assumir qualquer uma das posturas que se pode adotar diante do problema cosmológico: deísmo/teísmo; ateísmo ou agnosticismo.
Enfim, todas essas questões são chamadas de perguntas últimas para indicar que nelas se busca o sentido e a razão última das coisas. Um resumo delas pode ser encontrado em alguns textos conciliares:
Todavia, perante a evolução atual do mundo, cada dia são mais numerosos os que põem ou sentem com nova acuidade as questões fundamentais: Que é o homem? Qual o sentido da dor, do mal, e da morte, que, apesar do enorme progresso alcançado, continuam a existir? Para que servem essas vitórias, ganhas a tão grande preço? Que pode o homem dar à sociedade, e que coisas pode dela receber? Que há para além desta vida terrena? 4
E ainda:
Os homens esperam das diversas religiões resposta para os enigmas da condição humana, os quais, hoje como ontem, profundamente preocupam seus corações: que é o homem? qual o sentido e a finalidade da vida? que é o pecado? donde provém o sofrimento, e para que serve? qual o caminho para alcançar a felicidade verdadeira? que é a morte, o juízo e a retribuição depois
4 CONCÍLIO VATICANO II. Constituição Pastoral Gaudium et spes (7 decembris 1965). In: Documentos do Concílio Vaticano II (1962-1965). [Organização geral Lourenço Costa; tradução Tipografia Poliglota Vaticana]. São Paulo: Paulus, 1997, p. 550, n. 10.
A pergunta pelo sentido da existência 3
da morte? finalmente, que mistério último e inefável envolve a nossa existência, do qual vimos e para onde vamos? 5
Essas perguntas versam sobre a importante questão do sentido. Como observa João Paulo II, são interrogações que se encontram tanto nos escritos sagrados de Israel quanto nos Vedas (livros sagrados hinduístas) e nos Avesta (antigas escrituras do zoroastrismo, da Pérsia que datam de 1500 a.C.), nos escritos de Confúcio (Confucionismo), Lao-Tsé (Taoísmo), e mesmo nas pregações dos Tirthankara e de Buda. Elas também afloram nos poemas de Homero e nas tragédias de Eurípide e Sófocles como também nos tratados filosóficos de Platão e Aristóteles. São perguntas que têm a sua fonte comum na busca de sentido que desde sempre urge no coração do homem: da resposta a estas perguntas, de fato, depende a orientação que se dá à existência.6
Segundo Luigi Giussani, essas perguntas estão profundamente enraizadas no ser da pessoa humana. São perguntas consideradas inextirpáveis, pois constituem “o tecido de que [o ser] é feito” (ou seja, constitui uma característica estrutural do ser). Para Giussani, essas questões exigem uma resposta total capaz de abranger todo o horizonte da razão e ainda esgote toda a categoria da possibilidade. Portanto, no ser humano há uma profunda sede de sentido, uma sede que o move, que o deixa sempre inquieto e insatisfeito. Porém, quanto mais a pessoa avança na tentativa de responder a tais
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