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Argumento sofista

Tese: Argumento sofista. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicos

Por:   •  4/12/2014  •  Tese  •  2.508 Palavras (11 Páginas)  •  216 Visualizações

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Um argumento sofista bastante utilizado por calvinistas na tentativa de impor seu determinismo pela lógica é que, se Deus conhece todo o futuro, então o futuro terá que acontecer necessariamente, e, portanto, os atos humanos não são livres, mas já estão estabelecidos. Infelizmente, alguns teólogos arminianos caíram nesta ideia e deixaram o arminianismo clássico para seguirem aquilo que alguns tem chamado de “neoarminianismo”, que nega a presciência de Deus.

O nome mais conhecido deste movimento é “teísmo aberto”, que seria uma forma de expressar que o futuro não está aberto somente para nós, mas também para Deus. Para eles, somente assim o homem seria realmente livre, e, portanto, o teísmo aberto seria necessário para dar consistência ao arminianismo. Entre seus principais proponentes, podemos citar Richard Rice, Clark Pinnock e John Sanders. Pinnock, por exemplo, escreveu:

“Se Deus vê todo o futuro, este, então, é fixo, imutável, e estamos errados em crer que temos a liberdade de escolher um ou outro caminho. Deus já sabe o que Reichenbach fará com seu pedaço de doce. Assim, o futuro não é como ele pensa, um reino de possibilidades abertas no qual ele pode, mediante sua liberdade, determinar a verdade. Esta não pode aparecer de jeito diferente daquele em que Deus, desde a eternidade, sabe infalivelmente como será. Reichenbach só pode escolher a prática daquelas ações que Deus sempre soube que ele haveria de praticar. Portanto, ele não pode agir de modo diferente daquele a que está destinado”[1]

Richard Rice formaliza o argumento dos teístas abertos da seguinte maneira:

“Apesar de as afirmações de que a presciência absoluta não elimina a liberdade, a intuição nos diz o contrário. Se a presciência de Deus é infalível, então o que Ele vê não pode deixar de acontecer. Isto significa que o curso dos eventos futuros está fixo, seja lá como expliquemos o que realmente os causa. E, se o futuro é inevitável, então as aparentes experiências de livre escolha são apenas uma ilusão”[2]

Calvinistas tem usado isso contra os arminianos clássicos, na tentativa de afirmar que somente teístas abertos são arminianos consistentes, e que o arminianismo leva ao teísmo aberto. Em resposta a isso, devemos observar, em primeiro lugar, que nunca o fato de certa posição doutrinária ter uma vertente mais extremada implica em que a doutrina central esteja corrompida. Os próprios calvinistas costumam criticar os chamados “hipercalvinistas”, por serem uma ala mais radical ao calvinismo histórico. Portanto, o fato de haver uma vertente mais extrema no arminianismo não corrompe o arminianismo histórico, da mesma forma que uma ala mais extrema no calvinismo não corrompe o calvinismo histórico.

Em segundo lugar, os teístas abertos (e os calvinistas que sustentam que ele é necessário para dar consistência ao autodeterminismo arminiano) pecam gravemente ao fazerem uso da lógica, pois eles a invertem. Não é a presciência de Deus que determina os atos humanos; são os atos humanos que determinam o que Deus previu. Ao inverterem a lógica, os teístas abertos fazem parecer que o conhecimento de Deus é causativo, quando, na verdade, a causa provém dos homens, e não do conhecimento de Deus.

Como diz Reichenbach, “argumentar nesta linha é confundir a ordem das causas (que é que faz acontecer um fato) com a ordem do conhecimento (a base sobre a qual chegamos a saber algo)”[3]. Em outras palavras, Deus sabia que dois avisões atingiriam as Torres Gêmeas em 11 de Setembro de 2001, mas ele não causou ou determinou este acontecimento, ele meramente o anteviu. O que causou foi, de fato, os seres humanos que colocaram os avisões contra os prédios. Deus conhece o futuro sem causar o futuro.

Olson diz:

“Deus conhece previamente porque algo vai acontecer; ele não conhece previamente porque ele preordena. Em outras palavras, de acordo com a Escritura, tradição e a razão, o pecado de Adão é o que fez com que Deus o conhecesse”[4]

A presciência de Deus quanto aos eventos futuros é semelhante ao conhecimento que possuímos do passado. Eu sei que Rogério Ceni fez uma defesa antológica – quase um milagre – no chute de Steven Gerrard pela final do Mundial de 2005. Este fato está fixo e nunca mudará. Em outras palavras, ele está determinado para sempre. Por mais que eu rebobine a fita ou volte o replay, ele irá sempre executar a mesma defesa. Mas o fato de eu conhecer este acontecimento não significa que eu o causei. O meu conhecimento do passado não tem qualquer ligação com eu ter determinado estes eventos que já ocorreram. O que determinou os eventos foram os atos livres dos jogadores.

Com Deus é a mesma coisa, exceto que, por ser eterno, ele não tem conhecimento apenas do passado, como nós temos, mas também do futuro. Mas, assim como o conhecimento que nós temos do passado não nos torna causadores dos eventos que ocorreram, assim também é com o conhecimento de Deus quanto ao futuro. O conhecimento prévio de Deus depende dos atos humanos, e não o contrário.

Eu não estou escrevendo esta página exatamente às 22:00 de 14 de Março de 2014 porque Deus determinou que eu a escrevesse neste dia e horário. Eu escrevi neste horário porque quis escrever neste horário. Mesmo que eu decidisse escrever daqui um ano ou que nunca escrevesse, Deus teria este conhecimento prévio não-causativo. Não é a presciência de Deus que fez com que eu escrevesse neste horário, mas o fato de eu escrever neste horário foi previsto por Deus. Eu sempre estive livre para agir de forma diferente, caso quisesse.

Ninguém fala melhor sobre isso do que Robert Picirilli. Em um artigo sobre o teísmo aberto, ele diz:

“Certeza não contradiz contingência. A presciência de Deus de atos futuros não é a causa destes fatos, da mesma forma que o nosso conhecimento de atos no passado não é a causa destes. Apesar de Deus conhecer o futuro de antemão, Seu conhecimento destes fatos futuros flui dos próprios fatos. Mesmo se Deus não conhecesse o futuro, ainda assim ele seria certo! Uma pessoa que crê na liberdade libertária não precisa tomar o passo que tomam os teístas abertos para negar a presciência exaustiva de Deus”[5]

Em outras palavras, “o que será, será” ainda que Deus não exista. Da mesma forma que alguma coisa ocorreu no passado e este passado é imutável (o que foi, foi), igualmente alguma coisa irá acontecer no futuro e isso que irá acontecer acontecerá, e ninguém poderá mudar o que ocorrerá. Que há um futuro que irá acontecer, isso é fato, Deus existindo ou

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