Etica Cristã em um Mundo Secular
Por: Marcel Silva Santos • 9/7/2024 • Seminário • 7.378 Palavras (30 Páginas) • 92 Visualizações
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Departamento: Teologia Sistemária
Disciplina: TS19 – ÉTICA CRISTÃ Prof. Jorge Luiz Patrocinio, Ph.D
AULA 01 – 09 e 18/06/2024
ÉTICA: DEFINIÇÃO E DISTINÇÕES – A TAREFA ÉTICA, ASPECTOS DA ÉTICA GERAL E REGRAS VERSUS RESULTADOS
Introdução
“Tudo o que fazemos em vida, ecoa na eternidade” (Maximus)
“Importa obedecer a Deus do que aos homens” (Atos 5:29)
A disciplina “Ética Cristã” não é periférica e não pode ser vista como uma disciplina secundária no preparo pastoral. Não à toa, ela está localizada na grade curricular dos Seminários Presbiterianos (grade esta elaborada pela JET e chancelada pelo Supremo Concílio) dentro do Departamento de Teologia Sistemática. Tudo o que você faz na vida ministerial (quer pessoal, familiar, sociedade e igreja) tem a ver com a ética cristã.
Ela também não é uma disciplina de uma grade curricular atualizada e moderna que busca fazer frente aos problemas sociais hodiernos. Numa rápida análise vamos perceber que as questões éticas sempre estiveram presentes na humanidade e que o povo de Deus, inserido na sociedade, sempre precisou dar respostas a essas demandas.
A ÉTICA E AS ESCRITURAS
Podemos provar que a ética cristã não é um assunto moderno, olhando para os acontecimentos nas Escrituras sagradas.
(1) GENESIS 1 - Comer ou não comer o fruto, oferecer ao esposo tornar-se conhecedora do bem e do mal e dominar o mundo de forma ainda mais soberana. Digo “ainda mais soberana” porque Deus já havia dado ao casal domínio sobre toda a carne:
“... tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra.” (Gn. 1:26)
Essas questões devem ter passado na mente de Eva e posteriormente de Adão. De certa forma, os dilemas eram éticos porque as atitudes do casal não os afetariam apenas, mas também toda a natureza.
(2) EXODO 1:17 - As parteiras desobedecem a Faraó para salvar os infantos israelitas que estavam sendo mortos a mando do rei.
O rei do Egito ordenou às parteiras hebreias, das quais uma se chamava Sifrá, e outra, Puá, dizendo: Quando servirdes de parteira às hebreias, examinai: se for filho, matai-o; mas, se for filha, que viva. As parteiras, porém, temeram a Deus e não fizeram como lhes ordenara o rei do Egito; antes, deixaram viver os meninos. Então, o rei do Egito chamou as parteiras e lhes disse: Por que fizestes isso e deixastes viver os meninos? Responderam as parteiras a Faraó: É que as mulheres hebreias não são como as egípcias; são vigorosas e, antes que lhes chegue a parteira, já deram à luz os seus filhos. E Deus fez bem às parteiras; e o povo aumentou e se tornou muito forte. E, porque as parteiras temeram a Deus, ele lhes constituiu família. (Êxodo 1:15-21)
Como compreender e validar uma “mentira” dentro de uma mentira para salvar vidas? Agostinho escreve sobre “a mentira contra a mentira.”
Veja o que o Prof. Dr. Matthias Grenzer, em seu artigo “Em defesa da mulher” afirma:
...as parteiras, por sua resistência passiva e esperteza, conseguem, ao menos por um instante, proteger e salvar as vidas inocentes dos recém-nascidos hebreus. O que, por sua vez, motivou Sefra e Pua a agir desse modo? Talvez se possa encontrar uma primeira resposta no gênero e na profissão delas. Embora seja importante ter cautela com afirmações generalizantes, e, com isso, pela criança seja mais desenvolvido nas mulheres. Vejo a causa disso numa maior proximidade das mulheres do segredo da vida. Somente elas podem carregar um filho, durante nove meses, debaixo do coração e, por isso, é provável que saibam melhor quanto custa gerar uma vida. De forma simétrica, deve aumentar também, na maioria das mulheres, a consciência em relação à necessidade de proteger a vida das crianças, que são absolutamente indefesas. No caso das parteiras, pode-se imaginar que a consciência delas seja mais favorecida ainda, simplesmente, por sua proximidade maior do milagre da vida, o qual experimentam todo dia, auxiliando o nascimento das novas crianças. No entanto, a narrativa bíblica argumenta a partir de um outro ângulo. Por duas vezes, afirma-se, de forma expressa, que as parteiras temeram a Deus (cf. os vv. 17a.21b). Por isso não fizeram o que o rei do Egito lhes tinha falado (v. 17b.c). Mas o que significa temer a Deus? Como base, há de se descobrir a seguinte lógica interna: ao experimentar Deus como poderoso e soberano, este torna-se “motivo, pelo respeito que lhe é devido, para o homem agir moralmente”. Ou seja: o temor de Deus faz surgir “uma lei não codificada, que regula as exigências mínimas em vista da proteção dos indefesos, sem as quais a convivência entre as pessoas tornar-se-ia impossível (veja Gn 20,11; 42,18; Lv 19,14)”. Fica, portanto, o imperativo ético: Pelo temor de Deus, afasta-te do mal (Pr 16,6). Contudo, em Ex 1,15-22, as parteiras tornam-se um modelo de fé e de comportamento. Numa situação de maior emergência, elas expressam seu temor a Deus pela atitude de proteger as crianças do povo oprimido diante da violência promovida pelo faraó. Mais ainda: sua ação promete um futuro melhor a todo o povo (compare os vv. 20-21). Não obstante, a narrativa também deixa claro que as ameaças à vida das crianças e, com isso, ao futuro do povo, não param por aí. O faraó simplesmente transfere agora a tarefa de matar os filhos dos hebreus (v. 16e), jogando-os no rio, a todo o seu povo (cf. o v. 22). Com isso, confia, na circunstância de que sempre há gente sem temor a Deus, capaz de fazer qualquer barbaridade.
Neste sentido, devemos atentar que a ética cristã vai nos fazer aplicar princípios divinos dentro da sociedade, mesmo aquelas mais distantes de Deus. E se em algum momento, a sociedade te obrigar a fazer o que fragrantemente vai contra a Lei de Deus você deverá sempre se lembrar o que os apóstolos disseram: “Importa obedecer a Deus do que aos homens.” Uma observação importante: Agir eticamente contra os homens em nome e pela ética maior de Deus, não garante o evitar de sanções humanas contra esta pessoa.
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