Igrja Povo De Deus

IGREJA DO POVO DE DEUS

Frei Wilson Dallagnol - O responsável pelo tema Igreja Povo de Deus é frade capuchinho desde 1981 e foi ordenado em 1987. Cursou Filosofia na UCS e Teologia na PUC-RS, onde também fez o mestrado em Teologia Sistemática. Doutorou-se em Teologia Dogmática pela Pontifícia Universidade Gregoriana, de Roma (Itália). Escreveu livros e artigos na área da Teologia Pastoral, Ensino Social e da Eclesiologia.a Igreja

Introdução ao primeiro módulo do Curso de Teologia a Distância 2013, Igreja Povo de Deus.

A Igreja Católica vive hoje um dos períodos mais significativos de sua história. Além do constante crescimento numérico, está seu crescimento em autenticidade e credibilidade. O atual momento ocorre graças a um acontecimento recente que se chama Concílio Vaticano II, um encontro dos bispos e representantes do mundo todo para atualizar a forma de ser e de agir aos tempos atuais.

Os concílios, desde o primeiro (cf. At 15,1-35), são uma prática extraordinária na vida da Igreja. Trata-se do exercício de escuta fraterna, de participação democrática e colegial da Igreja Católica. É o anseio de procurar aquilo que é bom para todos, ou seja, que favorece a edificação da comunidade eclesial.

. A forma de se relacionar com o mundo e internamente não estava em compasso com a história. Era preciso se renovar, sem perder seu objetivo central: a missão de evangelizar.

Intenções - O Vaticano II quis ser um Concílio pastoral, ecumênico e doutrinário e ensinar autenticamente, isto é, com autoridade divina. Às vezes, “os homens” da Igreja se perdem em discursos pouco centrados em Deus e no Evangelho. Outras vezes, centram-se no institucional e perdem o espírito da real comunidade de fé que Jesus desejava. Na realidade, o Vaticano II reorientou o olhar da Igreja naquilo que era a intenção de Deus Pai, por meio de seu Filho Jesus: a comunidade dos fiéis discípulos do Ressuscitado. A Igreja não podia mais centrar-se em condenar, mas mostrar a validade da sua pregação positiva e propositiva, pois ela é mãe amorosa diante dos filhos separados e fonte de concórdia, de justiça, paz e de unidade fraterna.

João XXIII está preocupado em apresentar a Igreja com uma imagem compreensível e amável, sendo ela entendida como mistério da sua vida íntima em Cristo e da sua fecundidade sobrenatural de mãe que vivifica, ensina e prega.

Liberdade, paz, justiça... e a luz dos povos

Na homilia de 5 de junho de 1960, João XXIII, dirige-se ao mundo católico expondo o que será depois o coração e o eixo do Concílio: Ecclesia lumen Gentium (Igreja luz dos povos). Desde aquele dia, o Papa enumerava alguns aspectos desta presença da Igreja no mundo de hoje: a liberdade, a paz, a justiça. A Igreja reivindica uma liberdade que não poderia reduzir à liberdade de culto. Cristo, que lhe confiou a missão de conduzir as pessoas à salvação eterna, cumpre esta missão. Nenhum estado poderia impedi-

lo legitimamente. Na realidade, a verdade e a liberdade são as pedras fundamentais sobre as quais se edifica a civilização humana.

O Espírito Santo assiste a Igreja em todas as circunstâncias e sob qualquer pontificado. A orientação apostólica, pastoral, ecumênica não se contradiz na prática do Concílio. A Igreja se adapta à sua época para dar às pessoas uma mensagem que ultrapasse o tempo e se afirma como a luz dos povos. Esta é a primeira e a última palavra do Concílio.

É assim a nossa Igreja: aquilo que se vive, se celebra, se professa e se crê, em todo o mundo, isto é o que nossos bispos (pastores legítimos) recolhem, estudam, analisam e repropõem. À luz de novas realidades locais, iluminados pela Palavra de Deus e pela Tradição viva da Igreja, são definadas novas diretrizes e pistas de ser e agir da Igreja para o mundo todo.

É a vida que emerge de forma indutiva e que, no Vaticano II, encontra uma “caixa de ressonância” para ser debatida e orientada, com um magistério seguro e necessário para o momento histórico.

Processo participativo e franco

Antes de tudo, havia as comissões que elaboravam um projeto de documento que era submetido ao plenário para a discussão, votação e aprovação. Poderiam ser apresentadas emendas e estas eram avaliadas pelas comissões correspondentes, caso fossem acolhidas eram apresentadas aos membros do Concílio.. Recebendo o consenso do Papa, eram publicados.

Havia um espírito de franqueza e de diálogo, de abertura aos irmãos e irmãs das Igrejas cristãs, das outras religiões e ao mundo moderno, sempre com desejo de renovação da Igreja Católica, que se remete às fontes bíblicas e litúrgicas e colhe os sinais dos tempos.

A Igreja, em o Concílio, se colocou a caminho, pois estava parada no tempo. Dá-se conta que para agir na ótica de Jesus tem muito a fazer, pois está ainda nas primeiras tarefas. O Vaticano II vem confirmar que os fiéis leigos e os pastores estão num processo de relação igualitária e que todos são protagonistas na vida da Igreja.

Concílio deixa claro: a Igreja é constituída por todos batizados

Os anos que vão do Vaticano I (1869-1870) até a realização do Vaticano II foram fecundíssimos para o desenvolvimento de uma real e verdadeira compreensão da Igreja. Estamos diante de um novo despertar da consciência eclesial (de Igreja Povo de Deus). O Vaticano II recolhe o que acontece nos movimentos de renovação e vem nos dizer que a Igreja somos nós. É a Igreja de todo o Povo de Deus. A Igreja é constituída por todos os batizados no amor do Pai, em Cristo, no Espírito. Ela se faz evento na história e nas culturas sob a base de critérios indicadores e com a específica ajuda de pastores empenhados em nível ecumênico e atentos, no seu magistério, à dimensão carismática e profética de todo o Povo de Deus.

O Povo de Deus é lugar celebrativo do amor do Pai para com todas as pessoas. Esforça-se para colocar em ação o Reino de Deus para todos. Possui e promove perspectivas universais, isto é, católicas, com uma atenção e hospitalidade