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Ética Bíblica

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Por:   •  8/9/2014  •  Projeto de pesquisa  •  3.480 Palavras (14 Páginas)  •  199 Visualizações

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Ética Bíblica

por

John Murray

O termo ética se deriva do vocábulo grego ethos ou ethos. A palavra ‘maneiras' é usada para denotar conduta ou prática; esse uso corresponde ao significado do termo grego em 1Co15.33, ‘bons costumes' (ethe chresta). A ética se refere, portanto, à maneira de vida ou de conduta. No Novo Testamento o termo usado para denotar a maneira de vida é, mais caracteristicamente, anastrophe, e seu verbo correspondente (cf. 2Pe 3.11). A ética bíblica diz respeito à maneira de vida que a Bíblia prescreve e aprova. De conformidade com as Escrituras, entretanto, conduta ou ‘maneiras' nunca podem ser disassociadas do complexo de disposições que se expressa em comportamento observável. A ética que é requerida pela Bíblia diz respeito ao coração do homem, porque ‘dele procedem as fontes da vida' e ‘como imagina em sua alma, assim ele é' (cf. Pv 4.23; 23.7; Mc 7.18-21; Lc 16.15; Hb 4.12). Os mandamentos de Deus são freqüentemente vasados em termos da ação externa requerida ou proibida. Porém, não devemos supor que esses mandamentos dizem respeito meramente às ações (cf. Mt 5.28; Rm 13.9, 10).

I. A unidade

Poderia ser facilmente asseverado que não existe unidade básica na ética que a Bíblia prescreve e que é exemplificada nas várias eras da história bíblica. Ao tratar dessa questão diversas observações e distinções têm de ser feitas. (a) Precisamos admitir o fato e a significação de uma revelação progressiva. Deus foi revelando Sua vontade progressivamente aos homens. Portanto, nos primeiros anos da história da revelação, a regra de conduta não era tão plenamente revelada como o foi em períodos posteriores. A revelação, no que respeita à história deste mundo, atingiu seu final no Novo Testamento, focalizado principalmente na vinda e realização de Cristo. Temos nestes últimos dias a plenitude da revelação e da graça de levar a revelação da vontade de Deus até sua frutificação mais rica. Para quem tanto é requerido, mas é exigido. Isso explica porque certas práticas dos santos do Antigo Testamento, claramente inconscientes com a ética do Novo Testamento, foram toleradas e não foram visitadas com penalidades religiosas ou civis durante o período do Antigo Testamento. (b) A prática atual dos santos não deve ser equiparada com a ética bíblica; esta última se refere àquilo que Deus exige, e não às falhas ou realizações dos homens. (c) A queda do homem afetou materialmente o conteúdo da ética que governa a conduta do homem. Novas provisões foram necessárias para tratar com a situação radicalmente diferente que foi criada. Por exemplo, por motivo do pecado e da vergonha resultante, o vestuário seria uma instituição que não teria qualquer relevância necessária num estado impecável (cf. Gn 2.25; 3.21). E as diversas sanções penais surgiram em vista da presença do pecado. A unidade da ética bíblica toma plena consideração das exigências criadas pelo pecado e pela culpa. (d) Devemos distinguir entre permissão e sanção, tolerância e aprovação, quando estivermos tratando das práticas prevalecentes no período do Antigo Testamento. Nosso Senhor enuncia claramente essa distinção em conexão com o divórcio permitido por Moisés (Dt 24.1-4). Moisés, diz ele, permitiu o divórcio, ‘entretanto, não foi assim desde o princípio' (Mt 19.8). A ordenança original de Gn 2.24, para a qual Jesus apelou (Mt 19.5), não provia a oportunidade de tal divórcio, e de modo algum devemos inferir que a instituição de Gn 2.24 foi suspensa ou abrogada. Essa passagem, semelhantemente, diz respeito à questão da poligamia, e a mesma distinção deve ser aplicada. (e) A redenção tem seu efeito sobre a história da humanidade. Assim como a situação criada pelo pecado exigiu novas provisões reguladoras, assim também a redenção introduz instituições que afetam profundamente a conduta humana que não teriam qualquer relevância num estado não pecaminoso.

Há, entretanto, certa unidade que caracteriza a ética bíblica através de todos os períodos da história humana. As ordenanças da criação são claramente estabelecidas em Gn 1 e 2. Essas são as ordenanças da procriação, do encher a terra, de subjugá-la, de exercer domínio (Gn 1.28), do Sábado (Gn 2.2, 3), do trabalho (Gn 2.15), do casamento e da monogamia (Gn 2.23, 24). É óbvio que a proibição de comer da árvore do conhecimento do bem e do mal, por mais importante que fossem para Adão e Eva, bem como para a raça humana inteira, pertence a uma categoria diferente; só podia ter relevância no estado original de integridade, e pode ser distinguida como uma ordenança de provação. Quando examinamos essas ordenanças da criação vemos quão relevantes elas são para os instintos básicos e para os interesses que estão mais próximos do coração, quão inclusivas são das ocupações que teriam tido lugar no pensamento e na ação do homem, e como se complementam e condicionam uma às outras. Tocam em cada área de vida e comportamento. Poderíamos pensar que a alteração provocada pela entrada do pecado e suas misérias resultantes, haveriam de exigir a abrogação ou pelo menos a modificação dessas ordenanças. Porém, tal não foi o caso. A santidade dessas ordenanças é preservada, e sua relevância e obrigação permanentes são claramente estabelecidas na história subseqüente da revelação (cf. Gn 3.16, 19; 4.1, 2, 17, 25; 5.1-3; 9.7; 11.1-8). Os Dez Mandamentos fornecem o âmago da ética bíblica. Porém, pode-se perceber imediatamente quão íntimos são os pontos de contacto entre o Decálago e as ordenanças da criação. Apesar de que condições e as circunstâncias foram revolucionadas pelo pecado, a estrutura básica desta terra e da vida humana na mesma não foi destruída.

Poderíamos esperar que essa unidade só fosse realidade quanto a princípios gerais. O homem foi criado segundo a imagem de Deus. A norma reguladora fundamental da obrigação humana deve, portanto, ser semelhança a Deus naqueles pontos que são apropriados à natureza de criatura possuída pelo homem. A lei de Deus para o homem é simplesmente a perfeição de Deus que se expressou visando regulamentar o pensamento e a conduta humanos consoantemente com essa perfeição. Visto que Deus não muda, e visto que a obrigação a Deus não pode ser abrogada, qualquer alteração radical na ética imperativa é algo simplesmente inconcebível.

II. Conteúdo

O conteúdo da ética bíblica é a soma-total dos informes revelatórios exibidos nas Escrituras que dizem

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