Mitos de Criação do Japão
Por: Felipe Feitosa • 11/12/2016 • Pesquisas Acadêmicas • 2.928 Palavras (12 Páginas) • 535 Visualizações
MITOS DE CRIAÇÃO DO JAPÃO
Diz o mito que no início, Deus criou dois deuses: Izanagui que significa o homem convidado e Izanami a mulher convidada.
Na história bíblica seria: Deus criou Adão e Eva. Deus no Japão significa Deus Xinto que daí desenvolveu-se o xintoísmo, a religião originária do Japão.
Deus Xinto os enviou à terra como seu representante para criar as ilhas do Japão. Através de uma Ponte Flutuante celestial colocada entre o céu e a terra, mergulharam uma Lança Preciosa celestial no mar, mexendo-as. Fizeram o mar agitar-se e, quando levantaram a lança novamente, a salmoura que pingou da sua ponta, formou uma ilha. Izanagui e Izanami casaram nesta ilha e ergueram um pilar sagrado e um palácio espaçoso.
Descobrindo que os seus corpos eram diferentes, Izanagui através de um ato sexual geraram a terra. Porém, para gerar a terra, ambos através de um ritual, caminharam em volta do pilar celestial. Depois de vários fracassos, começaram a gerar filhos, que são as ilhas do Japão.
Tem havido várias interpretações deste ritual de andar em volta deste pilar celestial. Sábios do período Edo (do século XVIII até ao início do século XIX) viram o pilar simplesmente como um símbolo de um falo. Tem uma ligação clara com o mastro das festas européias de Maio, que se crê capturar os poderes vitais latentes na árvore, assim como, também, com a antiga crença japonesa de que são necessárias procissões em redor de árvores altas para convocar os deuses que habitam os céus e as montanhas.
No livro sagrado kojiki[1], a pureza (ou poder de crescimento) é exemplificada pela história de Yamato-takeru. O conceito oposto de kegare (ou poluição) é ilustrado pela história da morte de Izanami:
O LAR DE YOMI
Após ter dado a luz a muitas ilhas e outras manifestações da natureza como queda de água, montanhas, árvores, ervas e o vento, Izanami morreu vítima de uma terrível febre. Izanagui seguiu-a até Yomi, o país dos mortos, mas era tarde demais: ela já comera no lar de Yomi. Izanami pediu a Izanagui que a esperasse, enquanto ela discutia com os deuses para saber se podia voltar. Izanagui depois de esperar por muito tempo, resolve quebrar a promessa e vai atrás de Izamami. Chegando ao país dos mortos, o que viu era horrível:
“Larvas retorciam-se e comiam o cadáver de Izanami. Na cabeça encontrava-se o Grande-Trovão; no coração, o Trovão-do-Fogo; no ventre, o Trovão-Negro; nos órgãos genitais, o Trovão-Quebrado; na mão direita, o Trovão-Terra, no pé esquerdo, o Trovão-Sonoro; no pé direito, o Trovão-Reclinado. Em conjunto, existiam oito divindades de Trovão.”
Como pode se observar através da descrição que acima foi feita da terra dos mortos, o antigo conceito japonês de morte e de vida depois da morte não contém a ideia de um julgamento final.
A MORTE VEM PARA O MUNDO
Izanagui ficou assustado com a visão que teve de Izanagui, virou-se e fugiu. Envergonhada pelo seu comportamento, Izanami enviou demonios de Yomi para o perseguirem, e quando Izanagui chegou à fronteira entre o país dos vivos e o de Yomi, atacou os demônios com três pêssegos que encontrara perto. Todos acabaram morrendo. Então, Izanagui disse aos pêssegos: “Assim como me salvaram, quando algum dos humanos estiver em apuros e angustiado, também vocês o salvarão.”
Finalmente, a própria Izanami veio em perseguição de Izanagui. Este arrastou um grande pedregulho, através da passagem entre Yomi e a terra dos vivos, e Izanagui e Izanami ficaram frente a frente, um de cada lado do pedregulho. Então, Izanami lhe disse: “Estrangularei mil pessoas da terra por dia.” Ao que Izanagui respondeu: “Se fizeres isto, farei com que nasça mais de 1500 pessoas por dia”.
Deste modo, o casamento de Izanagui e de Izanami cria o mundo natural, sendo a sua separação, ou “divórcio”, o início da mortalidade.
No seu regresso ao mundo dos vivos, Izanagui se limpa devido à sua descida ao mundo subterrâneo, através da purificação.
“Chegou à planície, junto à foz do rio, onde se despiu e retirou todos os objetos que ele transportava. Quando cada um destes objetos foi lançado para o chão, uma divindade foi criada. E quando Izanagui entrou na água para se lavar, então, outros deuses foram criados.”
A purificação (misogui) de Izanagui mostra como a força vital pode ser recuperada. Da mesma forma que o crescimento do arroz se segue a um ciclo no qual tanto o terreno como as pessoas ficam exaustas, sendo depois revitalizados pela água ou por um período de descanso, também Izanagui recupera a sua força e a sua vitalidade despindo as pesada peças de roupa e mergulhando o corpo nas águas.
A água é um símbolo potente em muitas cenas da vida cotidiana no Japão. Por exemplo, assim que nos sentamos num restaurante de sushi em Tokyo, a mesa é limpa com um pano umedecido de água. Este procedimento tem pouco a ver com a higiene, é principalmente um ato de purificação, antes de se comer o arroz. Nada evoca mais o sentimento de clareza para os japoneses que ver uma queda de água contra uma montanha, e neste geralmente encontram-se pequenos santuários.
Finalmente, quando Izanagui se lavava nasceram três deuses. Quando molhou o olho esquerdo, Amaterasu Omikami, a deusa do Sol nasceu. Enquanto ele lavava o olho direito, nasceu Tsukiyomi-no-Mikoto, o deus da Lua e quando ele lavou o nariz, Susano-O, foi a vez do deus da tempestade.
Os dois irmãos Amaterasu, a deusa do Sol, e Tukiyomi, o deus da Lua são responsáveis, respectivamente, pelo dia e pela noite. Entre as muitas histórias contadas acerca de Amaterasu, a que conta a sua retirada para dentro da caverna é das mais conhecidas. Amaterasu e Susanoo tinham discutido depois do primeiro ter pregado uma peça ao deus do Sol, que levou à destruição dos seus campos de arroz. Amaterasu vingou-se e retirou-se para uma gruta, mergulhando o mundo na escuridão. Lá ficou até que uma deusa, incitada por outras divindades, executou uma dança festiva fora da gruta. Sem conseguir resistir à curiosidade, sabendo que o mundo estava em total escuridão, Amaterasu saiu e viu o seu reflexo num espelho que os deuses tinham suspendido de uma árvore. Desde então, o mundo tem conhecido o ciclo normal do dia e da noite.
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