O MITO DA DESTERRITORIALIZAÇAO ECONOMICA
Pesquisas Acadêmicas: O MITO DA DESTERRITORIALIZAÇAO ECONOMICA. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: sandravanessa • 23/4/2013 • 8.127 Palavras (33 Páginas) • 963 Visualizações
O MITO DA DESTERRITORIALIZAÇAO
ECONOMICA*
ROGÉRIOH AESBAERT
Universidade Federal Fluminense
TATIANTAR AMONTARNAIM OS
Mestranda - Programa de Pós-Graduação em Geografia - UFF
Um dos discursos "espaciais" mais em voga nos anos 90, e que se estende ainda
hoje no âmbito de vários debates sobre a "sociedade em rede" e a"pós-modernidade",
é o discurso da desterritorialização. Três grandes vertentes interpretativas
podem ser aí identificadas, associadas a pelo menos três dimensões sociais: a cultural
ou simbólica, em sentido mais estrito, a política e a econômica.
Trabalhamos com a distinção entre uma desterritorialização de "matriz" predominantemente
econômica, outra de matriz política e uma terceira de matriz cultural
mas isto não significa adotarmos uma posição estruturalista que distingue de forma
nítida esses componentes, indissociáveis enquanto dimensões ou perspectivas do
social. Esta diferenciação está ligada especialmente ao fato de que os próprios discursos
sobre a desterrritorialização por nós analisados, na maioria das vezes assumem
essa separação e devem, como tal, ser sistematizados.
Explícita ou implicitamente, essas dimensões estão vinculadas a diferentes concepções
de território. Podemos ampliar a questão afirmando que se trata de respostas
diferentes a um mesmo processo de des-territorialização. Se entendermos território
no sentido amplo em que aparece associado aos processos de dominação elou
apropriação do espaço, reelaborando os termos de Lefebvre (1984) para a produção
do espaço, podemos afirmar que os objetivos ou as razões desta produção e
controle (ou des-controle, no caso de incluir a desterritorialização) podem ser os
mais diversos, envolvendo fatores de natureza predominantemente econômica,
política elou cultural.
* O presente artigo é uma versa0 revisada e ampliada do capítulo de mesmo título em "O mito da
desterritorialização" (Haesbaert, 2004), no prelo quando da redaçáo deste artigo.
GEOgr<rphici - Ano. 6 - Nu 12 - 2004 Haesbaert e Trarnontani
Para alguns, a problemática que se coloca é a mobilidade crescente do capital e
das empresas - a desterritorialização seria um fenômeno sobretudo de natureza
econômica; para outros, a grande questão é a crescente permeabilidade das fronteiras
nacionais - a desterritorialização seria assim um processo primordialmente de
natureza política; enfim, para os mais "culturalistas", a desterritorialização estaria
ligada, acima de tudo, à disseminação de uma hibridização de culturas, dissolvendo
os elos entre um determinado território e uma identidade cultural correspondente.
Problematizaremos aqui os discursos dentro da perspectiva econômica da desterritorialização,
abordando em outro trabalho (HAESBAERT, 2004) as dimensões
política e cultural.
No âmbito específico da economia que, como sabemos, não é o campo de maior
tradição nos debates sobre território, podemos observar que o fenômeno da desterritorialização
aparece em várias análises, porém na maioria das vezes de forma
implícita ou sob outros rótulos. A fragmentação e fragilização que atingiram o
campo do trabalho e da produção nas últimas décadas podem ser consideradas,
entretanto, componentes essenciais para configurar aquilo que a maioria dos autores
denomina como processos de desterritorialização, mesmo entre muitos que os
enfocam em um sentido extra-econômico.
Tal como ocorre em relação ao debate sobre a (pós)modemidade, também em
relação ao tema da globalização muitos autores o associam, direta ou.indiretamente,
a processos de "desterritorialização". Assim, seria sobretudo através das relações
econômicas, capitalistas, especialmente no que se convencionou chamar de globalização
econômica e, mais enfaticamente, no campo financeiro e nas atividades mais
diretamente ligadas ao "ciberespaço", que se dariam os principais mecanismos de
destruição de barreiras ou de "fixações" territoriais. Podemos identificar pelo menos
três perspectivas da desterritorialização sob o ponto de vista econômico:
- Num sentido mais amplo, a desterritorialização é vista praticamente como
sinônimo de globalização econômica ou, pelo menos, como um de seus vetores
ou características fundamentais, na medida em que ocorre a formaçáo de
um mercado mundial com fluxos comerciais, financeiros e de informações
cada vez mais independentes de bases territoriais bem definidas, como as dos
Estados nações.
- Numa interpretação um pouco mais restrita, a ênfase é
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