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O Discurso Científico

Por:   •  7/8/2016  •  Pesquisas Acadêmicas  •  29.485 Palavras (118 Páginas)  •  373 Visualizações

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Introdução

Ao ler o título desta aula, alguma ideia, provavelmente, surgiu em sua mente sobre o assunto que nela será abordado. Você imaginou um auditório de universidade com um cientista em uma atividade comunicativa de locutor? Muito embora este título crie esta possibilidade, não é sobre linguagem oral que vamos tratar. O contexto imaginado, contudo, é adequado, porque considera o meio acadêmico. Mas aqui, cuidaremos dos textos escritos em ciências.

O discurso é entendido como um texto dotado de sentido em seu contexto, que compreende as condições de produção e de recepção (ADAM, 1999 apud CHARAUDEAU; MAINGUENEAU, 2004, p.169). Destacam-se, assim, sua intencionalidade e sua função comunicativa.

Nesta aula, cuidaremos mais especificamente do trabalho acadêmico enquanto texto escrito, sendo identificado com a noção de discurso científico.

INÍCIO DO VERBETE

Discurso científico

A noção de discurso científico abrange tanto o conjunto de textos produzidos pelos estudiosos das ciências quanto o sistema de regras que orienta sua produção.

FIM DO VERBETE

1. As Comunidades Discursivas

Grosso modo, a comunicação humana é entendida como processo de transmissão de mensagens entre emissores e receptores. Neste estudo do discurso científico, o emissor assume o papel de elaborador do texto, e o receptor é a quem ele se dirige. Este esquema básico do ato de comunicação pode parecer muito simples, mas não é. Os textos, em certa medida, desprendem-se do seu autor após elaborados e adquirem vida própria ao possibilitarem múltiplas interpretações. São suscetíveis a mal-entendidos, a falsas compreensões e até a incompreensão individual ou coletiva.

Para abordar a diversidade dos discursos, os estudiosos adotaram a noção de comunidades discursivas.

INÍCIO DO VERBETE

Comunidades discursivas

Regidas pelo princípio do compartilhamento de normas, organizam-se em torno da elaboração do discurso. Nesses termos, a comunidade científica, por exemplo, constitui-se como uma comunidade discursiva.

FIM DO VERBETE

Beacco (1999 apud CHARAUDEAU; MAINGUENEAU, 2004,) diferencia as comunidades discursivas, sendo que, dentre elas, duas aproximam-se de

forma evidente: a comunidade discursiva jornalística e a comunidade discursiva científica. Tanto uma como outra defendem ideias. A primeira, entretanto, apresenta-se como marcadamente ideológica, ao defender valores, opiniões e crenças. As comunidades discursivas científicas são essencialmente produtoras de conhecimentos e produzem textos fechados, acessíveis a seus integrantes.

INÍCIO DO VERBETE

Textos fechados

São elaborados por um conjunto de produtores ou emissores que coincidem, quantitativa e qualitativamente, com o conjunto dos receptores (CHARAUDEAU; MAINGUENEAU, 2004)

FIM DO VERBETE

O discurso argumentativo caracteriza-se por suas diferentes formas estruturais e por exercer determinados efeitos nos receptores vinculados à persuasão. Os textos argumentativos elaboram ou defendem visões de mundo, pontos de vista. Assim, o discurso científico e o jornalístico apresentam, portanto, a intenção de provocar ou ampliar a aceitação de ideias.

2. Discurso Científico e Discurso Jornalístico

Figura 3.1 – Discurso jornalístico

Foto de Quil

Fonte: http://www.sxc.hu/assets/16/154041/opinion-page-of-newspaper-503227-m.jpg

Há, entretanto, diferenças importantes entre o discurso científico e o jornalístico. Estas diferenças dizem respeito, sobretudo, aos efeitos por eles desencadeados e ao que visam a convencer ou persuadir. Mas, como assim?

O discurso jornalístico identifica-se com o ato de persuadir e “procura atingir a vontade, o sentimento do(s) interlocutor(es), por meio de argumentos plausíveis ou verossímeis e tem caráter ideológico, subjetivo, temporal, dirigindo-se, pois, a um ‘auditório particular’”(KOCH, 1987, p.20).

O discurso científico identifica-se com o ato de convencer por produzir certezas provisórias, dirigindo-se “unicamente à razão, através de um raciocínio estritamente lógico e por meio de provas objetivas; sendo assim, capaz de atingir um ‘auditório universal’, possuindo caráter puramente demonstrativo e atemporal”. (Id., ibid., p.20)

O discurso jornalístico, considerado nestes termos, pode ser exemplificado com maior clareza pelos editoriais de jornais. Os editoriais são textos destituídos de compromissos com a imparcialidade e com a objetividade, pois expressam a visão da empresa a respeito de algum assunto em evidência naquele momento. Os editoriais não são, portanto, textos informativos. São chamados de opinativos ou apreciativos.

O discurso científico, muito pelo contrário, procura excluir a presença de apreciações, dando uma condição especial àquelas que, apesar disso, apareçam nele. Os textos científicos comprometem-se com as demonstrações ao pretenderem provar, desenvolver conhecimentos e convencer. Diz-se, então, que as características do conhecimento científico podem nortear a elaboração de trabalhos acadêmicos, como veremos mais adiante.

Observe ainda que a opinião tem sido tradicionalmente refutada pelos estudiosos das ciências. O que serve de sustentação para a opinião?

Segundo Hühne (1988), estudiosos renomados entenderam que a opinião lança mão de exemplos resgatados ao acaso para sustentar raciocínios (HÜHNE, 1988). “A opinião pensa mal; ela não pensa: ela traduz necessidades em conhecimento. Ao designar os objetos por sua utilidade, ela se impede de conhecê-los”( BACHELARD apud HÜHNE, 1988, Idem, p.59) A opinião é tendenciosa e, por isso, elabora discursos questionáveis. “A opinião costuma trocar a parte pelo todo, com exemplos casuais e isolados, inventa fatos tomando o contingente e imaginário pelo real” (HÜHNE, 1988, p. 57)

2.1 Discurso Científico e seus Principais Referenciais

Os textos científicos preocupam-se com a objetividade e a clareza das declarações, secundarizando o objetivo artístico. A arte com palavras é típica do texto literário, no qual a realidade é fictícia, sendo recriada pelas afetividades,

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