A MULTIPLICIDADE DO TERRITÓRIO NO CORREDOR CARNAVALESCO
Por: Lisandra Bezerra • 29/9/2022 • Bibliografia • 1.645 Palavras (7 Páginas) • 109 Visualizações
A MULTIPLICIDADE DO TERRITÓRIO NO CORREDOR CARNAVALESCO
INTRODUÇÃO
O território possui diversas definições que o faz ser um tanto complexo de ser explicado de apenas uma forma. Assim, a partir de diversos autores podemos entender o território como um espaço que se movimenta diariamente, ou seja, se transforma, podendo se desterritorializar e reterritorializar. Território é cultural, social, poder, economia, capitalismo e entre outros. Isso o faz ser objeto de estudo de diversas disciplinas e artigos.
O carnaval é uma manifestação cultural brasileira de muito antiga. Ela possui diversos formatos em várias localidades do Brasil. Em Caicó, localizada a 269 quilômetros da capital do estado, possui um carnaval multicultural. Assim, uma variedade de formas, cores, pessoas, músicas e entre outras.
O Carnaval de Caicó deu-se início no século XIX, onde no qual os foliões saíam às ruas. No século XX, o carnaval se caracterizou por ser um evento elitista, realizado apenas em clubes exclusivos da elite caicoense, onde era proibido a entrada de pobres e negros. Na década de 1930, surgiu a “Sede dos Morenos”, neste clube os excluídos pela elite caicoense podiam brincar. Dos clubes, os foliões obtiveram as ruas de Caicó. Sua primeira manifestação foi na mesma década de 1930, com a criação do “Bloco do Lixo”, num sentido desdenhoso, por se utilizaram de instrumentos de lata, pedras e se vestirem com fantasias velhas e rasgadas.
Em 1942, um pernambucano chega à cidade, e introduz um urso ao bloco, que passa então a ser chamado de “Ala Ursa”. Em meados dos anos 60, grupos de amigos começaram a se reunir em blocos, na época, cada bairro tinha seu “ala ursa” durante o período carnavalesco. Na década de 1990, houve um crescimento considerável no número de blocos constituído por amigos. Nessa época já havia uma aglomeração dos blocos em frente do Hotel Vila do Príncipe.
A partir de então, começou-se a montar a estrutura carnavalesca em frente ao Hotel, nessa época, o carnaval caicoense dava seus primeiros passos de consolidação. A partir daí seu crescimento não parou, onde hoje se concentra em diversas ruas e pontos da cidade.
DESENVOLVIMENTO
O termo território possui amplas concepções e tentar o restringir em uma única definição é um trabalho árduo, se não impossível. Pois conforme se é estudado por diferentes autores e geógrafos como o reverente Milton Santos, se entende que o território antes de tudo é um espaço que foi delimitado e atribuído relações de poder.
Esse conceito geográfico, está sempre em movimento modificando-se através das relações de poder de seus atores ao longo do decorrer histórico, sendo construído e desconstruído. Embora delimitado com limites e fronteiras, apresenta ser flexível. Atualmente com a globalização a sociedade se encontra cada vez mais heterogênea, com diferentes gostos e peculiaridades, até mesmo em um mesmo grupo social e/ou cultural, enfrentando as barreiras socioeconômicas impostas.
Saquet e da Silva (2008) faz a análise de Pensando o espaço do homem (Santos,1982), onde diz que “o espaço é produto da organização da sociedade, enquanto estrutura funcional”, entendido como reflexo da sociedade global, tornando-o fator determinante das estruturas sociais. Portanto sendo o território um recorte espacial, este recebe influência do espaço e consequentemente também a influência, estando sempre nesse movimento dialético.
Sendo o território uma fração do espaço total, esse funciona como o palco das interações sociais, delimitado e organizado em diferentes escalas e simultaneidades. Evidenciando os aspectos da economia, da política, da cultura e da natureza exterior ao homem. Desse modo, pode ser compreendido como, a fração de relações locais com o mundial (globalização), para atender uma melhor qualidade de vida, sem conflitos entre seus atores.
Nesta dialética, há sistemas de elementos sociais temporais. Como afirma Santos (1985, p.21-22):
O espaço, considerado como um mosaico de elementos de diferentes eras, sintetiza, de um lado a evolução da sociedade e explica, de outro lado, situações que se apresentam na atualidade. (...) a noção de espaço é assim inseparável da ideia de sistemas de tempo.
Desse modo, entende-se que o espaço de um território se organiza, buscando equilíbrio, conforme os fatores determinantes de um dado momento histórico social. Havendo assim, uma relação espaço-temporal de um povo, sociedade.
Um exemplo de elemento determinante para a reorganização territorial temporal, são as festividades culturais, como o carnaval. Sendo um importante período de festejo para vários povos e culturas, o carnaval ao longo das décadas vêm ganhando um espaço notório no mundo principalmente no Brasil, advindo sobretudo dos interesses político-econômico.
Através do capitalismo e seu modelo de organização empresarial, se obtêm estratégias de práticas e leis de funcionamento de ganho econômico para o território de predomínio das práticas culturais carnavalescas.
O Brasil é reconhecido mundialmente por seus grandes e divertidos carnavais, com diferentes ritmos e práticas herdadas culturalmente a depender da localização e região, do vasto território brasileiro. Na região Nordeste, o carnaval, move multidões em ritmos variados como os tradicionais, frevo, axé, maracatu, entre muitos outros existentes na diversa cultura brasileira.
Desse modo, se percebe que o Brasil é um país com diferentes relações de culturas, que geram espaços temporalizados em razão destas. Desse modo, pode se entender as afirmações de Rafesttin (1984), que a territorialização de um determinado espaço é formada pelas relações sociais, sendo de perdas ou reconstruções, construindo dessa forma uma territorialidade única, decorrente de fatores como o de desterritorialização e reterritorialização.
Assim como se explica em Saquet (2007, p.69):
Na descontinuidade, há a re-produção de elementos/aspectos inerentes à vida diária dos sujeitos sociais, material e ideologicamente. Na mobilidade de força de trabalho, na viagem, os migrantes também vivem, experimentam, têm relações, territorialidades. E, reterritorializando-se, re-produzem aspectos da forma de vida anterior, cultural, econômica e politicamente.
Desta maneira, se entende que através do movimento territorial, se obtêm novas experiências e tradições. Assim desse modo, o capitalismo exerce força sob os festejos de grande influência, adquirindo novas ideias e práticas para atender o público.
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