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Brincar E Trabalhar

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Por:   •  2/3/2015  •  1.139 Palavras (5 Páginas)  •  324 Visualizações

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Brincar é forma mais livre e individual, que designa as formas mais primitivas de exercício funcional, como a laxação. É este sentido mais arcaico que vou utilizar aqui. É esse sentido mais arcaico que vou utilizar aqui.

O termo “lúdico” abrange os dois: a atividade individual e livre e a coletiva e regrada. O que chama a atenção, quando pedimos a profissionais de educação infantil sinônimos para ele, é a tendência a oferecer “prazeroso” e nunca “livre”. “Ludicamente” é visto como prazeroso, alegremente, e não “livremente”. Isto, que considero uma distorção de conseqüências infelizes, consiste em perceber o efeito e não a sua causa: o prazer é o resultado do caráter livre, gratuito, e pode associar-se a qualquer atividade; inversamente, a imposição pode retirar o prazer também a qualquer uma.

Parece impossível definir substancialmente o que é brincar: a natureza do compromisso Parece pois necessário, ao pensar a educação pelo jogo, refletir simultaneamente sobre a educação pelo trabalho, enfrentando o preconceito que entre nós, por graves razões sociais, separa as idéias de infância da de trabalho. com que é realizada transforma-a sutilmente em trabalho.

É claro que substituir “prazer” por “liberdade” não facilita em nada a tarefa de definir o lúdico. Nos dicionários filosóficos, liberdade confina com “onipotência”, por um lado, e com “consciência” e racionalidade, por outro, tornando inviável qualquer tentativa de entender a noção em sentido absoluto. Se modestamente nos contentarmos em empregá-la com o sentido de alguma possibilidade de escolha, teremos que nos referir a graus de liberdade que começam com a possibilidade de recusar o convite adulto, e se ampliam na medida em que se multiplicam as alternativas de atividade.

Entre a atividade lúdica e a atividade produtiva parece haver continuidade. Examiná-las em movimento evolutivo, é, pois, interessante. O recurso à psicogênese é um grande auxílio na compreensão dos fenômenos psíquicos: examinar sua origem e evolução esclarece também seu destino. Utilizemos este recurso lançando mão da concepção walloniana de psicogênese. Na concepção walloniana, infantil é sinônimo de lúdico. Toda a atividade da criança é lúdica, no sentido de que se exerce por si mesma. Ou, dito em outros termos, toda atividade emergente é lúdica, exerce-se por si mesma antes de poder integrar-se em um projeto de ação mais extenso que a subordine e transforme em meio. O trabalho, entendido como qualquer ação instrumental subordinada a um fim externo e a um produto, corresponde portanto àquela para onde tende a atividade lúdica. O jogo tende ao trabalho como a criança tende ao adulto.

A compreensão adequada do lúdico supõe então, como tudo aquilo que se refere à infância, etapa da vida humana marcada pelo devir acelerado, uma perspectiva temporal dupla.

A diferença entre adulto e criança a este respeito é visível nas questões mais triviais. Se o chilreio prazeroso do bebê, que depois se subordinará à intenção de fala, não o incomoda, o mesmo não acontece, por exemplo, em relação à marcha. Andar, para a criança de um ano, é uma atividade-fim, que se exerce por si mesma, diferentemente do adulto, que “anda para”. O andar lúdico do filho, que pára, retorna, “desanda”, em geral causa o desespero da mãe que já soterrou na memória a sua própria ludicidade em relação a esta forma particular de ação.

Dizer que a atividade infantil é lúdica, isto é, gratuita, não significa que ela não atendaàs necessidades do desenvolvimento. Embora “inútil”, “fútil”, do ponto de vista imediato, ela tem enorme importância a longo prazo. A necessidade de garantir espaço para o gesto “inútil” adquire enorme importância.

Ao longo de uma gestualidade gratuita, impulsiva mesmo, produzem-se, casualmente, em si mesma ou no ambiente, efeitos interessantes, agradáveis: a criança tende a procurar reencontrá-los. O gesto livre da intenção, e o acaso, aparecem então como a forma mais remota da descoberta e da ampliação do repertório. Embora gratuita, ou talvez, porque gratuita, esta forma de gestualidade é a fonte do novo. A sabedoria que é respeitar, em educação, a psicogênese, deveria levar a introduzir cada nova atividade através de uma etapa lúdica. Brincar com palavras, com letras, com o computador: manuseá-los

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