Ensino De Língua Materna
Trabalho Escolar: Ensino De Língua Materna. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: Zilda • 31/7/2013 • 1.669 Palavras (7 Páginas) • 666 Visualizações
A constatação do fracasso ocorrido em nossas escolas em relação a um dos principais objetivos do ensino de língua materna – o desenvolvimento da competência comunicativa dos alunos – desencadeou, principalmente a partir da década de oitenta – inúmeros trabalhos contendo discussões e propostas com intenção de promover melhorias nessa terrível situação. Sem dúvidas, de lá para cá o avanço foi grande, mas , parece-nos, ainda faltam maiores elucidações sobre as concepções de linguagem e língua a fim de que se concretize com eficácia toda a teorização já existente. Aliás, no campo da prática os resultados são ainda bem frágeis.
Não pretendemos aqui, em tão curto espaço, discorrer sobre tudo o que se escreveu a respeito do assunto, nem ao menos retomar apenas algumas das produções mais importantes. Por outro lado, também não almejamos abordar os inúmeros aspectos envolvidos nas questões de língua e linguagem. Anima-nos tão somente a possibilidade de uma modesta contribuição para subsidiar a questão do ensino, com vistas a um domínio mais amplo da língua materna. Escolhemos, com esse objetivo, enfatizar aspectos da famosa tríade de Eugênio Coseriu: Sistema/Norma/Fala.
Esse lingüista, ao formular sua tríplice oposição, colabora intensamente para derrubar o conceito rigidamente estático de sistema lingüístico. No conjunto dos fatores responsáveis por impedir o sucesso da prática pedagógica, acreditamos que um dos principais motivos seja justamente uma compreensão restrita sobre o caráter dinâmico da língua e sua diversidade.
Diz Coseriu que é possível distinguir na língua três séries de características, conforme o grau de abstração e de formalização: 1) as características concretas, infinitamente variadas e variáveis, dos fatos lingüísticos observados nas infinitas manifestações individuais → a fala ; 2) as características normais, comuns e mais ou menos constantes, independentemente da função específica dos objetos → primeiro grau de abstração: a norma ; 3) as características indispensáveis, isto é, funcionais → segundo grau de abstração: o sistema.
Com o intuito de estabelecer relações com o ensino, retomemos separadamente cada um dos conceitos acima.
Fala
Atividade lingüística concreta, movimento dialético entre criação e repetição, inclui todas as variações que o falante pode acrescentar às inúmeras estruturações lingüísticas já formuladas e aceitas socialmente. Representa sempre um ato individual. Só aí é possível a comprovação de realizações inéditas do sistema e, por isso mesmo, constitui o grau máximo de variação lingüística. Mensagem codificada, nível de observação objetivamente comprovável, indica como se diz num determinado ato de fala. Caracteriza-se ainda por ser não convencional e opcional, mas opção individual de cada falante. Enfim, a fala é como funciona concretamente.
Nos processos de ensino/aprendizagem de língua materna a desconsideração dos fatos lingüísticos que compõem a fala significa uma atitude perversa. Eles aparecem, por exemplo, nas manifestações espontâneas dos alunos, sobre as quais deve se desenvolver todo o trabalho docente com vistas a um aperfeiçoamento da competência lingüística e, obviamente, comunicativa. O aprendizado refere-se sempre a um não-saber, mas deve tomar como base essencial e como ponto de partida o saber que uma pessoa ( o aprendiz ) possa ter sobre o objeto de ensino. Ora, já se tornou indiscutível o fato de o aluno chegar à escola, mesmo os mais novinhos, com um saber lingüístico altamente significativo. Como desprezá-lo? Além disso, são manifestações espontâneas dos alunos, em qualquer nível de escolaridade, seus comentários e suas perguntas a respeito do tema tratado em aula. Por que impedi-los?
São também manifestações lingüísticas de fala aquelas que os alunos produzem a pedido do professor, tais como intervenções orais e textos escritos. Reformulá-las exageradamente ( “corrigi-las” ), ou até mesmo rejeitá-las totalmente, se constituirá um grande obstáculo no desenvolvimento da competência comunicativa, na medida que impossibilitará as realizações inéditas e o caráter individual dos atos de fala, como se o aluno não pudesse ser o autor do que diz ou escreve.
O objeto do ensino de língua materna é, na realidade, a funcionalidade das produções lingüísticas dos educandos, numa perspectiva de adequação a cada situação comunicativa de que poderão participar. Para tanto, torna-se imprescindível a oferta e, muitas vezes, a análise de modelos de realizações funcionais. Referimo-nos a atividades de ouvir e ler, entendendo, é claro, que os modelos ofertados são também manifestações de fala.
Norma
Os fatos de norma são modelos abstratos e não manifestações concretas. Representam obrigações impostas numa dada comunidade sócio-lingüístico-cultural. Inclui elementos não relevantes, mas normais na fala dessa comunidade. A norma se constitui como realização coletiva, tradição, repetição de modelos anteriores. Indica como se diz, ao estabelecer códigos e subcódigos para diferentes grupos de uma mesma sociedade. É convencional e opcional, mas opção do grupo a que pertence o falante. Preserva apenas os aspectos comuns, eliminando tudo o que, na fala, é inédito, individual. A norma é modelo de como funciona.
Nos processos de ensino/aprendizagem de língua materna, cumpre propiciar ao aluno o conhecimento das diversas normas coexistentes na sua comunidade sócio-lingüístico-cultural. Pode-se falar em normas de: espaço geográfico ( dialetos, falares, etc...); classes sociais; faixa etária; grupos sociais ( jargões, gírias.etc...); discurso ( os universos do discurso, tais como o jurídico, o pedagógico, etc...); sexo; modalidade ( oral/escrito); registro ( formal/informal), etc.
Dessa forma, a imposição da chamada “norma culta” ou “padrão”, em detrimento de outras normas, configura a perda da identidade de um determinado segmento social. Com isso, não se consegue uma compreensão mais completa dos fatos lingüísticos permitidos pelo sistema da língua. Ao mesmo tempo, deixar de ministrar a norma padrão impede o acesso do aluno a um estrato social considerado superior e impede, também, seu acesso à tradição cultural escrita. Num caso e no outro, há prejuízo no desenvolvimento da competência comunicativa.
É, pois, desejável que o aluno compreenda o maior número possível de normas a fim de alcançar sua plena integração na comunidade sócio-lingüístico-cultural onde vive.
Sistema
Os fatos de sistema são modelos abstratos,constituídos
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