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LEITURA MECÂNICA X LEITURA COMPREENSIVA EM UMA TURMA DO 7º ANO

Ensaios: LEITURA MECÂNICA X LEITURA COMPREENSIVA EM UMA TURMA DO 7º ANO. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicos

Por:   •  24/4/2013  •  10.764 Palavras (44 Páginas)  •  6.573 Visualizações

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RESUMO

Este trabalho teve como proposta uma análise da leitura realizada na escola, onde pude constatar que alguns alunos do 7º ano não correspondiam ao esperado para esta série, pois não liam e não conseguiam compreender o que estava sendo lido e, consequentemente, apresentavam dificuldades na resolução de atividades. Percebi, a partir daí, que se fazia necessário desenvolver um trabalho para identificar as possíveis causas deste ‘problema’ bem como a importância de se estimular a prática de leitura autônoma e significativa, a fim de conduzir o aluno a uma visão ampla dos textos e que, com a aquisição dessa habilidade, seja capaz de interagir de maneira mais ativa e satisfatória com a sociedade em que vive, além de fazer uma (re)análise da necessidade de uma prática de ensino de leitura expressiva que lhe permita tornar-se um cidadão criativo e consciente que possa compreender, analisar e se destacar na sociedade em que vive.

Palavras-chave: Leitura. Leitura significativa. Ensino. Objetivos.

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .............................................................................................. 9

2. APRESENTANDO A ESCOLA E OS SUJEITOS DA PESQUISA ..............10

3. DEFININDO O QUE É LEITURA .................................................................12

3.1 Leitura Mecânica x Leitura Compreensiva .............................................. 12

4. A TURMA E A LEITURA ..............................................................................15

4.1 Leitura silenciosa e leitura mediada ..........................................................16

4.2 Avaliação e Progresão continuada ........................................................... 18

5. ANÁLISE DOS RESULTADOS ................................................................... 23

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS .........................................................................24

7. REFERÊNCIAS ...........................................................................................25

8. ANEXOS.......................................................................................................26

1. INTRODUÇÃO

A leitura é uma atividade de grande importância para a vida de cada indivíduo. É ela que nos permite interagir e compreender o mundo e as pessoas ao nosso redor, além de auxiliar na nossa formação, realizar tarefas que contribuem para que cresçamos enquanto pessoas e para agirmos de modo ativo e crítico na sociedade em que vivemos. Contudo, no que se refere ao ensino de leitura nas escolas, verifiquei que, infelizmente, essa prática tem sido colocada em segundo plano para que outras possam ser priorizadas. Atividades, que muitas vezes, não levam o aluno a lugar algum, isto é, atividades que não partem do conhecimento nem das necessidades do alunato e, nem tampouco, são capazes de considerá-los o ‘marco zero ‘ para se realizar um ensino mais produtivo.

Preocupada com esta situação, minha escolha para realização desse trabalho deve-se ao fato da grande dificuldade que muitos alunos apresentam quanto à leitura e compreensão de textos diversos. Durante minhas idas e vindas no meio escolar, pude constatar e creio eu, muitos outros docentes, que um dos maiores problemas enfrentados por nós- professores - é que muitos de nossos discentes liam e não compreendiam o que estavam lendo. Como consequência disso, tinham dificuldades na resolução de atividades de interpretação textual. Seja por desatenção, desmotivação, por não encontrarem sentido no texto ou, ainda, por não encontrarem um objetivo no que se estava lendo, o fato é que precisava fazer uma intervenção com minha turma, desenvolvendo uma atividade que não só identificasse as possíveis causas dessa dificuldade, bem como estimulasse a prática de uma leitura autônoma e significativa.

“A leitura que não surge de uma necessidade para chegar a um propósito não é propriamente leitura”(KLEIMAN, 2004, p.35).

Diante de tal situação e baseando-me nas propostas de Kato e Smith no que diz respeito à leitura significativa, espero poder, ao fim desse trabalho, responder a seguinte questão: a escola poderá resgatar a leitura compreensiva numa turma em que a leitura mecânica perdurou por anos?

Antes de responder a essa questão, é preciso, primeiramente, tentar responder a outras questões, digamos, básicas: O que é leitura? O que era, tradicionalmente, chamado de leitura? Qual a diferença entre leitura mecânica e leitura significativa?

2. APRESENTANDO A ESCOLA E OS SUJEITOS DA PESQUISA.

Minha atividade de pesquisa e trabalho tem como foco a Escola Municipal “Michael Pereira Souza” cujo nome é uma homenagem a Michael Pereira de Souza, pai do ex-prefeito Gualter Pereira Monteiro que administrava a cidade na época de sua construção. Ela está situada à Rua Danilo José Gonçalves, S/N, no Bairro da Praia, no município de Congonhas – MG, tendo sido criada pelo decreto nº 3.733, de 12/01/2004. Foi denominada “Michael Pereira de Souza” em homenagem a este grande homem, incansável colaborador nas causas sociais de Congonhas, especialmente na Sociedade São Vicente de Paula.

O corpo discente está compreendido entre as faixas etárias de 10 a 19 anos. Em sua estrutura, a escola possui: 10 funcionários administrativos; 46 professores; 3 pedagogas; 1diretor; 1 vice-diretor e 27 turmas.

A Escola Municipal “Michael Pereira Souza” atende a dois turnos: das 7h às 11h30min, para as turmas de oitavos anos ( 7 ), nonos anos ( 6 ) e das 12h30min às 17h, para as turmas de sextos anos ( 8 ) e sétimos anos( 6 ). A fim de promover a socialização entre os alunos, os turnos contam com um intervalo de 20 minutos, podendo, também, ser utilizado para lanches e utilização de secretaria e biblioteca pelos alunos. Neste ano de 2012 encontram-se matriculados529 alunos distribuídos no turno da manhã ( 243 ) e no turno da tarde ( 286 ) oriundos dos bairros adjacentes à Escola que procura conscientizá-los sobre a importância de se socializar e aceitar o colega, de forma cidadã, numa acolhida agradável e que respeite as particularidades do outro. Dessa forma, nós, professores, temos o cuidado de observar as dificuldades de relacionamentos entre os alunos, procurando trabalharmos estas diferenças, buscando promover o respeito e a confiança mútua. Se por ventura nossa atuação não for suficiente na intervenção, contamos com o apoio incondicional da equipe administrativo-pedagógica, que promove o diálogo e as alternativas para uma integração que resulte em harmonia e o direito à participação igualitária.

Para enturmação das classes, é comum observar a faixa etária dos alunos, procurando equilibrar o número de alunos e de alunas por turma. Quanto aos reprovados, estes são distribuídos, também de acordo com a idade, nas turmas, de modo a se promover um equilíbrio. As turmas possuem cerca de vinte a vinte e sete alunos, conforme o tamanho das salas de aula.

Um dos desafios enfrentados pela Escola é conseguir a adesão dos pais quanto ao acompanhamento aos filhos e às atividades da escola, mesmo com os constantes convites e convocações.

Estamos cientes que com o passar dos tempos, a família tem mudado seu perfil e, por isso, é importante que os professores e comunidade escolar também mudem, adaptando-se à realidade de seus alunos. Assim, eles são orientados através de “combinados” e medidas disciplinares construídas a partir do apoio e participação dos mesmos. Posteriormente as decisões acertadas entre discentes e docentes são repassadas aos pais. Estes, na medida do possível, também participam através do Colegiado e/ou Conselho Escolar.

O intuito dessas ações visa lembrá-los de que todos têm uma função a cumprir na tarefa de educar e que incluir socialmente o aluno como um cidadão crítico e ciente de seu papel na sociedade em que vive, será mais fácil e até porque não dizer, “prazeroso”.

O espaço escolar possui uma distribuição satisfatória de salas de aula, biblioteca, refeitório amplo, laboratório de informática, quadra esportiva, uma “sala recurso” que tem como objetivo atender alunos de inclusão com necessidades especiais e um amplo espaço para socialização e convivência dos alunos durante o intervalo.

Promover reuniões extraordinárias é outro problema enfrentado pela Escola, pois muitos docentes têm atividades em outras instituições. Apesar disso, a equipe administrativa e até mesmo a Secretaria Municipal de Educação procuram promover a integração entre profissionais da mesma disciplina, através de projetos, programas e de um planejamento único para o município.

3. DEFININDO O QUE É LEITURA

De acordo com o dicionário Aurélio (2001) LER é: “percorrer com a vista o que está escrito, proferindo ou não as palavras, mas conhecendo-as e interpretando-as". À proporção que o indivíduo começa a se apropriar do código da leitura, passa a identificar símbolos, transmitindo-os para o conceito intelectual. Como o processo mental não se resume apenas a uma compreensão das ideias, mas, principalmente, na sua interpretação, os processos de identificação e transmissão devem caminhar lado a lado. Para que a leitura aconteça é necessário que os olhos percorram os símbolos e a cada pausa sejam memorizadas as letras e por consequência as palavras combinando os sons para o armazenamento mental.

Há alguns anos, convencionou-se denominar leitura com sendo uma atividade mecânica de decodificação de palavras, ao ato de garimpar sentidos que estariam prontos no texto. Dessa forma, acreditava-se que, para que pudesse se formar um bom leitor, bastava apenas ensinar a ler no primeiro ano de escolaridade, ou seja, em seu período de alfabetização e, posteriormente, o discente já estaria apto para ler qualquer texto. Contudo, sabemos que não é bem assim. O aluno em tão curto período de tempo não conseguia desenvolver habilidades suficientes para levá-lo a compreender os vários tipos de texto com os quais se deparava pela frente e, consequentemente, a culpa desse infortúnio caía sobre ele mesmo. Assim sendo, o culpado, o incompetente por não saber ler era o aluno.

Portanto, para que se possa dizer que houve realmente uma leitura, é preciso deixar claro que ler não é simplesmente uma decodificação dos símbolos (letra), mas entendê-las e interpretá-las. É o momento em que o leitor produz sentidos a partir das relações que consegue estabelecer entre as informações contidas no texto e seus respectivos conhecimentos.

Mas o que vem a ser Leitura Mecânica e o que é Leitura Significativa ou Compreensiva? Há diferenças entre elas?

3.1 Leitura Mecânica x Leitura Compreensiva

Como leitura mecânica, entendo que seja aquela em que os alunos leem, mas não compreendem o que foi lido, uma vez que não são capazes de reproduzir o que leram. Nesse tipo de leitura, a informação fica solta dentro da estrutura cognitiva do indivíduo, sem possibilidade de encaixe.

Assim, podemos compreender que muitas vezes a leitura, realizada dentro do ambiente escolar, acaba se tornando uma atividade desmotivadora, mecânica que não leva a nenhum aprendizado, tendo em vista que os objetivos traçados pelo professor para a leitura de um determinado texto, nem sempre satisfaz o interesse de todos os alunos e isso faz com que o ato de ler seja desinteressante.

Durante o desenvolvimento de meu trabalho e antes de entregar a meus alunos os textos que iríamos trabalhar, fiz algumas intervenções sobre o ato de ler e obtive as seguintes respostas:

“Muitas vezes deixo de ler, não porque o texto seja grande, mas porque o professor nunca me perguntou de que tipo de texto eu gostava.” Deixo de ler e muitas vezes não me dou bem nas interpretações, porque os textos são praticamente iguais. Então se estou com dificuldade no primeiro texto, é claro que também não vou me dar bem nos outros.” “Detesto fazer atividades de interpretação de textos, porque não tenho prática em leitura. Em casa, é minha mãe ou pai que lê para mim o que tenho que fazer nas minhas tarefas.” “Até que gostava de ler e fazer interpretações de textos,porque era muito fácil, as perguntas vinham sempre na ordem em que as respostas apareciam no texto; hoje, não é assim, temos que “ver coisas que não aparecem nos textos”, então fica difícil interpretar.” O difícil de interpretar textos é que o professor trabalha em sala de aula de um jeito e cobra de outro em atividades avaliativas. Por que não escolhem textos que tenham “ligação” com o que foi dado em sala? Assim já teremos uma ideia do assunto que será cobrado?

Ainda que muitos pensem que os alunos não tenham motivos ou fundamentos para cobrar de nós, professores, percebi que os levantamentos feitos por eles são perfeitamente pertinentes. Ora, se queremos levá-los a se tornarem leitores, por que não ouvi-los? Por que não partir do interesse deles por determinado tipo de texto e/ou até mesmo tipo de interpretação para instigá-los a querer cada vez mais ler,e ler textos os mais variados possíveis? Não é nosso dever propor-lhes, durante as aulas de leitura, textos que lhes despertem o interesse , a fim de que possam definir objetivos para a leitura do texto a ser trabalhado e, em consequência disso, sejam “convidados” a lerem outros textos?

De acordo com Delaine Cafiero, tradicionalmente, a leitura foi considerada como uma atividade mecânica de decodificação de palavras, de garimpar sentidos que estariam prontos no texto. Entretanto, hoje; já sabemos que ela vai muito além de uma simples decodificação de símbolos- letras. A leitura compreensiva é aquela em que os alunos ao lerem, conseguem compreender, atribuir sentido para o que leem.

Para Solé, “um processo de interação entre leitor e o texto; neste processo, tenta-se satisfazer os objetivos que guiam sua leitura”. (1996, p.22)

Ora, já sabemos que a leitura é a interpretação, o questionamento, a crítica, é a dedução. Ela é de grande importância para o ser humano e, como tal, não pode ser vista como um evento ou fenômeno físico inerente ao ser humano.

Então, quando um aluno não lê e/ou não compreende o que foi lido,é necessária a intervenção do professor, desenvolvendo atividades, estratégias de leitura que o auxiliasse no entendimento do texto e o ajude a atingir seus objetivos.

Segundo Kato,

O leitor proficiente é aquele que faz uso apropriado dos processos ascendentes e descendentes, o que os torna um leitor ao mesmo tempo fluente e preciso. As estratégias são determinadas por vários fatores: o grau de novidade do texto, o local do texto, o objetivo da leitura, a motivação para a leitura etc.. (1985, p.53 e 54).

Pensando em tais palavras, e, a fim de dar continuidade ao meu trabalho, questionei os alunos que diziam gostar de ler, o porquê de muitas vezes não se sairem bem nas atividades de interpretação. Meio ressabiados quanto ao que deveriam responder, demoraram um pouco, mas depois foram se soltando e deram-me as seguintes respostas:

“Sempre gostei muito de ler, mas meu maior medo era na hora de interpretar, não sabia que podíamos interferir com conhecimentos que já tinha, pois sempre que fazia isso minha professora ou mãe dizia que eu deveria responder somente com o que o texto nos dava, ou seja, era como se o texto fosse fechado e eu não pudesse dar minha opinião.”; “ nunca consegui ver o que os professores queriam na hora da interpretação: se dava respostas iguais às do texto, a professora dizia que eu só copiava, se falava com minhas próprias palavras e de acordo com o que eu entendia, a professora ‘brigava’,dizendo que eu não ‘podia’ sair mudando as coisas, as respostas deveriam ser como o gabarito que ela tinha.”

Era preciso fazê-los entender que ler não é uma mera forma saber o que o outro pensa ou deixa de pensar a respeito daquilo que seu texto aborda,o mais importante, talvez, é levar em conta que a leitura é uma maneira de conectar as pessoas umas com as outras, é como estar unidos pela internet, “recebendo e enviando” informações, é estar “on- line” na realidade do outro, é entender que sem o outro o seu ponto de vista é apenas mais um ponto de vista.

Assim sendo, é fundamental que nós, educadores, tenhamos sensibilidade para perceber as dificuldades dos educando para fazermos as devidas intervenções de maneira satisfatória, levando-os à construção da leitura.

4. A TURMA E A LEITURA

A turma do 7ºano 701 é composta por alunos de idades entre 11 a 13 anos, oriundos do mesmo bairro e também de outros bairros da cidade. A clientela é diversificada em relação à situação sócio-financeira e cultural.

Apesar de a prática de leitura se realizar na sala de aula através do uso de livros didáticos e paradidáticos, revistas, jornais entre outros e de a biblioteca da escola ter grande influência nesta prática, já que os alunos são sempre incentivados e convidados a freqüentarem este espaço, podendo ficar a vontade para escolherem o que quiserem ler, inclusive tendo a liberdade de levar livros para casa, como professora de Língua Portuguesa, observei que alguns alunos apresentam uma certa dificuldade em compreender as atividades de interpretação. Percebi, também, que a leitura de alguns deles não correspondia ao esperado para essa etapa da escolaridade, pois a maioria lia e não entendia aquilo que estavam lendo. Isto ficava mais evidente, principalmente, quando ao fazer a leitura para eles, estes compreendiam e conseguiam resolver as atividades propostas. Nos instrumentos avaliativos, a turma também obtinha maior êxito quando as provas eram lidas para eles. Daí a necessidade de desenvolver um trabalho para identificar as possíveis causas desta falta de compreensão na leitura autônoma. Seria uma defasagem no processo de alfabetização ou falta do hábito de leitura?

“Em casa não temos hábito de leitura, pois meus acham que lugar de ler é na escola.””É tarefa do professor e não dos pais colocarem os alunos para ler.” “Minha mãe diz que ela dá um duro danado em casa o dia todo e ,quando chego, eu devo ajudá-la e não ficar à toa lendo”. “Às vezes eu até leio, professora, mas só se o livro for pequeno. Livro ‘grande’ demais, cansa.” Eu não gosto de ler e nem preciso, pois minha mãe faz isso ‘pra’ mim.”

Meu objetivo geral era investigar a questão da leitura compreensiva para tentar elucidar os processos de leitura de meus alunos. Especificamente era preciso verificar o nível de compreensão dos alunos de textos de gêneros selecionados; avaliar a leitura e compreensão dos textos no decorrer do desenvolvimento das atividades; apontar estratégias de ensino e aprendizado da leitura que contribuíssem para o desenvolvimento da leitura compreensiva pelos alunos e, graças ao depoimento de alguns deles, obtive um norte para dar partida ao meu projeto.

Apoiando-me nas ideias de Kleiman (2004), que afirma que” é papel da escola a responsabilidade da aprendizagem da criança e que, por essa razão, a leitura deve proporcionar uma interação entre o interlocutor e o autor do texto, ou seja, é necessário que se ensine a criança a compreender o texto escrito”.É preciso, assim, ensinar além da decodificação,a compreensão, apreciação do texto.Compreendi que quando propunha atividades que despertavam interesses que iam muito além de localizar informações contidas no texto, ou de uma mera transposição de conceitos nele apresentados, os alunos não só relacionavam e integravam as partes do texto,mas também eram capazes de refletir sobre o seus sentidos captando as intenções e informações implícitas, percebendo relações com outros contextos, gerando mais sentido para o texto.

4.1 Leitura silenciosa e leitura mediada

A leitura é um processo de interação entre leitor e o texto; neste processo, precisamos tentar satisfazer os objetivos que guiam sua leitura. Esta deve ter um objetivo seja ele qual for: pelo simples prazer de se ler, obter informações, para se fazer um resumo, seguir instruções para a realização de uma atividade ( fazer uma receita, tomar um remédio, participar um jogo qualquer etc..).

Pensando nisso, o primeiro passo para se colocar em prática meu trabalho foi a escolha dos textos. Era preciso aqui selecionar aqueles que pudessem realmente despertar o interesse dos alunos, a começar dos que liam por ler; dos que liam e não compreendiam o que o texto queria lhes ‘contar’; dos que não tinham interesse algum por leitura até chegar naqueles alunos que gostavam de ler. Ora se o trabalho visava à prática da leitura, não podiam os textos escolhidos ‘frear’ o hábito dos amantes da leitura, ‘tirando-lhes com a ‘inércia’ apresentada por textos, que segundo a turma, são ‘chatos’ e não nos dizem nada.

O primeiro texto, uma fábula, contava a história de como os poderosos são capazes de manipular o poder para favorecer os ‘grandes’ e oprimir cada vez mais os ‘pequenos’.

Apesar do tamanho do texto, o que a princípio, foi motivo de reclamação para alguns, no decorrer da leitura e à medida que as intervenções eram feitas, segundo as próprias necessidades dos alunos , até mesmo aqueles que teimavam em dizer que ler é uma coisa chata e sem emoção, foi despertando o interesse deles e levando-os a participar dos debates e de fazerem associações com fatos da comunidade local.

A leitura silenciosa foi o começo de tudo, mas terminado esse tempo de (re)conhecimento do que se estava lendo, espantei-me com a quantidade de voluntários em fazer a leitura comentada. A cada parágrafo lido por mim, mais e mais alunos queriam dar seu depoimento quanto ao que puderam apreender do texto.

Lida a fábula, o segundo ‘round’ era interpretá-la.

“Não sabia bem o que era unanimemente,mas a dica para acertar essa questão foi ler o último parágrafo do texto. Lá, estava escrito assim:’Toda a bicharada(...) então percebi que era algo relacionado a todos.”” A segunda questão foi como uma ‘pegadinha’, se a professora não tivesse explicado anteriormente a matéria- fábula- com certeza eu iria errar essa, pois as alternativas eram muito parecidas.””As questões 3 e 5 foram as mais difíceis, foi preciso ler, ler e ler várias vezes, mas mesmo assim ainda errei a de número 5, não lembrava bem o que era conflito.” “A questão 4 não era muito difícil, mas se não tivesse lido novamente o texto, acho que erraria.”

Alunos fazendo leitura dos textos

A questão que obteve o maior índice de erro foi a de número 2, que consistia em relacionar o texto com a definição de fábula. Creio que o que dificultou o entendimento dela foi a “jogada” com as palavras, deixando as alternativas com sentidos muito próximos.

Como foi trabalhado em sala o tema Lendas, o texto escolhido para a segunda análise foi uma lenda, a Lenda do Guaraná.Iniciamos como no primeiro: leitura silenciosa, leitura mediada pela professora e interferências dos alunos quando achavam necessário alguma intervenção.

O número de acertos foi quase idêntico ao primeiro. As questões que causaram um maior, digamos assim, “desconforto” quanto à compreensão foram: as de número 7 e 8.

“Não tinha certeza do que se tratava a palavra ‘referência’.” Sempre pensei que ‘pobre’ estivesse ligado ao fato de alguém não possuir dinheiro e quando vi a palavra ‘mendigo’, nem pensei muito e fui logo marcando. Mas agora percebi que dei ‘bobeira’ mesmo.

Momento de ‘discussão’ sobre o texto lido

Apenas três alunos não acertaram a questão 6, disseram que a dificuldade estava relacionada ao fato de terem que correlacionar o trecho dado com as alternativas. Para eles, apesar de “estar na cara”, tiveram a impressão de que poderia ser um tipo de “pegadinha”,pois, segundo estes, a professora anterior sempre fazia isso com eles.

“Às vezes, quando pensávamos que era simples, a professora complicava, e, quando podia ser simples, era complicado. Sei que pareço meio doido, professora, mas é que a gente sempre era enganado com alguma questão que parecia ter todas as alternativas corretas.”

O terceiro texto, A Princesa Rosa- Choque foi o que mais despertou o interesse dos alunos e o índice de erros quanto à interpretação foi quase que nulo, apenas um (1) aluno errou a segunda questão. Segundo ele,”nunca me interessei muito por contos de fadas, acho que isso é muito chato, são histórias que nada contribuem com nosso aprendizado ou formação.”

Leitura mediada realizada após leitura silenciosa.

O quarto texto, a tirinha provocou risos e levou a turma a uma reflexão; os textos podem se relacionar com outros já existentes. Ver a Magali, uma personagem tão atual e querida na pele de uma princesa foi muito divertido e facilitou compreender de que se tratava a ‘história’.

Momento de interação: debates, questionamentos e posicionamento. Releitura dos textos.

“Nunca pensei que os textos antigos pudessem se tornar tão atuais.” “’Ler’ os desenhos ajudou bastante, acertar a questão, foi’ moleza’.

O quinto texto o conto” Luz Verde”, de Carlos Queiroz Telles, na concepção dos alunos era muito grande, trazia palavras difíceis, uma vez que não pertencem ao nosso idioma, mas chamou a atenção deste por se tratar de uma versão bem atualizada de um conto bem conhecido pela maioria: “A Bela e A Fera” de Gabrielle-Suzanne Barbot, a Dama de Villeneuvee.

“O mais ‘gostoso’ deste texto foi ver o quanto o conto de fadas está presente em nosso dia a dia e a gente nem percebe.” “E eu que achava que contos de fadas eram apenas historinhas bobas para crianças.” “Eu disse que contos de fadas não ensinam nada, estava errado sempre podemos tirar alguma lição das histórias lidas”.

Questionados sobre as palavras “difíceis”, responderam:

”Que nada, professora, ouvimos isso na televisão quase o tempo todo quando assistimos às corridas de Fórmula 1, só não sabia como se escrevia.” “Achei que o texto, como era grande seria chato, mas a cada parágrafo que lia, sentia mais e mais vontade de ler. Ele era cheio de emoção.”

Quanto às questões de maior dificuldade, as ‘campeãs’ foram as de números 6 e 7. A primeira, porque todas tinham ligação com fatos relacionados ao texto e eles não prestaram muita atenção ao termo grifado ‘ principalmente’ e a de número 7, obteve o maior percentual de erros de toda a atividade proposta, pois, na versão deles, ainda não possuem o hábito de dar a própria opinião, pois passaram muito tempo retirando as respostas, praticamente, prontas do texto. Apenas dez (10) alunos, atreveram-se a dar uma resposta baseando-se no que apreenderam da história.

“A luz verde marca o início de uma nova corrida para o grande campeão; agora, foi dada a largada para o grande e mais importante Grande Prêmio da vida dele: o recomeço, morreu o piloto e ficou o homem que será amado pelo que é e não pelo que representa.”

O conto “Luz Verde” instigava o aluno a ler, a ler e não querer desgrudar os olhos do papel.

O sexto texto trouxe o poema de Mario Quintana, constatei que a leitura de poemas deve ser mais trabalhada, pois foi o texto com maior índice de erro. Apenas cinco pessoas conseguiram explicar com as próprias palavras de que se tratava o texto. Quanto à segunda questão, letra a, descobrir o significado do verbo atravancar não foi tão difícil, depois de eu ter feito minha intervenção. Mas, no que diz respeito à letra b, foi, segundo eles, quase que uma chance em mil perceber que passarão tanto podia significar um verbo quanto ter valor de substantivo.

“Se eu conjugar o verbo passar, sei que vou encontrar, no futuro do presente do indicativo, passarão, mas, como eu ia saber que passarão poderia, também, estar relacionado ao ‘aumentativo’ de passarinho?” Essa é uma questão para a gente errar, né, professora?”

O sétimo e último texto foi a questão referente aos sentidos denotativo e conativo e a margem de erros foi muito pequena.

“Professora, ‘de cara’ já gostei do texto. Era engraçado, divertido. Que bom que podemos perceber que ler pode ser divertido. Assim fica mais fácil aprender.”Não tinha como errar, era só ler os quadrinhos.””Isso prova que temos que tomar cuidado com o que falamos ou escrevemos, porque as pessoas podem ’entender tudo errado’.

5. ANÁLISE DOS RESULTADOS

Percebi que era preciso tomar cuidado com as questões colocadas para que eles interpretassem, nem tudo que parece ser óbvio para nós, o é para os alunos. Outro cuidado que devemos ter é com a seleção de textos. Muitas vezes devido à correria do dia a dia, temos o hábito de retirar textos com interpretações já prontinhas para serem copiadas da net e nem nos preocupamos se os mesmos são de interesse ou de fácil compreensão de nossos alunos. Fazemos a seleção apenas por comodismo ou para facilitar nosso trabalho em elaborar exercícios e/ou provas pré-selecionados por outros professores sem nenhuma relação com nossa clientela. É como se elaborássemos as avaliações pela simples obrigação de ter que elaborar, de ter que apresentá-las para cumprir uma obrigação imposta pelo sistema ao avaliarmos nossos alunos.

Esquecemos que o deve ser levado em conta é o educando.Primeiramente, é preciso levar em conta o conhecimento prévio que ele tem desse ou daquele tipo de texto.Já que, é esse conhecimento que lhe permitirá chegar à compreensão do texto. Nele, o leitor utilizará tudo que já sabe, todo seu conhecimento adquirido ao longo da vida. E, essa é a verdadeira leitura, não aquela feita letra por letra, mas a que se faz à proporção que vai lendo, vai fazendo antecipações e inferências sobre o conteúdo do que foi lido. É fundamental que o ensino de leitura esteja voltado para as reais necessidades dos alunos e cabe à escola, ou seja, é uma tarefa de todos nós, professores, repensar essa prática e criar condições para a realização de um ensino interativo, onde aluno e texto dialoguem entre si.

É preciso que tenhamos consciência de que é necessário motivar os alunos a estabelecerem objetivos para suas leituras e que consideremos seus conhecimentos prévios para termos um ensino produtivo e eficaz. Somente com uma prática de ensino em que o ato de ler se torne para os alunos uma prática significante e com motivação para futuras leituras, poderemos formar não só bons leitores, como também alunos conscientes, criativos que sejam capazes de compreender, analisar e se destacarem na sociedade em que vivem.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo deste trabalho foi fazer uma reflexão sobre como as práticas de leitura vem sendo trabalhas em sala de aula e o porquê de alunos do 7º ano apresentarem, muitas vezes, ‘aversão’ quando se é trabalhado interpretação de textos e outras atividades relacionadas a leitura, quer seja de livros didáticos, paradidáticos ou qualquer outro objeto de leitura e de como a escolha de textos diversificados, juntamente, com a leitura significativa podem ser usados como alternativa para a formação de leitores na escola.

Através dele foi possível concluir que se faz necessário propor aos educando atividades de leitura em que eles possam interagir com o texto, descobrindo-lhes seus ‘mistérios’ e encantos.

Pude compreender que o ensino de leitura deve estar fundamentado nas necessidades reais dos alunos e que cabe à escola repensar a sua prática e proporcionar condições para a realização de um ensino em que docentes e discentes possam caminhar juntos na realização de um ensino qualitativo.

Para que esse objetivo seja alcançado, é preciso que nós, professores, adotemos uma nova postura em nossas aulas de leitura, saindo do tradicionalismo ‘secular’ e adotando uma postura mais voltada para nosso objeto de ensino: o aluno leitor. É preciso, pois, que tenhamos consciência de que o leitor e o texto mantêm uma relação de interação e , dessa forma, percebermos a necessidade de uma prática de ensino em que o ato de ler, outrora chato, angustiante e carregado de tédio, torne-se para os alunos algo tão significante que não só os motive a leituras futuras, bem como possa ser um recurso para a formação de leitores competentes, de cidadãos conscientes, criativos, podendo ser capazes de compreender, analisar e sobressaírem no meio em que vivem.

REFERÊNCIAS

CAFIEIRO, Delaine. Leitura como processo: caderno do professor. Belo Horizonte: Ceale/Far/UFMG, 2005.

KATO, Mary. O aprendizado da leitura. 1 ed. São Paulo: Livraria Martins Fontes Editora Ltda., 1985.

SOLÉ, Izabel.Estratégias de Leitura SOLÉ, Isabel. Estratégias de Leitura. Porto Alegre: Artmed, 1996.

KLEIMAN, A. B. 1989. Texto e Leitor: Aspectos Cognitivos da Leitura, São Paulo, SP: Editora Pontes, 82 pág. 8ª edição, 2004.

TELLES,Carlos Queiroz. Sete faces do conto de fadas.Editora Moderna

LOBATO, Monteiro. Fábulas, Editora Globo, São Paulo, SP:2012

QUINTANA, Mario.Eu Passarinho, Col. Para Gostar de Ler, São Paulo, SP:Editora Ática.

ANEXOS

Texto 1- Os Animais e a Peste

Em certo ano terrível de peste entre os animais, o leão, mais apreensivo, consultou um macaco de barbas brancas.

- Esta peste é um castigo do céu – respondeu o macaco – e o remédio é aplacarmos a cólera divina sacrificando aos deuses um de nós.

- Qual? – perguntou o leão.

- O mais carregado de crimes.

O leão fechou os olhos, concentrou-se e, depois duma pausa, disse aos súditos reunidos em redor:

- Amigos! É fora de dúvida que quem deve sacrificar-se sou eu. Cometi grandes crimes, matei centenas de veados, devorei inúmeras ovelhas e até vários pastores. Ofereço-me, pois, para o sacrifício necessário ao bem comum.

A raposa adiantou-se e disse:

- Acho conveniente ouvir a confissão das outras feras. Porque, para mim, nada do que Vossa Majestade alegou constitui crime. São coisas que até que honram o nosso virtuosíssimo rei Leão.

Grandes aplausos abafaram as últimas palavras da bajuladora e o leão foi posto de lado como impróprio para o sacrifício.

Apresentou-se em seguida o tigre e repete-se a cena. Acusa-se de mil crimes, mas a raposa mostra que também ele era um anjo de inocência.

E o mesmo aconteceu com todas as outras feras.

Nisto chega a vez do burro. Adianta-se o pobre animal e diz:

- A consciência só me acusa de haver comido uma folha de couve da horta do senhor vigário.

Os animais entreolharam-se. Era muito sério aquilo. A raposa toma a palavra:

- Eis amigos, o grande criminoso! Tão horrível o que ele nos conta, que é inútil prosseguirmos na investigação. A vítima a sacrificar-se aos deuses não pode ser outra porque não pode haver crime maior do que furtar a sacratíssima couve do senhor vigário.

Toda a bicharada concordou e o triste burro foi unanimemente eleito para o sacrifício.

Moral: Aos poderosos, tudo se desculpa…Aos miseráveis, nada se perdoa.

Questão 1- No trecho “(...) o triste burro foi unanimemente eleito...”, de acordo com o significado da palavra destacada, podemos afirmar que:

a- o tigre cometeu mil crimes.

b- o leão teve um voto na eleição.

c- a raposa não manipulou a votação.

d- o desejo de toda a bicharada não foi acolhido.

e- o burro foi eleito por todos para o sacrifício.

Questão 2- A partir da leitura do texto podemos definir fábula como:

a- narrativa mais ou menos longa que contém uma historinha.

b- narrativa curta que contém uma lição de moral.

c- dramatização curta com moral no fim.

d- dramatização longa que contém uma lição.

e- texto descritivo com final feliz.

Questão 3 – Assinale abaixo a idéia principal do texto.

a- O leão estava apreensivo com a peste.

b- A raposa sabia enganar os outros bichos.

c- Os fatos podem ser manipulados para ajudar uns e prejudicar outros.

d- A verdade sempre prevalece nas discussões.

e- A peste é um castigo do céu.

f-

Questão 4- No texto, a raposa é caracterizada por ser:

a- bajuladora.

b- chata

c- bela

d- feia

e- amigável

Questão 5-O conflito da história se estabeleceu quando:

a- o leão se apresentou para o sacrifício.

b- o macaco de barbas brancas deu sua opinião sobre a peste.

c- a raposa mostrou que o tigre era um anjo de inocência.

d- o burro comeu a sacratíssima couve do vigário.

e- a bicharada concordou com a última fala da raposa.

Texto 2 : Lenda do guaraná

Em uma aldeia dos índios Maués havia um casal, com um único filho, muito bom, alegre e saudável. Era muito querido por todos de sua aldeia, o que levava a crer que no futuro seria um grande chefe guerreiro.Isto fez com que Jurupari, o Deus do mal, sentisse muita inveja do menino. Por isso resolveu matá-lo. Então Jurupari transformou-se numa enorme serpente e, enquanto o indiozinho estava distraído, colhendo frutinhas na floresta, ela atacou e matou a pobre criança.

Seus pais, que de nada desconfiavam, esperaram em vão pela volta do indiozinho, até que o Sol foi embora. Veio a noite e a Lua começou a brilhar no céu iluminando toda a floresta. Seus pais já estavam desesperados com a demora do menino. Então toda a tribo se reuniu para procurá-lo.

Quando o encontraram morto na floresta, uma grande tristeza tomou conta da tribo. Ninguém conseguia conter as lágrimas. Neste exato momento uma grande tempestade caiu sobre a floresta e um raio veio atingir bem de perto do corpo do menino.Todos ficaram muito assustados. A índia-mãe disse:

“- É Tupã que se compadece de nós. Quer que enterremos os olhos de meu filho, para que nasça uma fruteira, que será nossa felicidade”.

Assim foi feito. Os índios plantaram os olhinhos da criança imediatamente, conforme o desejo de Tupã, o rei do trovão.

Alguns dias se passaram e no local nasceu uma plantinha que os índios ainda não conheciam. Era o guaranazeiro. É por isso que os frutos do guaraná são sementes negras rodeadas por uma película branca, muito semelhante a um olho humano.

Questão 1- Leia o trecho: ”Em uma aldeia dos índios Maués havia um casal, com um único filho, muito bom, alegre e saudável. Era muito querido por todos de sua aldeia, o que levava a crer que no futuro seria um grande chefe guerreiro”. Por este trecho podemos afirmar que o texto é uma:

( ) notícia ( ) propaganda ( ) história

Questão 2- Na frase “Isto fez com que Jurupari, O Deus do mal, sentisse inveja do menino”, a palavra grifada faz referência a:

( ) ao fato do indiozinho ser muito querido ( ) aos pais do indiozinho

( ) à enorme serpente

Questão 3- No trecho “… ela atacou e matou a pobre criança”, a expressão grifada significa que o índio:

( ) não tem o necessário para viver. ( ) é um mendigo. ( ) inspira compaixão.

Questão 4- De acordo com o texto, a frase que explica como o guaraná nasceu é:

( ) “Diz a lenda que o guaraná nasceu de uma paixão”.

( ) “Os índios plantaram os olhinhos da criança e dias depois nasceu uma planta: o guara-nazeiro”.

( ) “ Nascia na Fazenda Santa Helena o laboratório para produção do guaraná”.

Questão 5 - Os frutos do guaraná são parecidos com os olhos humanos porque são:

( ) frutos mágicos de Deus Tupã

( ) sementes negras rodeadas por uma película branca.

( ) os olhinhos da criança da tribo Maués.

Texto 3- A princesa Rosa- Choque

Béatrice Garel e Muzo

Do alto da torre de seu castelo, a princesa Rosa- Choque sonhava com o príncipe encantado.

_ Como vou encontrá-lo? _ perguntou ela, suspirando. _ A Bela Adormecida, a Cinderela, a Branca de Neve, todas elas se casaram com o príncipe de seus sonhos. O que elas fizeram?

Rosa- Choque foi perguntar à sua fada-madrinha. E ela lhe respondeu num tom misterioso:

_Tudo o que posso lhe dizer é que antigamente os príncipes apareciam para salvar as princesas que corriam perigo.

A princesa pensou, pensou...

_ Tenho uma ideia! _ exclamou ela.

_Vou pedir ao velho dragão, que mora no meio da floresta, para me sequestrar. Assim, vou correr perigo!

Rosa- Choque foi imediatamente encontrar o dragão e lhe contou o que desejava. O dragão respirou fundo:

_ Ah! Estou velho e cansado demais para sequestrar você. Mas se me der um tablete de chocolate, talvez eu consiga lançar uma chama ou duas.

_ Combinado! _ disse Rosa- Choque.

O dragão rugiu e com muito esforço lançou uma chama.

_É tudo o que posso fazer _ disse ele.

_Socorro! Socorro! _ gritou a princesa.

Não demorou muito e se ouviu um barulho bem alto de alguém gritando.

E surgiu um cavaleiro fantástico com sua brilhante armadura.

Mas, assim que o príncipe tirou seu capacete, Rosa- Choque só faltou desmaiar: o príncipe tinha cara de sapo, era horrível de feio.

_ Linda princesa, salvei você das garras do dragão. Quer casar comigo?

Então a princesa se lembrou das histórias que lia quando era criança.

“Um beijinho e fica tudo resolvido!”

Questão 11- A princesa Rosa-Choque tinha um sonho: encontrar um príncipe encantado. Em que ela se inspirou para ter esse sonho?

( ) nas fábulas de Esopo. ( ) nas lendas indígenas. ( ) nos contos de fadas

Questão 12 - Com quais contos de fadas o conto "A princesa Rosa-Choque" se assemelha? Por quê?

Questão 13- Quando a princesa descobriu que o príncipe era muito feio, levou um susto. Depois, ela se lembrou de algo que resolveria o problema. Do que se lembrou?

Texto 4- A tirinha abaixo faz referência a qual conto de fadas? Justifique sua resposta.

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Texto 5-“ Luz verde”, de Carlos Queiroz Telles

Julho de 1970. Dia de treino oficial para o Grande Prêmio da Inglaterra de Fórmula 1. Trinta pilotos se preparam para enfrentar a pista, o tempo dos cronômetros... e o mau tempo da meteorologia. Todas as previsões são pessimistas: névoa e garoa. Talvez amanhã, no dia da corrida, as condições do clima possam melhorar. Talvez amanhã...

No Box de sua escuderia, o dinamarquês Johanes Orberg se prepara para tentar mais uma pole position na sua carreira. Lentamente, num ritual que lembra a paramentação de um cavaleiro medieval para um torneio ou de um astronauta para entrar na nave, ele vai se equipando para o seu combate. As luvas, a máscara contra fogo e o capacete são as últimas peças colocadas. Os mecânicos-escudeiros ajudam o guerreiro a entrar no carro. O volante é colocado. Orberg ajeita o corpo no pequeno espaço reservado para o piloto. Agora todos os problemas e decisões passam a ser somente dele. A solidão costumeira também ocupa seu espaço no cockpit. É hora de trabalhar.

Uma rápida conferência dos instrumentos mostra que tudo está funcionando corretamente. Um gesto rápido do piloto autoriza os mecânicos a acionarem o motor. Trovão. A fera ruge. Com a ponta dos pés, Orberg sente a potência da máquina. Força e delicadeza. Potência e equilíbrio. Vontade e poder.

O carro sai dos boxes em direção à pista. Chove fino. A visibilidade é muito pequena. Duas voltas no circuito. A primeira para esquentar os pneus, e a segunda para a tomada de tempo. Apenas duas voltas. Menos de três minutos.

Orberg acelera. Seu coração também passa a bater em ritmo mais rápido. O traçado é conhecido para o piloto. Quase amigo. Duas vitórias nos últimos cinco anos. As curvas e as retas se sucedem. As marchas são trocadas com precisão. O carro corresponde aos comandos. Apesar da pista molhada, não vai ser difícil obter o melhor tempo e mais uma primeira colocação.

Sair na frente. Chegar na frente. Vitória. Um carro competitivo. Uma equipe eficiente. Um patrocinador satisfeito. Vitória. Mais prestígio. Mais dinheiro. Mais velocidade. Vitória.

Bicampeão do mundo nas últimas três temporadas, Orberg sabe que custou muito chegar até esse ponto. A pista de Silverstone passa cada vez mais rápido sob as rodas do carro. A volta de aquecimento termina. A gora é para valer. O profissional se concentra na sua tarefa. Hoje, como há quinze anos, quando participou de sua primeira corrida de karts.

No começo a família foi contra. Depois desistiu. Já que o menino Johanes queria mesmo ser corredor... bem, que fosse pelo menos um bom corredor. Pai e mãe exigiram apenas que ele terminasse seus estudos. Em troca, financiariam o sonho do garoto. Primeiro foram os karts, depois os carros de Fórmula 3. A família, muito rica, podia se dar ao luxo de investir no sucesso futuro do filho. E o sucesso veio.

O prazer da vitória começou a se repetir com freqüência. As fotos nos jornais, as reportagens na televisão. Os convites para pilotar carros mais potentes nas categorias superiores foram conseqüência. Os patrocinadores surgiram, e o menino Orberg deixou de depender do apoio financeiro das empresas familiares. Um dia, veio o chamado de uma equipe de Fórmula 1. E agora, seis anos, quinze vitórias e dois campeonatos depois...

A garoa se transforma em chuva forte. A visibilidade diminui. Faltam apenas quinhentos metros para terminar a volta oficial de cronometragem. Se ele fizer um bom tempo, ninguém poderá superá-lo. Orberg decide manter o pé no acelerador. Às vezes é preciso arriscar. O perigo faz parte do ofício. Última curva. Quando o carro começa a sair de lado, Orberg sente que cometeu uma imprudência inútil. E que não há nada que ele possa fazer para evitar o acidente.

O carro bate no guard-rail, volta para a pista e começa a capotar. Uma, duas, três, quatro vezes... Quando para, com as rodas para cima, acontece o pior. Fogo. É tudo muito rápido. Os bombeiros mal conseguem desvirar o carro para tirar o piloto. Terrivelmente queimado, inconsciente e ainda respirando por milagre, o corpo é colocado na maca. A ambulância parte, e apenas a sua sirene quebra o silêncio súbito que caiu sobre o autódromo.

Público, pilotos, mecânicos, jornalistas... ninguém sabe o que dizer. Orberg, o prudente. Orberg, o responsável. Orberg, o campeão. O treino é suspenso. A chuva aumenta. Em poucos minutos o desastre se transforma em palavras, imagens e impulsos. O mundo fica sabendo que o grande guerreiro está morrrendo. No hospital ninguém informa nada. Nem é preciso. As imagens do acidente e do corpo queimado do piloto não deixam espaço para maiores esperanças. Assim mesmo... ele vive.

No dia seguinte, na hora prevista, é dada a largada para o Grande Prêmio da Inglaterra de Fórmula 1. No pódio, como de praxe, tocam-se os hinos, entregam-se as taças e são abertas as garrafas de champanha. O público aplaude os vencedores. Entre os três primeiros colocados na prova deve estar agora o futuro campeão da temporada.

A poucos quilômetros da grande festa, para perplexidade dos médicos, Orberg ainda está vivo.

Julho de 1980. Numa das dezenas de ilhas que integram o território da Dinamarca, o vento do Mar do Norte traz o ar gelado do Ártico. No pequeno vilarejo da ilha habitam famílias tradicionais de pescadores. É a única atividade econômica do lugar, completada apenas por uma pequena agricultura de produtos de subsistência.

Distante alguns quilômetros das casas da aldeia está a outra habitação do lugar – um casarão luxuoso, com grandes jardins debruçados sobre o mar. O povo da ilha apelidou a casa de “o Castelo”, muito mais pelo mistério que cerca a sua existência do que por sua aparência arquitetônica,

Construído nos primeiros anos da década de 70, o Castelo ocupa uma imensa área, quase metade da ilha. Grandes muros de um lado e o mar do outro tornam impossível qualquer aproximação. Para se chegar até lá só existem dois caminhos: um cais particular e um heliporto. Através do cais chegam regularmente os barcos que trazem serviçais e mantimentos. Pelo pouco que se sabe na aldeia, trabalham no Castelo duas equipes de empregados que se revezam quinzenalmente.

Às vezes, nos raros dias mais quentes de verão, um helicóptero vermelho e negro sai do Castelo e sobrevoa a região. Dizem que seu piloto é o dono da grande propriedade e que esses passeios solitários são a sua única diversão. O helicóptero passa ao longo da aldeia, acompanha do alto o trabalho dos pescadores, desaparece no horizonte, quase sempre em direção ao norte, e só volta pouco antes do anoitecer.

Há qualquer coisa de sinistro naquele voo solitário, e os habitantes da ilha costumam rezar e pedir proteção a Deus contra os maus-olhados que podem cair sobre suas cabeças.

Dentro do Castelo impera uma rotina que não inspira sentimentos melhores. Um cozinheiro, duas arrumadeiras, um mecânico, três faxineiras e três jardineiros integram cada uma das equipes de trabalho que se revezam na ilha para servir a um patrão invisível. Como os salários são altos, ninguém questiona a esquisitice da situação, e os eventuais medos são logo superados pela proximidade do fim do mês.

Horários e procedimentos rigorosos são cumpridos para que o patrão possa dormir, almoçar, banhar-se, ouvir seus discos prediletos e permanecer sempre sozinho. Ninguém sabe quem é ele. Quando resolve passear de helicóptero, deixa um aviso na mesa do café da manhã. Nesse dia, o mecânico, que também é piloto, revisa e abastece a aeronave. Nas horas de pouso e de decolagem, todos se matem longe dos jardins.

Anos a fio o dono do Castelo conseguiu manter sua rotina de solidão. Um dia, durante uma grande tempestade de inverno, os restos de um pequeno barco salva-vidas apareceram boiando perto do cais. Agarrado a eles um homem grita por socorro.

Poucos minutos depois o helicóptero levanta voo e numa manobra hábil consegue lançar um cabo, a que o náufrago se agarra. Em seguida ele é conduzido até os jardins. Enquanto o helicóptero pousa, os empregados acolhem o náufrago e o levam para dentro. Logo a seguir soa uma campainha. É sinal de que o patrão acaba de deixar algum bilhete ou instrução especial sobre a mesa de refeições. A mensagem realmente está lá:

“Acomodem o visitante nas dependências de hóspedes.”

Ordens são ordens. O homem é conduzido a um grande apartamento que fica numa ala anexa ao casarão.Roupas limpas, refeição quente, tudo lhe é oferecido. Exausto, ele se joga na grande cama e logo adormece. Seu nome é Martin Olsen. Marinheiro, ele estava a bordo de seu pequeno navio cargueiro, que naufragou. Apesar de ter escapado com vida, perdeu no desastre tudo o que possuía – embarcação e mercadorias.

Enquanto Martin dorme, alguém entra silenciosamente no quarto. É o dono do Castelo que vem ver de perto o seu inesperado visitante. A penumbra do quarto não permite que se vislumbre o seu rosto. Ele observa o homem que acabou de salvar. Talvez sentindo a proximidade de uma pessoas estranhas, Martin se agita na cama e murmura seguidamente a mesma palavra:

- Bela... Bela...Bela...

Pai de três filhas, Martin Olsen sonha com a mais moça e a mais querida delas. Bela acabara de se formar em medicina pela Universidade de Copenhague e pretendia se especializar em cirurgia plástica numa grande clínica no exterior. Para isso, precisaria da ajuda financeira do pai, o que agora, com o naufrágio, seria impossível. O sono agitado revela essa preocupação.

O dono do Castelo, com medo de que o visitante acorde e o surpreenda, se afasta. Soam nos seus ouvidos as palavras do marinheiro:

- Bela... Bela... Bela...

No dia seguinte, Martin acorda bem cedo. Numa grande bandeja, colocada ao lado de sua cama, está servido o café da manhã. Intrigado, ele procura alguém a quem agradecer a acolhida. Sem saber que está invadindo a área pessoal e privativa do seu anfitrião, ele entra numa grande sala cheia de troféus. Curioso, Martin examina a coleção e descobre a identidade do homem que o salvara no dia anterior.

- Estas taças... Johanes Orberg! O campeão! Mas ele morreu na Inglaterra...- murmurou Martin.

Nesse momento uma voz forte e irritada soa às suas costas:

- Quem lhe permitiu entrar nesta sala?

O visitante, assustado, vira-se para se desculpar. O que vê deixa-o ainda mais apavorado. Um homem com o rosto totalmente deformado.

- Perdão...- murmura Martin. – Eu não sabia...

- Ninguém no mundo sabe o que você ficou sabendo! Que eu estou vivo! – retruca irritado o mascarado. – E pensar que ainda ontem salvei a sua vida!

Percebendo o quanto havia magoado o velho campeão, Martin tenta se desculpar:

- Eu prometo o meu silêncio... não contarei nada a ninguém!

- Sua palavra não me basta. Você vai ficar morando aqui.

- Minhas filhas estão me esperando! E Bela...

- Quem é Bela? – pergunta Johanes Orberg.

- É a minha filha mais moça. Ela acaba de se formar em medicina... Bela quer estudar cirurgia plástica no exterior. Mas agora que eu perdi tudo...

Pela cabeça de Orberg passa rapidamente um plano. Talvez...

- Você só sairá daqui se me deixar um refém que garanta o seu silêncio. Alguém que você ame muito.

- Um refém? – geme Martin.

- Bela! Você só poderá partir quando sua filha estiver nesta casa. Em troca, eu lhe prometo: vou ajudá-la a seguir a sua carreira. Nunca lhe faltarão dinheiro e apoio para estudar nos melhores centros e nas melhores clínicas.

Um silêncio sem fim seguiu-se à proposta de Orberg. Martin percebe que não tem escolha:

- Você me dá a sua palavra, Orberg?

- É a minha palavra contra seu silêncio. Pode usar aquele telefone. Diga à sua filha que você sofreu um acidente e que meu helicóptero irá apanhá-la hoje mesmo.

Aturdido, Martin Olsen obedece. Enquanto ele telefona para a filha, Orberg percebe o quanto está emocionado. Depois de dez anos de absoluta solidão, surge a perspectiva de ter uma companhia... mas a que preço? É uma chantagem, ele sabe. É uma imoralidade... mas seu coração bate rápido como nos tempos da Fórmula 1.

Ao entardecer daquele dia, o helicóptero de Orberg traz para a ilha a doutora Bela. Assustada com o telefonema do pai, ela chega ao Castelo apenas com sua maleta profissional. O mecânico que pilotara o aparelho não soubera lhe dizer nada além da história do salvamento do náufrago. Esperando por ela, junto à pista de pouso, está Martin, um homem vendido pela sua palavra.

- Desculpe, minha filha. Você um dia há de entender. Para que nós dois possamos sobreviver, eu preciso ir embora imediatamente. Fiquei neste lugar por algum tempo. Você será bem-tratada. Eu voltarei logo para lhe buscar.

Livrando-se do abraço de Bela, Martin corre para o helicóptero, que levanta voo em seguida. Perplexa, ela fica sozinha nos jardins. O que teria acontecido para que o pai se comportasse de maneira tão estranha? O frio vento do Mar do Norte agita seus cabelos. Rapidamente ela se dirige para a grande porta do Castelo – iluminada e aberta de para em para, à sua espera.

O grande salão está vazio. Sobre uma mesa, colocado bem na entrada, um envelope subscritado com seu nome. Dentro, um bilhete curto escrito com letras fortes:

“Seja bem-vinda a esta casa. Nada lhe faltará. Nada a importunará. Fique tranqüila. Os empregados estão instruídos para lhe atender em tudo. É uma alegria ter você aqui.”

Tudo o que o autor do bilhete prometeu era verdade, Nos dias seguintes, Bela descobre que a inexplicável recompensa pela sua simples presença naquele casarão se manifesta diariamente em gentilezas incríveis. São vestidos novos que aparecem em seu guarda-roupa. Tudo absolutamente do seu gosto. São refeições com os pratos que ela mais aprecia. São discos de seus cantores preferidos e livros, uma infinidade de livros internacionais sobre o assunto de seu maior interesse: cirurgia plástica!

Os livros foram o argumento mais importante para ela esquecer de se perguntar as causa e razões daquela aventura estranha. Bela mergulha de cabeça naquele súbito paraíso. Estuda boa parte do dia. O resto do tempo passeia pelos jardins, ouve música... repousa. Os empregados a tratam com simpatia e silêncio. Naquele inesperado momento da vida, Bela sente a solidão como um prazer.

Apesar de tudo, ela se sabe observada. Não sente medo. Não sente angústia.Tudo se resume a uma curiosidade: quem será o seu tão bem-informado anfitrião? Quem será essa pessoa de gosto refinado, capaz de adivinhar suas preferências e seus desejos? Mais dia, menos dia, ela saberia. Até lá... o que fazer de melhor senão aproveitar tanta delicadeza e tanta dedicação?

Com o tempo, todas essas pequenas atenções criam um clima envolvente de carinho e de amor. Bela se sente protegida e envaidecida. Nem lhe ocorre mais a ideia de que é prisioneira ou refém. Quem quer que seja essa pessoa... como ela gostaria de retribuir a sua amabilidade! Uma tarde ele aparece. Bela está sentada no jardim, mergulhada em suas leituras, quando uma voz tranquila se aproxima:

- Boa tarde, Bela.

A moça não se volta.

- Boa tarde.

- Posso conversar com você? – a voz continua.

Sem responder, Bela se afasta um pouco deixando um espaço no banco.

- Sente-se aqui.

- Por favor... não se assuste comigo – a voz implora.

Com muita calma, Bela se vira para ver com quem está conversando. Apesar da máscara a médica se choca. O pouco que ela pode ver daquele rosto permite imaginar o quanto ele deve estar deformado.

- Como foi que aconteceu? – é só o que lhe ocorre perguntar.

Agradecido por Bela ter enfrentado de imediato o assunto doloroso, Orberg informa:

- Fogo. Desastre, capotamento e fogo.

Mais tranquila e com uma ponta de interesse profissional, Bela indaga:

- Quantas operações?

- Seis. Depois eu desisti. Era muito sofrimento para nada.

- E aí fugiu do mundo?

Orberg está abismado com a rapidez com que a conversa se aproxima dos temas que mais o atormentam – o medo de inspirar medo e o ódio de inspirar piedade. Bela continua com a mesma naturalidade:

- Você era... um homem bonito?

Orberg toca delicadamente n a sua mão e pede:

- Venha comigo.

Bela se levanta em silêncio e segue Orberg. Com certeza era um belo homem. Já dentro do Castelo, ele informa:

- Por acaso, seu pai viu a sala que eu vou lhe mostrar. Você é a primeira pessoa que eu convido a entrar aqui. Por favor.

As estantes com os troféus formavam uma galeria impressionante.

- Isso tudo... foi você quem ganhou?

Por um momento – o primeiro em muitos anos – Orberg se anima a falar do seu passado.

- Com certeza você já ouviu falar de mim. Meu nome é Johanes Orberg.

- Mas...

- Como você vê, eu não morri. Quando decidi interromper as tentativas de tratamento para recuperação do meu rosto, combinei com meu pai e minha mãe que seria melhor o mundo me considerar definitivamente morto. Eu não queria passar o resto da vida sendo procurado ou apontado como um fantasma. Eles concordaram. Armamos uma farsa de sepultamento, e eu vim morar aqui, De vez em quando ainda vou visitá-los. São as únicas oportunidades em que eu deixo a ilha.

A confissão de Orberg emociona Bela. Para disfarçar, ela começa a examinar detalhadamente as taças e os troféus. Orberg, animado, faz as apresentações:

- Essa eu conquistei na Itália. Essa é do Grande Prêmio da Bélgica. Esse troféu tem uma história engraçada...

Em poucos minutos a voz do piloto ganha um timbre de felicidade perdido há muito tempo. Ele conversa e ri quase ao mesmo tempo, deslumbrado com a súbita capacidade de falar sem mágoa do seu próprio passado. A sua narrativa faz ecoar na sala o ronco de velhos motores, ruídos de chuva e vento batendo na viseira de capacetes, hinos e aplausos de multidões.

Perdido na euforia de suas memórias, Orberg nem percebe que Bela se afastar um pouco e contemplava embevecida aquele momento mágico em que um homem destruído renascia de si mesmo.

- Por favor, tire a mascar.

Com uma das taças nas mãos, Orberg interrompe sua narrativa.

- Por favor, tire a mascar. – insiste Bela.

O piloto treme. Muito lentamente recoloca a taça que segurava de volta na prateleira. Depois de tanto sofrimento, seria preciso passar por mais essa prova? Exatamente nesse instante de tanta alegria e felicidade?

- Por favor, Orberg. Não tenha medo de perder o que você já conquistou.

Orberg ainda hesita. Luz vermelha... a pulsação do coração dispara. É preciso largar bem. Em três segundos a luz verde se acenderá. As mãos suadas começam a tirar a máscara. Os olhos queimados, o nariz deformado, a boca retorcida. Pânico. Soluçando, Orberg se vira de costas para a moça.

Bela sabe o que pode e deve fazer. Abraça o piloto pelas costas. Encosta sua cabeça em seus ombros e com muita suavidade murmura:

- Calma, campeão. Eu sei que posso ajudar você a recuperar o seu rosto. Vai ser uma prova muito dura e muito longa. A mais difícil de todas. Mas, se você quiser tentar, nós temos muito tempo pela frente. Muito tempo.

Orberg segura com força as mãos da moça. A luz verde se acende num relâmpago. Mais uma vez é preciso se atirar contra o vento da pista, desafiar os limites, superar o medo, o cansaço e o sofrimento. Mais uma vez é possível lutar para ser o primeiro. Mais uma vez...

Interpretando o conto

Questão 1- O conto lido é uma versão atualizada de um conhecido conto maravilhoso. Qual é ele?

Questão 2- A história se divide em duas partes: a primeira se passa em 1970 e a segunda em 1980.

Em que lugar se passa a primeira parte?

E a segunda?

Questão 3- O misterioso proprietário do Castelo vive solitário, porém, mantém uma vida luxuosa. Como ele conseguiu manter sua privacidade, sem estabelecer contato com os outros moradores da ilha e nem mesmo com seus funcionários?

Questão 4- Em 1980, um acontecimento inesperado quebra a rotina da vida no Castelo.

a-O que aconteceu?

b-Marque, dentre as opções abaixo, a palavra que melhor representa a primeira atitude que o proprietário do Castelo teve com o pescador.

( ) desprezo ( ) solidariedade ( ) raiva ( ) indiferença

c-O que fez o dono do Castelo mudar sua atitude com o pescador?

Questão 5- Para evitar que Martin revelasse ao mundo seu segredo, Orberg quis obrigá-lo a viver prisioneiro no Castelo. Porém, quando o pescador falou sobre a filha Bela, Orberg ordenou que ela ficasse como refém no lugar do pai. Por que ele se interessou por Bela?

( ) Porque ela era médica e queria se especializar em cirurgia plástica.

( ) Porque ela era uma mulher jovem e atraente, e ele queria uma namorada.

( ) Porque ela era a filha mais amada de Martin e prendê-la seria um bom castigo para o pescador.

Questão 6- Ao se instalar no Castelo, mesmo sem compreender o motivo de sua reclusão, Bela não se queixa, nem se entristece. De acordo com o texto, isso acontece principalmente porque...

( ) Bela ganha vestidos novos todos os dias, sempre dentro do seus gostos.

( ) Bela tem à sua disposição seus discos preferidos e banquetes com as refeições que mais gosta.

( ) Bela se sente num verdadeiro paraíso, com os jardins, a natureza em torno do Castelo.

( ) Bela pode aproveitar boa parte do tempo estudando cirurgia plástica nos livros que ganha.

Questão 7- Releia este trecho, do final do conto:

“Perdido na euforia de suas memórias, Orberg nem percebe que Bela se afastara um pouco e contemplava embevecida aquele momento mágico em que um homem destruído renascia de si mesmo.

- Por favor, tire a máscara.

Bela, aparentemente, não temia ver o rosto deformado de Orberg, porque, naquele momento, estava enxerga

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