Mensagem
Trabalho Universitário: Mensagem. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: tarraxinha • 11/3/2015 • 5.290 Palavras (22 Páginas) • 305 Visualizações
Estrutura da obra:
A poesia da “Mensagem” poderá ser vista como uma epopeia, pois parte de um núcleo histórico. Contudo, a sua formulação é simbólica, mítica, e não possuirá continuidade.
O poema Mensagem, exaltação do Sebastianismo que se cruza com a expectativa de ressurgimento nacional, assenta num simbolismo e misticismo, revelador de uma faceta oculta e mística do poeta.
Há na mensagem uma transcrição da história de uma nação, mas transfigurada, onde a acção dos heróis, só adquire pleno significado dentro duma referência mitológica. Aqui só serão eleitos, só terão direito à imortalidade, aqueles homens e feitos que manifestam em si esses mitos significativos.
Assim, a estrutura da Mensagem, transfigura e repete a história duma pátria como o mito dum nascimento, vida, morte e renascimento de um mundo. A cada um destes momentos corresponde (respectivamente) o “Brasão”, o “Mar Português” e “O Encoberto”.
O “Brasão” corresponde à primeira parte e ao plano narrativo da história de Portugal, n’Os Lusíadas, onde encontramos hérois míticos ou mitificados, desde “Ulisses” a “D.Sebastião, rei de Portugal”. Trata-se de heróis vencedores, nalguns casos, mas falhados na opinião geral, ignorados, ou quase, por Camões.
O “Mar Português” corresponde à segunda parte e ao tempo da “acção épica”. Constituída por doze poemas inspirados na ânsia do desconhecido e no esforço heróico da luta contra o Mar – figurados em “O Mostrengo”, “Mar Português” e “A Última Nau”.
“O Encoberto” corresponde à terceira parte, onde se insinua que o Rei Encoberto virá, “segundo as profecias de Bandarra e a visão do Padre António Vieira, numa manhã de nevoeiro”. Assim, a terceira parte, é toda ela um fim, uma desintegração; mas também toda ela cheia de avisos, de forças ocultas prestes a virem à luz depois da “Noite” e “Tormenta”, dando origem ao novo ciclo que se anuncia: o Quinto Império.
Linguagem e estilo:
A linguagem é lapidar, também carregada de simbolismo e, por vezes, arcaizante. Corresponde este aspecto à vontade do autor intemporalizar conceitos que convergem para o ideal absolutizado que deseja cumprir, assumindo-se como um Super Poeta, um Supra Camões.
O lirismo revela emoção do poeta, perante a grandiosidade da Pátria, representada na excelência dos seus heróis bélicos, na audácia dos seus nautas, no idealismo dos seus profetas.
Os elementos épicos presentificam um “épico sui-generis” de sentido entusiasmo, voz de incitamento aos portugueses para devolverem à Pátria a sua glória passada, numa sublimação futura.
O mito:
As figuras e os acontecimentos históricos são convertidos em símbolos, em mitos, que o poeta exprime liricamente. “O mito é o nada que é tudo”, verso do poema “Ulisses”, é o paradoxo que melhor define essa definição simbólica da matéria histórica da Mensagem.
Sebastianismo:
A Mensagem apresenta um carácter profético, visionário, pois antevê um império futuro, não terreno, e ansiar por ele é perseguir o sonho, a quimera, a febre de além, a sede de Absoluto, a ânsia do impossível, a loucura. D. Sebastião é o mais importante símbolo da obra que, no conjunto dos seus poemas, se alicerça, pois, num sebastianismo messiânico e profético.
Quinto Império: império espiritual:
É esta a mensagem de Pessoa: a Portugal, nação construtora do Império no passado, cabe construir o Império do futuro, o Quinto Império. E enquanto o Império Português, edificado pelos heróis da Fundação da nacionalidade e dos Descobrimentos é termo, territorial, material, o Quinto Império, anunciado na Mensagem, é um espiritual. “E a nossa grande raça partirá em busca de uma Índia nova, que não existe no espaço, em naus que são construídas daquilo que os sonhos são feitos… “A Mensagem contém, pois, um apelo futuro”.
Resumo/Análise superficiais de alguns poemas de “Brasão” e “Mar Português”:
1.ª Parte
1. O dos Castelos » Personificação da Europa » “Futuro do passado” designa uma alma que permanece.
2. Ulisses » Lenda da criação da cidade de Lisboa por Ulisses » “O mito é o nada que é tudo”: apesar de fictício, legitima e explica a realidade » O mito está num plano superior à realidade, dada a sua intemporalidade
3. D. Afonso Henriques » D. Afonso Henriques equiparado a Deus, tendo como missão o combate aos Infiéis » Vocabulário de dimensão sagrada: “vigília”, “infiéis”, “bênção” » Referência ao aparecimento de Deus a D. Afonso Henriques na Batalha de Ourique
4. D. Dinis » Mitificação de D. Dinis pela sua capacidade visionária (plantou os pinhais que viriam a ser úteis nos Descobrimentos); construtor do futuro » O Presente é “noite”, “silêncio” e “Terra”, enquanto que o futuro é os pinhais, com som similar ao do mar, daí a “terra ansiando pelo mar”
5. D. Sebastião rei de Portugal » A “loucura” ou “sonho” é a capacidade de desejar e ter iniciativa, para ultrapassar o estado de “cadáver adiado que procria” (simplesmente vive esperando a morte) » Convite a que outros busquem a grandeza para construir algo importante (“Minha loucura, outros que me a tomem”) » Para ser grande, Portugal deve ter loucura e desejar grandeza, para poder “renascer o país” » Enquanto figura histórica, D. Sebastião morreu em Alcácer-Quibir (“ficou meu ser que houve”) mas persiste enquanto lenda e exemplo de “loucura” (“não o que há”) » Apesar do fracasso, a batalha de Alcácer-Quibir é importante para motivar e recuperar Portugal do estado de “morte psicológica”
2.ª Parte 1. O Infante » “Deus quer, o Homem sonha, a obra nasce”: descrição do processo de criação » Porque Deus quis unir a Terra, “criou” o Infante D. Henrique para que este impulsionasse a obra dos Descobrimentos » Mitificação do infante, criado e predestinado por Deus
» Depois de criado o Império material (“Cumpriu-se o mar”), “o Império se desfez”, faltando “cumprir-se Portugal”, sob a forma de um Quinto Império espiritual
2. Horizonte » O horizonte (“longe”, “linha severa”, “abstracta linha”) simboliza os limites » Descrição das tormentas da viagem (passado), da chegada (presente) e reflexão (projecção futura) » A esperança e a vontade são impulsionadoras da busca » O sucesso permite atingir o Conhecimento
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