Mod Dick
Seminário: Mod Dick. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: qwe13579 • 13/3/2014 • Seminário • 708 Palavras (3 Páginas) • 470 Visualizações
Em um texto que ficou famoso, Jorge Luis Borges definiu Moby Dick como um “romance infinito” — uma narrativa que, “página a página, se amplia até superar o tamanho do cosmos”. Quem já enfrentou as quase 600 páginas da extravagante caça à baleia branca empreendida pelo obsessivo capitão Ahab a bordo do barco Pequod, há de concordar com o escritor argentino. Mas não é apenas por conta da extensão física do épico do americano Herman Melville que se pode vislumbrar o infinito. A vastidão é encontrada na quantidade de interpretações que o romance foi capaz de engendrar, tão ou mais extravagantes que a própria obra (clique aqui para ler quatro delas). E a história acidentada de Moby Dick, de sua inspiração à futura popularidade que conquistou no século 20, parece não pertencer ao tempo e à lógica regulares dos mortais.
O romance, que ganha agora nova tradução no Brasil, foi a grande aposta da vida de Melville. Quando foi publicado em 1851 (com o título Moby Dick ou A Baleia), o escritor tinha 32 anos e uma sólida — ainda que irregular — carreira literária. Depois de errar por terras distantes como marujo, em navios de pesca e militares, o autor contou parte de suas andanças em cinco livros, publicados em meteóricos quatro anos: Typee (1846) e Omoo (1847), narrativas que lhe deram prestígio junto a um público interessado em aventuras ultramarinas; e Mardi (1849), Redburn (1849) e White-Jacket (1850), narrativas, igualmente autobiográficas, com as quais experimentou os primeiros amargores da crítica. A essa altura da vida, Melville estava casado, com um filho pequeno, e sua vida financeira não era das melhores.
Para se erguer da má fase, tinha ainda guardada dos anos de juventude a experiência em um baleeiro e, na cabeça, um punhado de histórias populares na época. De um lado, Melville encontrou a inspiração para a natureza maligna da baleia no Leviatã, o monstro marinho mencionado na Bíblia contra o qual Deus se levantará; de outro (e de forma mais circunstancial), evocou a tragédia do baleeiro americano Essex, naufragado no Pacífico em 1820. Na ocasião, um cachalote — a mesma espécie de Moby Dick — destruiu o navio, deixando os sobreviventes à deriva por três meses, um período em que tiveram de recorrer ao canibalismo. A história, publicada em 1821 pelo imediato do navio, Owen Chase (no Brasil, ela pode ser conferida no livro A Vingança da Baleia, de Nathaniel Philbrick), já havia influenciado, por exemplo, Edgar Allan Poe, que recriou o clima de pesadelo a bordo e em alto-mar em O Relato de Arthur Gordon Pym (1838), o único romance que publicou.
Para Melville, o mais interessante do episódio encontrava-se no depoimento do capitão do Essex, George Pollard Jr., que afirmou que a baleia parecia ter desferido um ataque “calculado” contra os pescadores que a perseguiam. Essa ideia de um animal vingativo estava presente em outro relato, que teria sido crucial para o nome da baleia de Melville: Mocha Dick: Or the White Whale of the Pacific (Mocha Dick ou a Baleia Branca do Pacífico), publicado em 1839 na revista literária Knickerbocker por um certo J. N. Reynolds. Dick, um nome comum, identificava um cachalote branco, lendário por sua fúria e resistência, que era avistado perto da ilha de Mocha, no litoral do Chile — até ser morto, em 1839, crivado de arpões. Tais nomes eram comuns na
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