Roteiro De Obra TIL
Dissertações: Roteiro De Obra TIL. Pesquise 861.000+ trabalhos acadêmicosPor: andre.lino • 7/11/2014 • 1.983 Palavras (8 Páginas) • 953 Visualizações
Roteiro de Leitura
Obra TIL, de José de Alencar
Estrutura do romance
A ação de "Til" ocorre na Fazenda das Palmas, localizada na região de Campinas, interior do estado de São Paulo, e transcorre temporariamente a partir de 1826.
O livro é dividido em duas partes. A primeira serve como apresentação das personagens e das tramas e é nela que conhecemos Berta, personagem central do romance e típico arquétipo da heroína romântica. Nessa primeira metade da obra, o que mais chama a atenção é a contrariedade do comportamento de Berta (cujo apelido é Til): sempre movida por boas intenções, ela usa de sua influência e bondade para manipular as outras personagens.
Já na segunda metade do romance temos o desembaraço das tramas apresentadas e suas revelações. Os cenários deixam de ter uma descrição objetiva e material para adquirir um significado mais subjetivo, relacionado ao passado oculto das personagens. É nessa parte do livro que acompanhamos Berta em seu descobrimento sobre a morte de sua mãe e suas consequências. Em um final surpreendente, Berta abre mão de sua própria felicidade em prol das demais personagens.
Foco narrativo
O romance é narrado em terceira pessoa e o narrador é onisciente neutro, ou seja, ele conhece todos os pensamentos e planos das personagens e os revela ao leitor, mas não há intromissões autorais diretas (o autor falando com uma voz impessoal, na terceira pessoa, dentro do próprio romance). A característica principal da onisciência é que o narrador sempre descreverá a narrativa, mesmo em uma cena, da forma como ele a vê, e não como suas personagens a veem.
Tempo
O tempo é predominantemente psicológico, ou seja, o romance não segue uma narrativa linear e o narrador manipula o tempo conforme as circunstâncias. Assim, o narrador pode ir ao passado e ao futuro sem obedecer às ordens do tempo cronológico.
Resumo
No município de Santa Bárbara, no interior de São Paulo, vive a família proprietária da fazenda das Palmas: Luís Galvão, D. Ermelinda, os filhos Afonso e Linda e ainda um sobrinho com deficiência física e mental chamado Brás, rejeitado por todos. A única a tratá-lo com carinho é a menina Berta, que mora nos arredores com sua mãe de criação, Nhá Tudinha, e o filho desta, Miguel. Devotado a Berta, Brás associa sua beleza à graça que vê no sinal gráfico til, passando a chamá-la assim.
Os cuidados que Berta tem com Brás são os mesmos que dedica a Zana, negra louca que vive em uma casa abandonada. O mesmo sentimento de amor pelo próximo faz com que a moça ajude Miguel a se aproximar de Linda, há muito apaixonada pelo rapaz. Deixando de lado os seus próprios sentimentos pelo irmão de criação.
A paz do ambiente é perturbada pela presença de Barroso, homem inescrupuloso que planeja a morte de Luís Galvão. Para tanto, contrata os serviços de um assassino de aluguel, Jão Fera. Mais uma vez, Berta determina outro rumo para os acontecimentos, aproveitando-se do fato de Jão obedecê-la cegamente.
O mistério dessa subserviência é desfeito quando o passado de Berta é revelado. Ela era filha de Luís Galvão com Besita, casada com Ribeiro. Ao saber do caso, o marido a matou na presença da escrava Zana, prometendo vingar-se também na menina. Jão, apaixonado por Besita, colocou-se na condição de defensor de Berta, entregando-a a Nhá Tudinha, que se ofereceu para criá-la. Muitos anos depois, Ribeiro retorna disposto a continuar sua vingança, assumindo a identidade de Barroso. Passa despercebido, porque o tempo lhe marcou a face com uma profunda cicatriz.
Jão Fera descobre a trama e interrompe a execução do plano, assassinando Barroso e seus comparsas. Perseguido por outros crimes e desprezado por Berta, que condena sua crueldade, ele se entrega à polícia em Piracicaba. Ali, durante o desfile de negros que compunha a festa do Congo, vê Afonso aproximar-se de Berta. Força as grades da cadeia e, disfarçado, faz acusações a Luís Galvão, que está presente ao festejo. A partir desse acontecimento, veem à tona o passado de Luís Galvão e a paternidade de Berta.
Por fim, Jão Fera, Zana e Brás passam a morar com a menina que abre mão da vida confortável na fazenda para cuidar do "idiota, da louca e do facínora remido". Ela decide que seu lugar é com os que sofrem e tomada por infinita abnegação passa a se dedicar a essas almas castigadas. “Como as flores que nascem nos despenhadeiros e algares, onde não penetram os esplendores da natureza, a alma de Berta fora criada para perfumar os abismos da miséria, que se cavam nas almas, subvertidas pela desgraça.”
"Era a flor da caridade, alma sóror."
Assim, acaba o livro que fala de amor altruísta e de caridade. A menina que de todas as galinhas, prefere a que não tem pernas, encontra um sentido para sua vida no bem ao próximo. Além de abrir mão de seu amor por Miguel para fazer feliz sua amiga Linda, decide esbanjar toda a sua graça e beleza onde há tristeza e desgraça.
Análise
Alguns erros, de caráter social e moral, são apontados em TIL: a marginalização dos indivíduos (como ocorre com Zana e Jão), o autoritarismo (na relação entre Luís e Jão), os casamentos arranjados (como o que ocorre entre Luís e Ermelinda, que, embora marcado por respeito mútuo, desencadeia toda a trama), a falta de amor e o desprezo pelo outro (evidente no tratamento que todos dedicam a Brás). As tramas de assassinato, o ódio reinante e as atitudes violentas são elementos que compõem a imagem de um mundo desconcertado, voltado para o pecado.
A solução apresentada pela narrativa segue o modelo romântico. Com sua intuição exacerbada e o poder de pressentir os perigos que rondam as personagens, Berta aparece como um instrumento divino, capaz de escrever certo por linhas tortas. Em seu apelido, aliás, encerra-se a ideia da linha torta: til.
Berta acolhe os marginalizados porque é capaz de perceber-lhes a nobreza de caráter, distribui amor porque é piedosa e compreensiva, vive à margem do autoritarismo local porque sabe que os valores verdadeiros se dão na esfera do ser e não do ter, da posse, do poder. Por essa razão, termina por rejeitar a paternidade do rico Luís Galvão e aceitar a de Jão, seu protetor desde sempre.
A tendência de Berta à generosidade e ao sacrifício pelo outro definem seu destino. Ela termina a história sem seu grande amor, Miguel, mas, mesmo assim, pode-se dizer que seu final é feliz, já que aceita a condição
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