Sete textos sobre a humanidade e a natureza lêem on-line
Relatório de pesquisa: Sete textos sobre a humanidade e a natureza lêem on-line. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: • 22/8/2014 • Relatório de pesquisa • 1.691 Palavras (7 Páginas) • 494 Visualizações
Sete textos sobre humanidade e natureza para ler na internet
Lydia Cintra 10 de dezembro de 2013
“O homem não vale lá muito comparado aos grandes pássaros e animais”
(O Velho e o Mar, Ernest Hemingway)
copas das arvores
1. Rumo à Ecologia Profunda, de Fritjof Capra
O físico austríaco Fritjof Capra acredita que a humanidade está passando por diversas crises que convergem em uma única: a crise de percepção. O desafio é enxergar os problemas de forma integrada, como parte de um único sistema.
O texto “Rumo à Ecologia Profunda” é parte do primeiro capítulo do seu livro “A Teia da Vida – Uma Nova Compreensão Científica dos Sistemas Vivos” (Editora Cultrix). A obra aborda a urgência de mudança do paradigma antropocêntrico (ser humano como centro) para o ecocêntricos (com valores centralizados na Terra), com uma visão de mundo que reconhece o “valor inerente da vida não-humana”. A ecologia profunda enxerga o mundo como rede de fenômenos que estão fundamentalmente interconectados e são interdependentes.
“A crise intelectual dos físicos quânticos nos anos 20 espelha-se hoje numa crise cultural semelhante, porém muito mais ampla. Consequentemente, o que estamos vendo é uma mudança de paradigmas que está ocorrendo não apenas no âmbito da ciência, mas também na arena social, em proporções ainda mais amplas. O paradigma que está agora retrocedendo dominou nossa cultura por várias centenas de anos, durante as quais modelou nossa moderna sociedade ocidental e influenciou significativamente o restante do mundo. Esse paradigma consiste em várias ideias e valores entrincheirados, entre os quais a visão do universo como um sistema mecânico composto de blocos de construção elementares, a visão do corpo humano como uma máquina, a visão da vida em sociedade como uma luta competitiva pela existência, a crença no progresso material ilimitado, a ser obtido por intermédio de crescimento econômico e tecnológico, e – por fim, não menos importante – a crença em que uma sociedade na qual a mulher é, por toda a parte, classificada em posição inferior à do homem (…)”
“Os dois termos, “holístico” e “ecológico”, diferem ligeiramente em seus significados, e parece que “holístico” é um pouco menos apropriado para descrever o novo paradigma. Uma visão holística, digamos, de uma bicicleta, significa ver a bicicleta como um todo funcional e compreender, em conformidade com isso, as interdependências das suas partes. Uma visão ecológica da bicicleta inclui isso, mas acrescenta-lhe a percepção de como a bicicleta está encaixada no seu ambiente natural e social – de onde vêm as matérias-primas que entram nela, como foi fabricada, como seu uso afeta o meio ambiente natural e a comunidade pela qual ele é usada, e assim por diante. Essa distinção entre “holístico” e “ecológico” é ainda mais importante quanto falamos sobre sistemas vivos, para os quais as conexões com o meio ambiente são muito mais vitais”.
2. A natureza não é muda, de Eduardo Galeano
O escritor uruguaio discorre sobre os “direitos da natureza”, usando como exemplo a Constituição do Equador. É legítimo que a Natureza tenha direitos?
“E a natureza? De certo modo, pode-se dizer que os direitos humanos abrangem a natureza, porque ela não é um cartão postal para ser olhado desde fora; mas bem sabe a natureza que até as melhores leis humanas tratam-na como objeto de propriedade, e nunca como sujeito de direito”.
“Parece estranho, não é? Isto de que a natureza tenha direitos… Uma loucura. Como se a natureza fosse pessoa! Em compensação, parece muito normal que as grandes empresas dos Estados Unidos desfrutem de direitos humanos. Em 1886, a Suprema Corte dos Estados Unidos, modelo da justiça universal, estendeu os direitos humanos às corporações privadas. A lei reconheceu para elas os mesmos direitos das pessoas: direito à vida, à livre expressão, à privacidade e a todo o resto, como se as empresas respirassem. Mais de 120 anos já se passaram e assim continua sendo. Ninguém fica estranhado com isso”.
3. O planeta doente, de Guy Debord
O texto foi escrito em 1971 e discute “a impossibilidade da continuação do funcionamento do capitalismo”, usando como ponto de partida a poluição, que o autor diz ser “tagarelice tediosa numa pletora de escritos e de discursos errôneos e mistificadores”. O francês Guy Debord foi um dos fundadores, na década de 50, da Internacional Situacionista, movimento de cunho artístico e político que aspirava transformações sociais por meio da crítica ao sistema.
“O problema da degradação da totalidade do ambiente natural e humano deixou completamente de se colocar no plano da pretensa qualidade antiga, estética ou outra, para se tornar radicalmente o próprio problema da possibilidade material de existência do mundo que persegue um tal movimento”.
“Na sociedade da economia super desenvolvida, tudo entrou na esfera dos bens econômicos, mesmo a água das fontes e o ar das cidades, quer dizer que tudo se tornou o mal econômico, “negação acabada do homem” que atinge agora sua perfeita conclusão material”.
“E nunca a consciência histórica teve tanta necessidade de dominar com tanta urgência seu mundo, pois o inimigo que está à sua porta não é mais a ilusão, mas sua morte”.
4. “Minhas raízes são aéreas”, de Eliane Brum
A entrevista conduzida pela jornalista Eliane Brum narra a trajetória da psicóloga Debora Noal em missões da organização Médicos Sem Fronteiras. Com sua refinada sensibilidade, Eliane escreve que “Debora nos apresenta uma realidade que, não por acaso, pouco chega até nós. Depois de ler sua entrevista, pode parecer difícil acreditar. Mas raras vezes conheci alguém tão leve, transparente e feliz. Os olhos de Debora brilham enquanto conta sua experiência. Nos momentos de maior brutalidade se turvam – e depois voltam a brilhar. Ela não perde nenhuma oportunidade de rir e sua voz é sempre suave. E, quando abraça as pessoas, abraça”.
“Eu lembro quando no Congo eu recebi as diárias, o dinheiro para sobreviver naquele lugar. E eu lembro que eu estava morrendo de fome, e era de tarde já, e não tinha nada para comer na casa. Lembro que eu perguntei: “Não tem nada aí para comer? Estou com muita fome”. E a moça disse: “Teve um ataque ontem, lá no mercado, e não sobrou nada. Não tem nada”. E você se dá conta do valor do dinheiro – um pedaço de papel que é significado puro. E, naquele dia, por exemplo, ele não significava nada. Eu não podia comprar nada com o meu dinheiro. Estava lá, com o dinheiro dentro do bolso e não tinha um grão de arroz para comprar porque não havia paz naquele lugar. E aí você começa a se dar conta de qual é o valor das coisas materiais. Você não come o seu dinheiro. Você não come o seu salário. Há outras coisas ali que têm uma importância e um significado muito maior e que não são coisas físicas. As coisas materiais te dão uma sensação de paz, mas é apenas uma sensação de paz, não é a paz. Não é a saúde, não é a riqueza. É uma sensação de tudo isso. Que pode ser destruída muito rapidamente. Talvez isso tenha ficado mais evidente para mim. Já tinha um significado, mas não tinha essa força que tem hoje”.
5. O ser humano como nó de relações totais, de Leonardo Boff
Leonardo Boff é um dos expoentes da chamada Teologia da Libertação. Foi professor de ética, filosofia da religião e de ecologia filosófica no Rio de Janeiro e é autor de vários livros, como “Igreja: Carisma e Poder” – obra pela qual foi condenado pela igreja em 1985 a cumprir um ano de silencio obsequioso (saiba mais sobre ele aqui).
Nesse texto, publicado em seu site oficial, Boff explica como o ser humano se constrói, em grande medida (mas não apenas), em sua relação com a sociedade. Defende a democracia sustentada por quatro pilares – participação, igualdade, diferença e comunhão – cuja base é o chão, a própria Terra: “A democracia não seria completa se não incluísse a natureza que tudo possibilita. Ela fornece a base físico-química-ecológica que sustenta a vida e a cada um de nós”.
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6. Quando o consumismo é doença, de André Trigueiro
Propaganda, marketing e a febre do consumo são temas desse artigo de André Trigueiro, jornalista especializado em meio ambiente, professor da PUC-RJ e autor do livro “Mundo Sustentável – Abrindo Espaço na Mídia para um Planeta em transformação”.
“Vem da terra do Tio Sam – templo sagrado do consumismo – uma bela lição em forma de música. Na trilha sonora do desenho animado “Mogli – o menino lobo” (Disney, 1967), o urso Baloo, responsável pela educação de Mogli numa selva repleta de predadores, cantarolava a música “Bare Necessites”, que trazia o seguinte refrão traduzido assim para o português : “Necessário, somente o necessário, o extraordinário é demais. Vivemos num planeta que oferece o necessário para todos. Se ainda assim não conseguimos ser felizes, talvez a culpa seja nossa”.
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7. A Carta da Terra
A Carta é “uma declaração de princípios éticos fundamentais para a construção, no século 21, de uma sociedade global justa, sustentável e pacífica”. A ideia surgiu em 1987, quando a Comissão Mundial das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento sugeriu a criação de um texto com o registro das diretrizes fundamentais para o desenvolvimento sustentável.
Após anos de diálogos interculturais em torno de objetivos comuns para todos os povos (e que pudessem ser expressos em uma carta), ela foi finalizada em 2000 como uma iniciativa global da sociedade civil. Leonardo Boff é um dos nomes que participou da redação da Carta. O lançamento aconteceu no Palácio da Paz, em Haia.
“Para realizar estas aspirações, devemos decidir viver com um sentido de responsabilidade universal, identificando-nos com a comunidade terrestre como um todo, bem como com nossas comunidades locais. Somos, ao mesmo tempo, cidadãos de nações diferentes e de um mundo no qual as dimensões local e global estão ligadas. Cada um compartilha responsabilidade pelo presente e pelo futuro bem-estar da família humana e de todo o mundo dos seres vivos. O espírito de solidariedade humana e de parentesco com toda a vida é fortalecido quando vivemos com reverência o mistério da existência, com gratidão pelo dom da vida e com humildade em relação ao lugar que o ser humano ocupa na natureza”.
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