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"TERRA DE GRANDE BUMBA": Maranhisidade foi novamente marcada por uma cultura popular

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Por:   •  22/11/2014  •  Tese  •  9.443 Palavras (38 Páginas)  •  757 Visualizações

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Caderno Pós Ciências Sociais. v.2 n.3 jan/jul, São Luis/MA, 2005

“A TERRA DOS GRANDES BUMBAS”: a maranhensidade ressignificada na cultura popular (1940-1960)*

“GREAT BUMBAS’ LAND”: the maranhensity remeant in the popular culture (1940-1960)

Antonio Evaldo Almeida Barros

Licenciado em História pela UFMA. Mestrando do Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Estudos Étnicos e Africanos, Centro de Estudos Afro-orientais, da UFBA; bolsista CAPES/UFBA. Membro do Grupo de Pesquisa Religião e Cultura Popular.

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RESUMO

Abordamos processos de invenção e reinvenção da maranhensidade, a partir da análise de discursos, práticas e experiências sobre um momento do processo histórico (décadas de 40 e 50 do século XX) em que o bumba-meu-boi, manifestação da cultura popular, começa, de modo acentuado, a fazer parte do texto que identifica, significa e propaga o maranhense e o Maranhão.

Palavras-chave: Identidade maranhense (maranhensidade), Cultura popular, Bumba-meu-boi, História do Maranhão (1940-1960).

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ABSTRACT

It is approach processes of invention and reinvention of the maranhensity. For that, it is analyzed discourses, practices and experiences about a moment of the historical process (decades of 40 and 50 of XX century) where the bumba-meu-boi, manifestation of the popular culture, starts, in accented way, to be part of the text that identify, mean and propaga the maranhense and the Maranhão.

Key-words: Maranhense identity (maranhensity), Popular culture, Bumba-meu-boi, History of the Maranhão (1940-1960).

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1 INTRODUÇÃO

Em meados do século XX, o bumba-meu-boi, manifestação de cultura e religiosidade popular, apresenta-se como espaço privilegiado para analisarmos o entrecruzamento de velhos e novos olhares sobre a região e o tipo regional demarcados respectivamente como Maranhão e maranhense. Antes de tudo, é importante entendermos que a “região” não é natural, que é preciso mesmo que a desnaturalizemos, que busquemos momentos em que ela se define enquanto tal, pois “A região não é uma unidade que contém uma diversidade, mas é produto de uma operação de homogeneização”. (ALBUQUERQUE JÚNIOR, 1994, p. 9, grifo nosso)

Desse modo, aceitando a sugestão de Albuquerque Júnior (1994), quando estuda “a invenção do [território demarcado como] Nordeste”, para quem, não podemos situar as fronteiras e territórios regionais num plano ahistórico, “porque são criações eminentemente históricas e esta dimensão histórica é multiforme, dependendo de que perspectiva de espaço se coloca em foco, se visualizado como espaço econômico, político, jurídico ou cultural” (ALBUQUERQUE JÚNIOR, 1994, p. 6), entendemos que o Maranhão constitui um território cujos sentidos variam ao longo do tempo, cujas definições dependem do prisma sob o qual se o vislumbra, não se referindo, de modo algum, a uma entidade natural, pronta e acabada. Pensamos, assim, que o Maranhão e o maranhense são construções sociais e históricas que passam por constantes processos de demarcação, entendendo que demarcar uma região significa dar-lhe sentidos imprimindo-lhe uma forma, uma aparência que tende à homogeneidade, mas que, enquanto (pretensa) identidade, é tão somente “uma repetição, uma semelhança de superfície, que possui no seu interior uma diferença fundante, uma batalha, uma luta, que é preciso ser explicitada”.(ALBUQUERQUE JÚNIOR, 1994, p. 9).

É compreendendo a região como espaço (re)cortado e (re)inventado a partir de interesses variados, que temos pensado um dos momentos em que aquela operação se processa no território demarcado como Maranhão, entre as décadas de 40 e 50 do século XX. Este é um momento significativo para a compreensão dos processos de (re)construção da identidade maranhense. Trata-se de um período em que, naquele território, intelectuais, poetas, escritores e políticos começam a, de modo acentuado, se interessar pela cultura popular – ou melhor, por elementos dela –, o que mostra que esta não é uma especificidade/originalidade dos últimos anos. Uma ação que, pelo que temos analisado, foi seletiva, sendo pinçados alguns elementos daquelas manifestações, especialmente o bumba-meu-boi, para compor a “maranhensidade” 1 .

Embora, no período recortado, os bumbas ainda representassem “zoada” e “barafunda” numa terra que era significada (reinventada) como límpida, erudita, branca e singular (leia-se superior) por mitos como a Atenas Brasileira e a fundação francesa de São Luís, capital do Estado2 , e continuassem a ser proibidos e disciplinados pela força policial,3 já começavam a ser sentidos como produtores de sons harmônicos e levados ao texto que definia a maranhensidade, e é precisamente este último movimento que pretendemos mostrar neste texto. Obviamente, não podemos esquecer que os populares maranhenses eram atores sociais ativos no processo em discussão. Apesar de preconceitos e perseguições em relação às suas manifestações, eles resistiram de diversas formas às situações que lhes eram opressivas e, mais que isso, criativamente redefiniram e repensaram motivos, formas e significados de suas artes, festas e rituais. 4

Desse modo, através da análise de discursos (textos escritos, imagens, ícones), práticas e experiências, objetivamos, basicamente, neste artigo, mostrar alguns lances do processo em que, entre as décadas de 40 e 50 do século XX, a manifestação de cultura e religiosidade popular denominada bumba-meu-boi é relida e encenada para além das letras que antes a instituíam como uma manifestação bárbara, e começa a fazer parte do texto que identifica, significa e propaga o Maranhão e o maranhense.

Este trabalho considera discussões sobre construções imaginárias presentes em Baczko (1985), cultura e cultura popular levantadas por Burke (1989), Canclini (1989) e Geertz (1989), assim comoproblematizações sobre campo de saber e espaço

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