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A questão do "método científico"

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Por:   •  8/11/2013  •  Seminário  •  1.344 Palavras (6 Páginas)  •  462 Visualizações

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Constitui crença generalizada que o conhecimento fornecido pela ciência distingue-se por um grau de certeza alto, desfrutando assim de uma posição privilegiada com relação aos demais tipos de conhecimento (o do homem comum, por exemplo). Teorias, métodos, técnicas, produtos, contam com aprovação geral quando considerados científicos. A autoridade da ciência é evocada amplamente. Indústrias, por exemplo, freqüentemente rotulam de “científicos” processos por meio dos quais fabricam seus produtos, bem como os testes aos quais os submetem. Atividades várias de pesquisa nascentes se auto-qualificam “científicas”, buscando afirmar-se: ciências sociais, ciência política, ciência agrária, etc.

Essa atitude de veneração frente à ciência deve-se, em grande parte, ao extraordinário sucesso prático alcançado pela física, pela química e pela biologia, principalmente. Assume-se, implícita ou explicitamente, que por detrás desse sucesso existe um “método” especial, uma “receita” que, quando seguida, redunda em conhecimento certo, seguro.

A questão do “método científico” tem constituído uma das principais preocupações dos filósofos, desde que a ciência ingressou em uma nova era (ou nasceu, como preferem alguns), no século XVII. Formou-se em torno dela e de outras questões correlacionadas um ramo especial da filosofia, a filosofia da ciência. Investigações pioneiras sobre o “método científico” foram

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conduzidas por Francis Bacon (1561-1626). Secundadas no século XVII por declarações de

eminentes cientistas, como Galileo, Newton, Boyle, e, no século seguinte, pelos Enciclopedistas,

suas teses passaram a gozar de ampla aceitação até nossos dias, não tanto entre os filósofos, mas

principalmente entre os cientistas, que até hoje muitas vezes afirmam seguir o método baconiano

em suas pesquisas. Isso é singular, visto que os estudos recentes em história da ciência vêm

revelando que os métodos efetivamente empregados pelos grandes construtores tanto da ciência

clássica quanto da moderna têm pouca conexão com as prescrições do filósofo inglês.

De forma simplificada, podemos identificar nas múltiplas variantes dessa visão da

atividade científica e da natureza da ciência  a que chamaremos visão comum da ciência 

algumas pressuposições centrais:

a) A ciência começa por observações. Bacon propôs que a etapa inicial da investigação

científica deveria consistir na elaboração, com base na experiência, de extensos catálogos de

observações neutras dos mais variados fenômenos, aos quais chamou “tábuas de coordenações de

exemplos” (Novum Organum, II, 10). Como exemplo, elaborou ele mesmo uma lista de exemplos

de corpos quentes, visando a iniciar o estudo científico do calor. Essa tábua é então

complementada por duas outras, igualmente de longa extensão, reunindo “casos negativos”

(corpos privados de calor) e casos de corpos que possuem uma “disposição” para o calor.

b) As observações são neutras. As referidas observações podem e devem ser feitas sem

qualquer antecipação especulativa, sem qualquer diretriz teórica. A mente do cientista deve estar

limpa de todas as idéias que adquiriu dos seus educadores, dos teólogos, dos filósofos, dos

cientistas; ele não deve ter nada em vista, a não ser a observação pura.

c) Indução. As leis científicas são extraídas do conjunto das observações por um processo

supostamente seguro e objetivo, chamado indução, que consiste na obtenção de proposições

gerais (como as leis científicas) a partir de proposições particulares (como os relatos

observacionais). Servindo-nos de uma ilustração simples, a lei segundo a qual todo papel é

combustível seria, segundo a visão que estamos apresentando, obtida de modo seguro de um

certo número de observações de pedaços de papel que se queimam. A lei representa, pois, uma

generalização da experiência. O processo inverso, de extração de proposições particulares de uma

lei geral, assumida como verdadeira, cai no domínio da lógica, sendo um caso de dedução.

Durante a primeira metade do século XX, uma plêiade de eminentes filósofos empreendeu

aperfeiçoar aquilo que vimos denominando de concepção comum de ciência, em um sofisticado

programa filosófico, conhecido como positivismo lógico. Esse movimento, cujo núcleo original

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formou-se em torno do chamado Círculo de Viena, na década de 1920, exerceu uma influência marcante sobre a comunidade científica, que perdura até nossos dias, não obstante críticas severas ao positivismo lógico haverem surgido ainda na década de 1930.

2. Objeções à visão comum da ciência

Iniciemos nossa simplificada exposição das objeções à visão comum da ciência examinando brevemente a questão da justificação da indução. Dentro do âmbito restrito de nossa discussão, o processo dedutivo não apresenta maiores dificuldades; podemos assumir que se a verdade de uma proposição estiver assegurada, também o estará a de todas as proposições que dela decorrerem dedutivamente, pelo uso das leis da lógica. Tais leis, no entanto, não asseguram a validade do processo indutivo. Voltando ao nosso exemplo, nenhum conjunto de observações de incineração de pedaços de papel, por maior e mais variado

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