ANTROPOLOGIA Xama
Casos: ANTROPOLOGIA Xama. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: amandaaaaaaa • 9/6/2013 • 2.260 Palavras (10 Páginas) • 725 Visualizações
LÉVI-STRAUSS, C. Antropologia Estrutural. São Paulo: Cosacnaify, 2008 [1958]. “A eficácia simbólica”, pp.201-220.
FICHAMENTO
No texto anterior, LS apresenta-nos esta figura do feiticeiro, essencialmente uma figura socialmente construída. Apresenta-nos as bases da sua atuação e projeta os alicerces de sua penetração social: a performance do feiticeiro, a crença do doente no mesmo e a legitimidade social colocada nele, são os fatores que permitem que essa figura exerça de fato o papel místico.
O feiticeiro não é apenas um ser performático. Ele vive a experiência real a um nível de intensidade em que podemos falar que, ao mesmo tempo em que provoca a ab-reação também a vive. Mas o xamã é, acima de tudo, um ab-reator profissional.
Se em “O feiticeiro e sua magia” LS investiga os mecanismos psico-fisiológicos que fundam a crença no feitiço, em a “eficácia simbólica” Strauss enfoca as hipóteses necessárias para admitir o modo de ab-reação particular para que cada xamã possa induzir simbolicamente, no doente, uma ab-reação de sua própria perturbação. Os efeitos, isto é, a cura em si, o processo de cura nos procedimentos xamanísticos e o ambiente simbólico dos sujeitos envolvidos na relação mítica é o que LS procura entender.
O texto de LS terá como base outro texto “mágico-religioso” que trata de uma cultura sul-americana, publicada por Wassen e Holmer. A tribo Cuna, é localizada na república do Panamá, onde os autores coletaram os versos indígenas que serão criteriosamente analisados por LS. Nesses escritos, registrados por informante indígena, encontram-se os versos do canto realizado pelo Xamã numa situação específica, que raramente acontece nas tribos (segundo LS pela facilidade com que parturientes sul- americanas realizam o parto): o parto difícil. A intervenção do xamã nessas ocasiões ocorre quando há o fracasso das parteiras e, atendendo ao pedido delas, o xamã desloca-se até o local do parto para promover o canto, neste caso, seu instrumento de cura.
O canto começa relatando uma série de acontecimentos. Desde o chamado da parteira até a chegada e os preparativos do xamã. Os nuchu são espíritos protetores que, no ritual, são materializados em imagens esculpidas em madeira e invocados para auxiliar o Xamã no momento do parto. O Xamã coloca os nuchu pela cabeça e coloca-os na entrada da morada de Muu, a força responsável pela criação do feto. Para os Cuna, o parto é difícil porque Muu extrapolou e se apossou da alma da futura mãe, o purba. A dor é causada por animais e monstros que estão no “caminho de Muu”, fazendo com que no Xamã os donos destes sejam mobilizados para recolhê-los e, assim, a dor cesse. Dessa forma, o canto visa buscar o purba perdido que será recuperado depois de uma saga que inclui demolição de obstáculos e superação de animais ferozes e, por fim, acontece a grande competição entre o Xamã com seus aliados, os espíritos protetores, e Muu com suas filhas. Quando vencida, Muu liberta o purba da mãe e o parto acontece. É importante lembrar que não é um combate contra Muu em si, já que é a força que forma o feto, mas sim contra seus abusos. Uma vez que os abusos de Muu são corrigidos, a amizade é restabelecida entre ela e o Xamã.
Outro aspecto importante do texto de Wassen e Homer, apontado por Lévi-Strauss, é a interpretação dos autores em relação às expressões do ritual, nas quais “caminho de Muu” e “morada de Muu” se referem, literalmente, à vagina e ao útero da mulher grávida.
Outro aspecto importante do ritual é a diferença entre purba e niga, onde este é a força vital e aquele a alma. O niga, diferente do purba, não pode ser tirado de seu possuidor. Niga é atributo do ser vivo e o purba é inerente a cada parte do corpo, isto é, o niga é o organismo que existe do funcionamento combinado dos purbas. No caso deste ritual, o distúrbio patológico é causado pelo roubo do purba do útero.
Em que o ritual xamânico descrito anteriormente ira nos ajudar?Será útil para definir o modo como determinadas representações psicológicas são invocadas para combater males fisiológicos, igualmente bem definidos. O que o xamã faz é uma mediação puramente psicológica, já que não há remédios ou manipulação corporal. O que LS quer trazer com a análise do canto é que ele é uma estratégia de manipulação psicológica do órgão do doente, e que é dessa manipulação que vem a cura.
Neste ponto ele tenta identificar as características dessa manipulação pra depois buscar os objetivos e a eficácia da mesma.
A técnica da manipulação psicológica
O que chama a atenção de LS sobre o canto é que sendo este um ritual que teoricamente teria como foco a batalha do xamã e dos espíritos protetores contra os excessos de Muu, que esta parte do combate seja tão pouco descrita. Ora, tem-se pelo contrário, a descrição de detalhes que parecem secundários que são revividos minimamente mais de uma vez: a entrada da parteira, a saída dela, o chamado do xamã (ler. 208), tudo isso é tratado de modo meticuloso, em câmera lenta, como nos diz LS.
Fica claro para LS que a técnica usada pelo xamã é a de fazer com que a parturiente reviva os momentos desde o início daquele processo, provocando na gestante uma reflexão em meio ao caos da situação, quando a dor e a exaustão a preenchem. Essa situação introduz uma série de eventos cujo suposto palco é o corpo (os órgãos internos da paciente), então, este passa da realidade para o mito e conseqüentemente do mundo físico para o mundo fisiológico.
No desenrolar do canto emprega-se um ritmo ofegante onde oscilam cada vez mais rapidamente temas míticos e fisiológicos, como se tratasse de abolir a distinção que tem esses dois mundos dentro da paciente, provocar uma fusão de sentidos, uma confluência entre os respectivos atributos. Repete-se no mito o que se encontra na realidade; “os nuchu sangram abundantemente, e suas dores assumem proporções cósmicas” e, dentro da mitologia, os nelegan penetram o caminho de Muu (a vagina).
Há claramente a confusão entre mito e realidade. A técnica da narrativa visa, portanto, a restituição de uma experiência real, da qual o mito apenas substitui os protagonistas, que penetram no orifício natural, de modo que a paciente possa se sentir realmente penetrada. E essa penetração será percebida positivamente para o bem da paciente, para que ela torne claro e acessível ao pensamento consciente o foco das sensações indescritíveis e dolorosas. Essa viajem dos nelegan promove não só o itinerário fisiológico mas também a possibilidade de se enxergar afetivamente
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