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ANÁLISE DE LIVRO DIDÁTICO: O CONCEITO DE LETRAMENTO PRESENTE NAS ATIVIDADES DE LEITURA E ESCRITA PARA A 1ª SÉRIE DO ENSINO FUNDAMENTAL

Trabalho Escolar: ANÁLISE DE LIVRO DIDÁTICO: O CONCEITO DE LETRAMENTO PRESENTE NAS ATIVIDADES DE LEITURA E ESCRITA PARA A 1ª SÉRIE DO ENSINO FUNDAMENTAL. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicos

Por:   •  28/10/2014  •  7.858 Palavras (32 Páginas)  •  761 Visualizações

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1. INTRODUÇÃO

Os estudos sobre letramento, ainda recentes no Brasil, têm trazido à tona questões de ensino e de aquisição de língua vistas não de uma perspectiva interna, isolada do social, mas no âmbito em que o social, o cultural e a história se apresentam imbricados.

Apesar de não se ter ainda uma definição consensual sobre letramento, visto que algumas definições priorizam apenas o aspecto social, outras o sócio-cultural, e outras incluem, além destes, o histórico, optamos por uma definição que achamos ser mais abrangente, que inclui os aspectos culturais e sócio-histórico, definição esta defendida por estudiosos como Soares (1998); Street (1984, 1993); Heath (1983); Magalhães (1995), dentre outros.

Assim, preocupada em discutir questões sobre letramento surgidas a partir de nosso trabalho com alfabetização de adultos e de discussões outras em disciplinas cursadas no mestrado, realizamos este trabalho objetivando identificar, em cinco coleções de livros didáticos (LD) do Ensino Fundamental (livros da 1ª série), a concepção de letramento a elas subjacentes, a partir dos gêneros trabalhados, das propostas de atividades de leitura e escrita sugeridas e das orientações teóricas presentes no manual do professor.

Foi com o intuito de nos inteirarmos destes estudos que nos motivamos a realizar este trabalho, mas esperamos ainda, de forma despretenciosa, que ele possa lançar alguma contribuição aos professores do ensino fundamental.

2. ASPECTOS METODOLÓGICOS DA ANÁLISE DOS LIVROS DIDÁTICOS

A escolha das cincos coleções de LD se deu pelo fato de 04 delas serem utilizadas em várias escolas tanto particulares quanto públicas de nossa cidade. E uma outra coleção, que é lançamento, por se apresentar como uma proposta para o letramento. Em cada uma delas analisamos apenas o livro de 1ª série do ensino fundamental, por dois motivos: o primeiro diz respeito à inviabilidade de se analisar todas as séries de cada coleção em um trabalho monográfico; o segundo, pelo fato de ser a 1ª série uma continuação do processo inicial de alfabetização para crianças que fizeram a série anterior (a alfabetização) e pelo fato de essa série ser a entrada de parte de crianças de escolas públicas na vida escolar. Nesses dois casos a criança está no processo inicial de aquisição da leitura e da escrita.

As coleções selecionadas são: ALP1 – Análise Linguagem e Pensamentos de M. Fernandes Cócco e Marco A. Hailer, editora FTD; Construindo a escrita, leitura e interpretação de textos de Carmen S. Carvalho e Mª da Graça Baraldi, da Ática; O prazer da Redação 1 de Samir Mesarani, editora Ática. A coleção Rosa – dos – Ventos . Língua Portuguesa 1 de Emmanuel C. de Oliveira e Mª da Penha Gonçalves, editora Moderna e a coleção Português – uma proposta para o letramento 1 de Magda B. Soares, da editora Moderna (lançamento).

A análise consistirá em observar em cada um desses LDs da 1ª série do ensino fundamental três unidades de ensino propostas: a inicial (unidade 1- U1), uma unidade do meio (unidade 2- U2) e a última (unidade 3- U3), para verificarmos os gêneros trabalhados, observando se há uma preocupação em apresentar textos de gêneros diferentes, socialmente utilizados, numa perspectiva não só de que o aluno os conheça em termos de estrutura, mas de que produza nesses gêneros e se os fazem relacionando com a realidade sua sócio-cultural. Isto nos permite avaliar se a proposta do livro, a partir dos gêneros trabalhados favorece apenas a aquisição e a decodificação individual da leitura e da escrita, enquanto código (proposta de alfabetização) ou se favorece a aquisição da leitura/escrita numa proposta de letramento.

O outro aspecto da análise consiste em comparar a orientação dada no manual didático do professor com as três unidades de ensino observadas, para confrontarmos o conceito de letramento do manual com as propostas de atividades. Para isto, faremos um resumo da proposta pedagógica, da teoria que embasa cada coleção, a fim de enquadrá-las numa perspectiva de alfabetização ou letramento, conforme especificamos na teoria.

2.1. Alfabetização e Letramento

Possivelmente, pelo fato de os estudos sobre letramento ainda serem recentes e por serem muitos os aspectos enfocados (letramento individual, social, ideológico, níveis de letramento,letramento e oralidade, dentre outros) não há uma definição única, consensual sobre letramento. O que se observa é uma tendência geral para se separar o conceito de processo de alfabetização do que se concebe como letramento. Em função disto, faremos uma ligeira abordagem sobre alguns aspectos do que se tem discutido sobre alfabetização e letramento que consideramos relevantes para este trabalho.

Tfouni (1997: 9) afirma que escrita, alfabetização e letramento, apesar de estarem inevitavelmente ligados, são apresentados por muitos estudiosos como sendo distintos. O que levaria a essa separação seria o fato de que os sistemas de escritas são vistos como um produto cultural e a alfabetização e o letramento como processos de aquisição de um sistema escrito.

Com base nesta concepção, Tfouni (op. cit.) propõe definições distintas para alfabetização e letramento. Segundo ela, a alfabetização se caracteriza pela aquisição de habilidades para leitura, escrita e as chamadas práticas de linguagem que são efetuadas pela instituição formal, a escola, práticas estas também denominadas de escolarização. O letramento, por sua vez, se preocupa em abordar os aspectos sociais, culturais e históricos da aquisição da escrita.

Tfouni testando a teoria cognitivista e individual da alfabetização de Scribner e Cole (1981) na qual defendiam que a alfabetização proporcionaria o desenvolvimento do raciocínio lógico através das alterações cognitivas que proporciona, mostrou, em pesquisas realizadas com adultos não-alfabetizados (1988), que esses têm capacidade para descentralizar seu raciocínio e resolver conflitos e contradições que se estabelecem no plano da dialogia. E concluiu que, o problema real está no fato de ser ou não letrada a sociedade em que os não-alfabetizados vivem e não apenas o fato de ele ser ou não alfabetizado.

O argumento de que se pode encontrar em grupos de indivíduos não-alfabetizados características que geralmente são atribuídas a indivíduos alfabetizados e escolarizados favorece a idéia de que letramento e alfabetização são distintos.

Entretanto, Soares (1998) fala em letramento individual e social. Quando ele se centraliza na dimensão individual, o letramento é visto como um atributo pessoal, posição também defendida

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