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Aspectos do Romantismo na Literatura Portuguesa

Por:   •  6/11/2016  •  Trabalho acadêmico  •  1.680 Palavras (7 Páginas)  •  420 Visualizações

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ASPECTOS DO ROMANTISMO NA LITERATURA PORTUGUESA

        A literatura no século XIX em Portugal incorpora os ideais e as mudanças políticas do período em crítica à decadente Monarquia Absolutista e ascensão do Liberalismo, permeados por uma busca e afirmação necessárias tanto ao plano literário quanto político e social: a busca pelo nacional.

        Em uma passagem de Viagens na minha terra (1948), de Almeida Garrett, “reminiscências da outra pátria mais antiga” se identifica com o estado absolutista em Portugal que, em vias de decadência, alimentada pela Revolução Francesa (1789), dá lugar a um estado moderno liberal, estado agora “a regenerar-se na santa liberdade da natureza”, comprometido com ideais iluministas e nacionais.

        O personagem Carlos, conforme constrói Garrett, representa os ideais liberais vitoriosos na Guerra Civil Portuguesa (1828 a 1834) contra o absolutismo despótico de D. Miguel I, então rei de Portugal. Em contraposição ao personagem Carlos, há o personagem Frei Dinis, personificação do conservadorismo absolutista. Frei Dinis tenta convencer Carlos a sair do partido constitucionalista, acreditando que as ideias liberais eram anticristãs. Em Carlos cresce uma grande antipatia por Frei Dinis, mesmo antes de saber que Frei Dinis era seu pai, o grande mistério na trama que é revelado no trecho final e causa grande assombro e reviravolta em Carlos: o estado absolutista era o pai nefasto do liberalismo. Carlos então foge do seio familiar e se torna um barão explorador e rico, adota o conservadorismo retrógrado contra o qual lutou e o liberalismo assim se desvirtua e se corrompe em sua própria decadência moral.

Dessa forma, as mudanças que Portugal tomava no plano político, ainda que requeridas e necessárias, não fugiam à crítica de Garrett, como observado na passagem em questão: “Mas o melhor e o mais generoso dos homens segundo a sociedade é ainda mais fraco, falso e acanhado”.

É possível perceber em Viagens na minha terra um novo gênero literário em Portugal, disseminado ao longo do século XIX, que propõe inúmeras características de vanguarda em relação ao movimento classicista anterior, seja na interlocução de gêneros narrativos sem as amarras tradicionais à poesia e também à prosa, seja na intensidade passional e idealizada das relações amorosas, seja na autoria evidenciada em primeira voz com suas observações e proposições pessoais, ou mesmo, como já mencionado, na tomada de consciência para o que é nacional.

        Viagens na minha terra é uma obra literária fundadora, em Portugal, de uma linguagem moderna e romântica ao mesclar diferentes gêneros narrativos: ao mesmo tempo de um relato de viagem, de tom confessional programático e de descrição de ambientes e encontros, Garrett articula reflexões filosóficas e políticas sobre a vida e a história de Portugal ao longo de recortadas digressões.

Ainda, a lírica amorosa em forma de novela também se faz presente e simboliza, pela caracterização de seus personagens e pela trama, seu próprio discurso e análise política do país. Uma metalinguagem de seu próprio texto, permanentemente reflexivo, com confidências e elucubrações pessoais do autor postos em diálogo com o leitor: esteticamente, esse jogo de diferentes linguagens marca sobremaneira o Romantismo.

        O personagem Carlos é um típico poeta romântico, apaixonado pelos olhos verdes de Joaninha, que simbolizam a paisagem pura e campestre de Portugal. Garrett interpola as aspirações poéticas de Carlos em versos que “não têm metro, nem rima” e que, enfim, “versos não são”, no capítulo XXIII:

“Olhos verdes!!...

“Joaninha tem os olhos verdes.

“Não se reflete neles a pura luz do céu, como nos olhos azuis.

“Nem o fogo e o fumo das paixões, como nos pretos.

“Mas o viço do prado, a frescura e animação do bosque, a flutuação e a transparência do mar...

Tudo está naqueles olhos verdes.”

Joaninha é prima de Carlos, por quem conserva grande paixão, meiga e ingênua, uma representação do país que não sobrevive à realidade histórica. Joaninha é, assim, uma das musas do autor, já que Carlos é identificado como o próprio Garrett: o Portugal de um passado idealizado, saudosista e bucólico é a musa de um movimento romântico que, por um lado, é crítico à apatia do país frente ao progresso das demais nações da Europa e, por outro, às mudanças estabelecidas que empoderaram uma burguesia oligárquica liberal.

Igualmente de cunho proeminentemente político, o discurso de Antero de Quental intitulado “Causas da decadência dos povos peninsulares nos últimos três séculos” (1871) dialoga com as críticas de Garrett ao estabelecer os principais motivos do que chama de “decadência da história de Portugal”; entre eles a contrarreforma cristã, a centralização política realizada pela Monarquia Absolutista junto à letargia do país em se modernizar e o sistema econômico efetivado pelo período das grandes navegações.

Quental invade o espaço romântico na assimilação de um passado cristão anterior à contrarreforma levada a cabo pelos jesuítas. Deve-se, então, retomar os valores de um primeiro cristianismo, medieval, tolerante à existência entre mouros e cristãos, quando a prática da religião reforçava o âmbito local e a fé tinha expressão autônoma dos povos.

Quental também critica os processos econômicos do Império português que destruíram a sociedade portuguesa – balizado por valores científicos, iluministas – e que resultou somente na extração da riqueza alheia. A herança do povo português é a “indiferença”, em especial à modernização do pensamento e à liberdade de expressão. As políticas expansionistas de Portugal resultam, para Quental, no grande mal da sociedade portuguesa: “a nossa fatalidade é a nossa história”.

Se as conquistas além-mar proporcionaram um grande mal ao próprio Portugal, para Quental, é Garrett que realiza uma outra navegação, moderna e em direção ao interior, pelo território, no sentido contrário da corrente do Tejo, em busca do que há de nacional dentro da própria nação: “Parte para Santarém”.

É justamente Garrett que reafirma a busca pela “cor local”, por um nacional construído a partir da cultura popular não erudita de Portugal, em seu Romanceiro (1851), compilação de poemas e cantigas populares que deveriam ser inseridas, a partir de então, no plano literário. O objetivo do Romanceiro, para Garrett, seria “popularizar o estudo da nossa literatura primitiva, dos seus documentos mais antigos e mais originais para dirigir a revolução literária que se declarou no país” (p. 3). Garrett postula que é preciso:

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