Base histórica da epidemiologia
Artigo: Base histórica da epidemiologia. Pesquise 861.000+ trabalhos acadêmicosPor: andreiassantos • 3/4/2014 • Artigo • 1.841 Palavras (8 Páginas) • 562 Visualizações
ARTIGO
Bases históricas da Epidemiologia
* Departamento de Medicina Pre- Naomar de Almeida Filho*
ventiva da UFBA.
O presente ensaio tenta sistematizar uma série de
informações esquemáticas sobre a história da Epidemiologia,
a fim de compreender a sua evolução enquanto disciplina
articulada ao desenvolvimento histórico dos principais
movimentos sociais na área da saúde. Discute-se as raízes
da Epidemiologia a partir do tripé Clínica-Estatística-
Medicina Social, o seu desenvolvimento inicial subsidiário
à Saúde Pública, a sua constituição ideológica e o seu
avanço técnico no bojo do projeto preventivista.
Finalmente, a Epidemiologia moderna é vista como uma
disciplina que retorna às suas raízes históricas e políticas no
movimento da Saúde Coletiva, opondo-se, a nível teórico,
às pressões para torná-la um mero instrumento
"método-lógico " da pesquisa clínica.
Recebido para publicação
em 06.03.85
A primeira medicina do coletivo é a Medicina Veterinária.
Foucault5 nos conta que a Academia de Medicina de Paris,
fundadora da Clínica moderna no século XVII, organiza-se
a partir da Ordem Real para que os médicos estudassem a
epidemia que periodicamente dizimava o rebanho ovino,
com graves perdas para a nascente indústria textil francesa.
Pela primeira vez, conta-se doenças no esforço de sua eliminação.
Foucault não nos diz se os insignes doutores obtiveram
algum resultado. O fato é que, em se tratando de humanos,
a "ciência clínica" começa reforçando mais ainda o
estudo do unitário, o caso.
No âmbito político, o século XVII testemunha o aparecimento
do Estado moderno. Especificam-se os conceitos de
Estado, Governo, Nação e Povo. A idéia de que a riqueza
principal de uma nação é o seu povo, aliada ao dado objetivo
de que o poder político é o poder dos exércitos, faz com
que seja necessário contar o povo e o exército, ou seja, o
Estado. A medida do Estado, a Estatística, o povo como
elemento produtivo, o exército como elemento beligerante,
precisam não apenas do número mas também da disciplina
e da saúde. Estas são as bases da "aritmética política" de
William Petty (1623-1697) e dos levantamentos pioneiros
da "Estatística Médica de John Graunt (1620-1674)8.
Durante o século XVII, o poder político da burguesia
emergente consolida-se pela "restauração", como na Inglaterra
e Alemanha, ou pela "revolução", como na França e
nos Estados Unidos. Diferentes tipos de intervenção estatal
sobre a questão da saúde das populações ocorrem no
período. Na Inglaterra, o "movimento hospitalista" e o
assistencialismo antecedem uma medicina da força de
trabalho já parcialmente sustentada pelo Estado em áreas
urbanas. Na França, com a Revolução de 1789, implanta-se
uma "medicina urbana" a fim de sanear os espaços das cidades,
disciplinando a localização de cemitérios e hospitais,
arejando as ruas e construções públicas e isolando áreas
"miasmáticas"5. Na Alemanha, Johann Peter Franck
(1745-1821) sistematiza as propostas de uma "Política
Médica", baseada na compulsoriedade de medidas de controle
e vigilância das doenças, sob a responsabilidade do
Estado, junto com a imposição de regras de higiene individual
para o povo14.
Em 1825, P.C. Alexandre Louis (1787-1872) publica em
Paris um estudo estatístico de 1960 casos de tuberculose.
Médico e matemático, Louis é também o percursor da avaliação
de eficácia dos tratamentos clínicos utilizando os
métodos da Estatística17. A abordagem de doenças pelo
"método numérico" influencia o desenvolvimento dos primeiros
estudos de morbidade na Inglaterra e nos Estados
Unidos, origem da Saúde Pública9. Alguns dos discípulos de
Louis iniciam o movimento da Medicina Social na França.
A Revolução Industrial e sua economia política trazem o
fato e a idéia da força de trabalho. A formação de um proletariado
urbano, submetido a intensos níveis de exploração,
expressa-se como luta política sob a forma de diferentes
socialismos, ditos utópicos porque iniciais. O desgaste da
classe
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