Título: As Bases Sócio-Historicas De Constituição Da Ética
Artigo: Título: As Bases Sócio-Historicas De Constituição Da Ética. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: Juci • 24/4/2013 • 3.160 Palavras (13 Páginas) • 3.929 Visualizações
1.1. Práxis e Capacidades Humano-Genéricas.
“[...] É nesse processo histórico que são tecidas as possibilidades de o homem se comportar como um ser ético: enquanto o animal se relaciona com a natureza a partir do instinto, o ser social passa a construir mediações – cada vez mais articuladas –, ampliando seu domínio sobre a natureza e sobre si mesmo. Desse modo, sem deixar de se relacionar com a natureza – pois precisa dela para se manter vivo – vai moldando sua natureza social”. (pág. 19).
“A ética – entendida como modo de ser socialmente determinado – tem sua gênese no processo de autoconstrução do ser social. Sob esse prisma de análise social e histórica, entende-se que o ser social surge da natureza e que suas capacidades essenciais são produto de si mesmo, o que indica a historicidade de sua existência, excluindo qualquer determinação que transcenda a história e o próprio homem”. (pág. 20).
“[...] Os homens reais – em suas relações entre si e com a natureza – são os portadores da objetividade sócio-histórica. E nesse sentido pode-se dizer que o ser social fundamenta-se em categorias ontológico-sociais, pois os modos de ser que o caracterizam são construções sócio-históricas que se interdeterminam de forma complexa e contraditória, em seu processo de constituição”. (pág. 20).
“Decerto, o animal também produz. Constrói para si um ninho, habitações, como as abelhas, os castores, formigas etc. Contudo, produz o que necessita imediatamente para si ou para a sua cria; produz unilateralmente, enquanto que o homem produz universalmente; produz apenas sob a dominação da necessidade física imediata, enquanto que o homem produz mesmo livre da necessidade física e só produz verdadeiramente na liberdade da mesma; produz-se apenas a si próprio, enquanto o homem reproduz a Natureza toda; o seu produto pertence imediatamente ao seu corpo físico, enquanto o homem enfrenta livremente o seu produto. O animal dá forma apenas segundo a medida e a necessidade da espécie a que pertence, enquanto que o homem sabe produzir segundo a medida de cada espécie e sabe aplicar em toda parte a medida inerente ao objeto; por isso, o homem dá forma também segundo as leis da beleza”. (Marx, 1993, p. 165). (pág.21).
“[...] Marx se refere às capacidades desenvolvidas pelo trabalho: “necessidade natural e eterna de efetivar o intercâmbio material entre o homem e a natureza, e, portanto, manter a vida humana” (Marx, 1980, p.50)”. (pág.21).
“[...] O trabalho é, antes de tudo, em termos genéticos, o ponto de partida da humanização do homem, do refinamento de suas faculdades, processo do qual não se deve esquecer o domínio sobre si mesmo. (Lukács, 1979, p. 87)”. (pág. 21).
“[...] Como diz Marx, uma necessidade primária, como a fome, por exemplo, torna-se social ao criar formas diferenciadas de satisfação, pois estas já indicam costumes e culturas construídas em diferentes modos de produção”:
“A fome é fome, mas se é satisfeita com carne preparada e cozida e se é ingerida com a ajuda de garfo e faca é diferente da fome que é satisfeita devorando carne crua, destroçada com as mãos, as unhas e os dentes. Não se trata somente do objeto de consumo, mas também do modo de consumo, criado pela produção, tanto em sua forma objetiva como subjetiva”. (pág. 22).
“[...] A realidade é dinâmica; logo, não existe uma relação de causa e efeito nas ações humanas. Os homens são os produtores de sua consciência, mas o produto de sua práxis não pode ser considerado uma consequência causal de sua projeção ideal, porque as circunstâncias sociais em que ele é produzido ultrapassam a determinação subjetiva dos indivíduos, considerados isoladamente [...]”. (pág. 23).
“Como práxis, o trabalho realiza um duplo movimento: supõe a atividade teleológica (a projeção ideal de suas finalidades e meios) por parte do sujeito que o realiza e cria uma realidade nova e objetiva (resultante da matéria transformada). O produto do trabalho constitui a objetivação do sujeito. Nesse processo, o sujeito se modifica e pode se auto-reconhecer como sujeito de sua obra; a natureza se modifica por ter sido transformada pela ação do homem. o produto passa a ter uma existência independente do sujeito que o criou, mas não independente da práxis da humanidade, pois é resultante do acúmulo de conhecimento e da prática social dos homens”. (pág. 24).
“[...] Os instrumentos de trabalho não modificam apenas a atividade humana; transformam toda a vida dos homens, instituindo novas possibilidades. No caso do fogo, alteram-se todos os sentidos – pois com o alimento cozido, por exemplo, o paladar, o tato, o olfato etc. São modificados; atendem-se a necessidade, pois é possível aquecer-se com o fogo; criam-se hábitos culturais, desencadeando novos sentimentos e comportamentos; a natureza já não se apresenta como um mistério; o homem se vê como sujeito de sua transformação”. (pág.26).
“Tratamos a liberdade em dois sentidos: negativo e positivo. A liberdade negativa significa estar livre de algo, sendo dirigida à superação dos impedimentos à sua livre manifestação; quer dizer o empenho na direção de ações que rompam com os limites à liberdade e/ou construam alternativas de escolha. Por liberdade positiva entende-se estar livre para algo, ou seja, a ação voltada à objetivação da liberdade, à sua ampliação, à sua defesa e estratégias de viabilização”. Marx assim define a liberdade:
“[...] O exercício da liberdade consiste exatamente em superar obstáculos e é necessário, além disso, despojar os fins externos de seu caráter pura necessidade natural para estabelecê-los como fins que o individuo fixa e a si mesmo, de maneira que se torne a realização e objetivação do sujeito, ou seja, liberdade real, cuja atividade é precisamente o trabalho. (Marx, 1970, II, p. 101)”. (pág. 28).
“Percorrendo o caminho dos fundamentos, chegamos à ética, entendida como “um momento da práxis humana em seu conjunto” (Lukács, 2007, p.72). Nessa perspectiva, a ética não pertence a nenhuma dimensão ou esfera específica da realidade, se objetivando, teórica e praticamente, de formas particulares e socialmente determinadas, como conexão entre o indivíduo singular e as exigências sociais e humano-genéricas”. (pág.29).
1.1. Práxis, Alienação e Fetiche.
“Com o nascimento da propriedade privada, o produto do trabalho se separa do trabalho, se converte em objeto alheio, em propriedades de outro; o objeto e o resultado da atividade se aliena do sujeito ativo. Sobre essa base se produz
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