CONHECIMENTO E PODER: A ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA E A CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA
Casos: CONHECIMENTO E PODER: A ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA E A CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: marciodorimar • 8/7/2014 • 5.431 Palavras (22 Páginas) • 604 Visualizações
CONHECIMENTO E PODER: A ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA
E A CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA
Joanisval Brito Gonçalves
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1. Introdução
Vinte anos transcorridos da promulgação da Carta de 1988, pode ser chegada a hora de
se tentar entender um aspecto interessante da Constituição: por que, ao longo de seus 250
artigos, a Lei Maior não faz qualquer referênciaa uma atividade que existe desde que os
primeiros homens se organizaram em sociedade e que constitui alicerce importante do Estado
democrático, qual seja a atividade de inteligência? Como uma constituinte que se preocupou
em estabelecer, no texto constitucional, a manutenção do Colégio Pedro II na órbita federal
não fez qualquer alusão aos serviços secretos?
O presente trabalho tem por objetivo discutira atenção dada ao texto constitucional à
atividade de inteligência a serviço do Estado brasileiro. Apresenta, ainda, proposta do que
pode ser feito para dar mais garantias, por meio de reforma na Constituição, ao Estado e à
sociedade brasileiros para que tenham uma comunidade de inteligência atuando em defesa da
democracia. Antes, porém, é importante que sejam feitas algumas considerações sobre a
pouco conhecida “atividade de inteligência” e sobre o histórico da inteligência no Brasil.
2. Atividade de inteligência
Tida como a segunda profissão mais antigado mundo – e às vezes confundida com a
primeira –, a atividade de inteligência tem fascinado e atemorizado o homem em suas relações
sociais desde que este tomou consciência deque conhecimento é poder. De fato, do antigo
Egito aos dias atuais, reis, príncipes, generais, papas, homens de Estado, empresários e líderes
nas mais diversas áreas, no setor público e na iniciativa privada, têm recorrido à atividade de
inteligência para subsidiar suas decisões com conhecimentos produzidos a partir de
informações sigilosas.
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JOANISVAL BRITO GONÇALVESé Doutor em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília (UnB) e
Especialista em Inteligência de Estado. É Consultor Legislativo do Senado Federal para Relações Exteriores e
Defesa Nacional. É também professor universitário e instrutor externo da Escola de Aperfeiçoamento de
Oficiais da Aeronáutica da Universidade da Força Aérea (EAOAR/UNIFA).
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De fato, a “necessidade de conhecer” para seproteger, componente atávica da natureza
humana, é um aspecto essencial para a sobrevivência do homem desde sua mais remota
origem
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. Informação, repita-se, é poder, e Política envolve relações de poder. Assim é que a
Política, interna ou externa, depende de conhecimento e, nesse sentido, a atividade de
inteligência mostra-se fundamental para as decisões do animal político
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.
Já havia relatos sobre a atividade de inteligência no Egito dos faraós. Um dos primeiros
registros de relatórios de inteligência produzidos remonta a 3.000 anos antes de Cristo: tratase de um documento produzido para o Faraó por uma patrulha da fronteira sul do Egito, em
que é informado que “encontramos o rastro de 32 homens e 3 jumentos”.
Mas maior parte dos historiadores que tratam de inteligência cita a Bíblia cristã como
uma das fontes mais antigas sobre a atividade. No Antigo Testamento há, por exemplo, a
passagem em que Moisés teria enviado espiões à Terra de Canaã, no que pode ser uma das
primeiras “ordens de busca” de que se tem registro
3
.
Outra passagem bíblica muito referida é do envio por Josué, sucessor de Moisés, de dois
espiões à cidade-fortaleza de Jericó, para coletarem informações para a campanha militar
israelita. De acordo com o relato bíblico, uma vez na cidade, os espiões teriam contado com
apoio e abrigo da prostituta Raab
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, uma evidência da estreita colaboração entre a primeira e a
segunda profissões mais antigas... Isso teria acontecido por volta do ano 1.200 a.C. A Bíblia,
de fato, está repleta de histórias de espiões, de Dalila a Judas.
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“The need to know is just as deeply embedded in our biological and social make-up as the need to reproduce.
‘Real time information’ on the world around us, whether we are in a cave or a spaceship, is as essential to our
day-to-day survival as any other human function. Indeed, our primary survival reflex actually depends on a
keen awareness of the threats around us, as any sparrow hopping around looking for food in a cat-infested
garden knows. Intelligence on the threat as the key to survival is, therefore, the oldest profession and not the
second – if profession it is. Intelligence is part of mankind’s
...