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Ciência Poliitica

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Por:   •  24/9/2013  •  1.444 Palavras (6 Páginas)  •  196 Visualizações

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RESENHA DE “DISCURSO POLÍTICO”

[CHARAUDEAU, P. – SÃO PAULO:

CONTEXTO, 2006]

Jaçanã Ribeiro*

O livro de Patrick Charaudeau, professor de Ciências da

Linguagem na Universidade de Paris XII e diretor do Centro de Análise

do Discurso, apresenta uma reflexão sobre a natureza, funções, regras e

procedimentos do discurso político enquanto processo de influência

social1. A obra traz também um questionamento importante sobre o

processo contemporâneo de construção de identidades (instâncias do contrato

de comunicação do discurso político) e um diagnóstico prudente sobre a

influência da mídia na emergência de uma nova ética política. Marcada

pelo signo da retórica, a análise incide sobre as condições e estratégias de

persuasão na constituição de identidades que só se mostram enquanto

máscaras: a ordem da verossimilhança e do possível como fundamentais

para o “viver em comunidade” político.

Na primeira parte do livro o autor procura definir a natureza do

discurso político, que tem como fundamento a imbricação entre

linguagem e ação. A palavra política funciona entre uma verdade do dizer

e uma verdade do fazer: uma verdade da ação que se manifesta através

de uma palavra de decisão, e uma verdade da discussão que se manifesta

através de uma palavra de persuasão (razão) ou sedução (paixão). O

autor diferencia sua abordagem daquelas de Weber, Arendt e Habermas,

sustentando um duplo fundamento do discurso político (p. 45-46): esse

resulta de uma mistura entre a palavra que deve fundar o político (como

idealidade dos fins) e aquela que deve gerar a política (enquanto prática).

Para Charaudeau, o discurso político funciona na conjunção de discursos

* Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal de Santa

Catarina. E-mail: <novoepicuro@yahoo.com.br>.

1 Entre os interesses do autor estão o discurso de informação (CHARAUDEAU, 2006) e o talk-show

televisivo (CHARAUDEAU, 2000), entre outros.

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de idéias e discursos de poder (verdade e possibilidade), pensamento e

ação. Uma vez que os primeiros dizem respeito à verdade, e os segundos

à problemática do verdadeiro, do falso e do possível, desde o início a

questão central do livro se coloca em termos retóricos: dada essa

duplicidade, o discurso político teria tendência a se orientar do logos em

direção ao ethos e ao pathos (conteúdo e encenação)?

Na segunda parte da obra, Patrick Charaudeau descreve a

estrutura do teatro político e as estratégias dos seus atores (a metáfora do

teatro é retomada ao longo do todo livro). As instâncias de comunicação

(política, cidadã e mediática) são definidas por sua finalidade

comunicacional, por exemplo, propor, reivindicar, denunciar, etc. Dada a

relevância do afeto na persuasão, um ponto importante na sua

constituição é o espaço do mentir verdadeiro como estratégia de sedução (A

mentira na cena pública):“todo político sabe que lhe é impossível dizer tudo,

a todo momento, e dizer as coisas exatamente como ele as pensa ou

concebe, pois suas palavras não devem atrapalhar sua ação” (p. 104-105).

O autor esclarece assim que, no contrato de comunicação político, os

atores da instância política devem sempre obedecer à lógica do parecer

verdadeiro, empregando para esse fim estratégias para evitar “ter

mentido”, entre elas a generalidade, o silêncio, a omissão e a denegação.

O caso é que sem essa verdade de aparências não haveria ação política

possível.

A terceira parte, que trata das imagens dos atores políticos, toma

emprestado da retórica um dos termos chave da análise de Charaudeau,

o ethos como construção da imagem de si. Uma novidade aqui é o fato de

o autor trazer para a cena a pessoa do locutor, bem como a própria

massa de seu corpo como fonte de identificação (“ethos de potência”, por

exemplo). Uma semiótica multimodal do ethos inclui ainda a vocalidade

enquanto procedimento expressivo que atua na construção da imagem

de si (falar forte, tranquilo, falar bem). Não ficam claros os critérios de

definição das vocalidades, sendo tais valores significados sem

significantes definidos. Entretanto, é importante ressaltar que as

qualidades do ethos são ambivalentes, dependendo das circunstâncias. A

questão de peso levantada no final da terceira parte retoma as noções da

retórica para direcionar o balanço final da obra: como interpretar a

deriva

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