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Da Aproximação Etnológica do Baile Black Soul na Praça à Etnomusicologia Como uma Lente

Por:   •  10/12/2016  •  Ensaio  •  3.032 Palavras (13 Páginas)  •  227 Visualizações

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Da aproximação etnológica do Baile Black Soul na praça à etnomusicologia como uma lente

Esse artigo apresenta observações e considerações da aproximação ao circuito do Black soul de Belo Horizonte, onde procuro explicitar algumas as contribuições que o estudo da disciplina de etnomusicologia, feito na Faculdade de música da UFMG trouxe para a pesquisa em desenvolvimento .

Esse campo de Estudos da Musica, consolidado em sua especificidade e construção de conhecimento, com histórico de inscrições paradigmáticas que acompanharam os principais movimentos de construção do conhecimento científico, ampliou a abrangência de nosso olhar sobre o fenômeno em estudo e, sobre a própria disciplina. Mais que o estudo histórico da tradição “artística do ocidente” ou “decodificação de obras da música em seu contexto de produção” a etnomusicologia tem seu objeto situado para além de seus aspectos históricos, geográficos, antropológicos, psicológicos, sociológicos e se dedica a compreensão da música em múltiplos contextos culturais articulada as diferentes concepções, produções, interpretações relativas a implicação da música à realidade de contexto, “local” e “global”, por exemplo, e nas relações individuais, coletivas e intersubjetivas, da relação do humano com a música, o que conferiu maior complexidade a realidade em estudo.

Nesse sentido o principal objetivo do trabalho é destacar como essa lente amplia as perspectivas para compreender esse fenômeno que estudamos no campo do lazer. Nesse sentido o primeiro aspecto que destaco é a característica da etnomusicologia no Brasil estar em intenso dialogo com pesquisadores de outras áreas tais como antropólogos não especializados em música, bem como pesquisadores das áreas de letras, folclore, história, comunicação e outras (SANDRONI 2008, p.75).

Partindo de algumas notações de campo e discuto brevemente apreensões da realidade em estudo buscando explicitar como as lentes estão sendo apropriadas e ajustadas á pesquisa em desenvolvimento, que decorrem do exercício de observação etnomusicológica desenvolvido durante a disciplina.

O Baile Black que acontece na Praça sete funda um espaço/tempo de uma prática de jovens de outrora que agora adultos e velhos se encontram dançar. Se nos anos 70 antes ir ao baile dançar Black Soul estava ligado a diversão e a festa foi utilizado também como pretexto para mobilizar uma identidade étnica e produzir novos sentidos individuais e coletivos, hoje; o dançar nesse baile público, como disseram os sujeitos e a produção recente que destaca o fenômeno em Belo Horizonte, é promover um espaço-tempo para rever os antigos amigos e se divertir, festejar e dançar o Soul.

Diversidade se divertindo é a melhor expressão que descreve sintéticamente que vejo acontecer nesse baile no qual a animação cresce no encontro e animação do baile.

A chagada ao campo se deu numa tarde de domingo, dia em que acontece o evento, quando o equipamento de som já estava instalado. O DJ, reconhecido de imediato não apenas pela conferência e instalação da aparelhagem, mas também pelas vestimenta - jaqueta vermelha, camiseta estampada com o rosto de James Brown, sapato de couro branco e vermelho e o vigoroso cabelo penteado para cima no estilo Black Power.

Por essa observação da chegada ao campo, apreendida anteriormente por meio de observação etnográfica e sociologia, onde identificava como elemento aglutinador de laços fraternos, de mobilização e organização do baile público assume maior complexidade quando implicado nos contexto de observação da etnomusicologia. A caracterização do DJ por exemplo, é fundamental para a inteligibilidade do que se processa. Mais do que elemento de destaque em relação ao público, refere-se a mobilização dos sujeitos para a participação no Baile, é ele o responsável por “animar” o baile. É dele a função de “por o povo para dançar”!

Nesse sentido a promoção da empatia com o público que se conformará diante de sua performance. Considero assim que na medida em que sua produção está inscrito no contexto mais amplo do Baile de Black Soul , suas vestimentas contribuem na identificação, delimitação e vinculação e de responsabilidade em relação ao que irá acontecer.

O Dj reconhecia os brothers, que o reconheciam. Estes o cumprimentavam. A relação mais afetiva, que distinguia uns dos outros se evidenciava tanto pela aparência, mais aproximada em relação em relação ao estilo estético, intencionalmente declarado pela produção visual. Essa relação foi gradualmente reforçada pelos seus movimentos, formas de afetividade dispensada a uns e não outros.

Destacando no processo de aproximação a identificação de pares que se processa nesse relato que antecede o baile propriamente dito. Nela a mobilização do publico decorre tanto em função da intencionalidade de dançar, quanto pelo ato de identificação e reconhecimento do Dj, responsável por garantir um bom baile. Da conversa com os participantes/frequentadores aprendemos que nesse movimento da praça, são atualmente quatro as equipes de som do movimento soul de BH promotoras desse baile, sendo que em cada semana uma equipe de som fica responsável pelo baile. A animação do Baile é ditada pelo DJ em sua performance. A observação do campo nos possibilita depreender que a animação do baile depende da equipe de som por ele responsável.

Por volta das 17h 00min a música começa. Uns poucos dançarinos, mais velhos e vestidos num estilo mais “Soul” iniciam seus movimentos, vão chegando pessoas. (...) junto aos adultos com presença majoritária, alguns jovens passam a chegar.(...) facilmente distinguíveis tanto pelas roupas quanto pelo forma que dançam.

Distintos eram os objetos que possibilitavam diferenciar o performer, os dançarinos mais integrados ao movimento Soul de BH e o restante do público, que quando apreendido por uma abordagem antropológica e sociológica possibilitou-nos destacar o elemento intergeracional, não apenas pelas indumentárias e diferença física entre os jovens e o mais velhos, mas também em relação ao jeito de dançar, diferente em função da experiência com o estilo musical em questão.

No entanto esse último aspecto “forma de dançar” quando considerado pelas lentes da etnomusicologia nos indaga sobre relação performática do Dj, a intenção do Baile Black Soul como elemento que mobiliza de forma diferente os mais velhos e mais novos e, ainda a forma como a performance mobiliza os mais jovens. Nesse baile vale destacar que não tocou nenhuma música nacional, mesmo que a plasticidade do Soul tenha influenciou Gilberto Gil e Jorge Bem, que são negados em função de sua tropicalidade

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