Evolução Do Processo Produtivo
Monografias: Evolução Do Processo Produtivo. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: • 25/11/2014 • 1.535 Palavras (7 Páginas) • 1.557 Visualizações
Do artesanato aos complexos processos de produção dos dias atuais, os processos produtivos sofreram profundas transformações. Com raríssimas exceções – por exemplo, a organização do trabalho em grupos semi-autônomos que na atualidade proporciona uma certa autonomia relativa ao trabalhador – a organização da produção sempre subtraiu ao trabalhador o domínio sob sua atividade econômica. De trabalhador livre, isto é, de agente produtor que desenvolvia todo o processo produtivo – desde a concepção, passando pela produção até o consumo – o trabalhador transformou-se cada vez mais, em um agente dominado pelas condições objetivas da produção, isto é, pela base técnica e pela organização e gestão do trabalho. Embora o artesanato, ainda na atualidade, coexista com outras variadas formas de processo produtivo, é de se admitir que o trabalho artesanal consistiu-se na primeira forma de organização da atividade produtiva onde, ao invés de controlado pelo processo da produção, é o homem que o domina submetendo-o á sua vontade. No artesanato, por ser o artesão o proprietário dos meios de produção, a concepção do trabalho e a execução encontravam-se inextricavelmente unidas. Isto significa dizer que, no artesanato, é o trabalhador que planeja suas atividades; que decide sobre as ferramentas a serem utilizadas; sobre a forma a dar ao produto; sobre o ritmo de seu trabalho; sobre a quantidade e qualidade do produto; etc. Entretanto, com o tempo, o artesanato haveria de passar por varias transformações e o trabalhador haveria de perder gradativamente a autonomia sua diante do processo produtivo. A cooperação simples é forma de organização do processo produtivo que, se não substituiu o artesanato, coexistiu ao seu lado. Na cooperação simples, embora o conteúdo do processo de produção permanece inalterado em relação ao artesanato (Marx, 1980), a organização do trabalho sofre alguma alteração. No processo de produção por cooperação simples, os artesãos já não trabalham mais isoladamente, dispersos no espaço. Ao invés disso, os artesãos são concentrados numa oficina sob o comando de um mesmo capitalista. Entretanto, mesmo concentrados, os artesãos conservam suas características de trabalhadores autônomos em relação ao processo produtivo, não perde o controle sobre o processo produtivo, pois ele próprio ainda planeja suas atividades e o produto, desde a matéria prima até o acabamento final, ainda passa por suas mãos. Na cooperação simples, contudo, há um aumento da intensidade do trabalho em virtude da reunião dos artesãos num mesmo local. Na cooperação simples, embora os artífices continuam independentes, há uma concentração das matérias primas e das ferramentas – que são ainda de propriedade dos próprios artesãos – proporcionando uma maior facilidade de coordenação das atividades dos diversos artífices. Conforme Ruas (1985), além desta facilidade de coordenação, a cooperação simples aumenta a intensidade do trabalho em virtude da "força de emulação gerada na relação direta dos trabalhadores" que atuam num mesmo espaço físico. Na cooperação simples, não só o trabalho atinge um certo grau de intensificação como também, o trabalhador perde o seu poder de decisão sobre o local de desempenhar suas atividades. É com o advento da manufatura que se agrava a situação do trabalhador no tocante a sua relação com o processo produtivo. Uma das características fundamentais da manufatura é a separação das operações necessárias para a produção de um determinado produto e a atribuição de tais tarefas parceladas a trabalhadores diferentes. É verdade que no processo artesanal e no processo de cooperação simples, o artesão subdividia as operações necessárias para a execução de sua atividade. Entretanto, a subdivisão era efetuada conforme seus interesses e sua maneira particular de conceber o processo produtivo e, além disso, o próprio artesão realizava todas as operações. Com o advento da manufatura, os trabalhadores perdem o controle sobre a forma de subdivisão das operações e perdem o controle sobre o processo produtivo como um todo. Ao invés de executar todas as operações, o trabalhador passa executar apenas operações específicas. Marx (1980), diria que na manufatura a operação continua "manual, artesanal, dependendo, portanto, da força, da habilidade, rapidez, segurança do trabalhador individual ao manejar o instrumento. O ofício continua sendo a base”. Mais do que isto, no artesanato, e mesmo na cooperação simples, as diversas operações necessárias para a confecção de um produto, eram organizadas numa seqüência de modo que a realização de uma das operações só acontecia após a realização de outra. Na manufatura, "as diversas operações se transformam em justapostas no espaço" (Marx, 1980), isto é, uma vez que as diversas tarefas foram subdivididas e atribuídas a trabalhadores diferentes, tais tarefas podem se realizar ao mesmo tempo. Com esta nova forma de organização do processo produtivo, a manufatura aprofunda o processo de intensificação do ritmo de trabalho. Por meio da parcelização das tarefas, evita-se a perda de tempo com mudanças de postos de trabalho e com a troca de ferramentas para a realização de outras operações produtivas (Ruas, 1985). Com isso, diminui-se a porosidade do trabalho, isto é, racionaliza-se o processo produtivo de modo a proporcionar economia de tempo na elaboração dos produtos. A intensificação do ritmo de trabalho proporcionada pela manufatura constitui um dos fatores que contribui para que, de várias maneiras, o trabalhador perdesse o controle sobre o processo produtivo. Com a intensificação do ritmo de trabalho, o trabalhador já não mais decide sobre as seqüências das operações, sobre o ritmo da produção e, inclusive, sobre a duração de sua jornada de trabalho. Além disso, com o sistema manufatureiro de produção, o trabalhador perde, parcialmente, sua qualificação profissional e, com essa perda, a perda de seu poder de resistência frente aos interesses do capitalista. Na medida em que o trabalhador perde o domínio sobre o processo produtivo, especializando-se numa tarefa específica, sua tarefa torna-se mais simples, possibilitando, portanto, maior facilidade de aprendizagem de tal tarefa por outros trabalhadores, e, com isso, dando condições para que um trabalhador possa ser substituído por outro, sem grandes transtornos para o processo de produção. Pode-se dizer, em síntese, que o período manufatureiro tem como princípio básico a diminuição do tempo de trabalho necessário para a produção de mercadorias (Marx, 1980) por meio da reorganização do processo produtivo. A manufatura altera a organização do trabalho em relação aos sistemas anteriores, mantendo a mesma base técnica da produção. Ou seja, na manufatura o controle do processo produtivo sobre o trabalho se dá em virtude das alterações na reorganização do trabalho e não, necessariamente, pela introdução de nova tecnologia no processo produtivo. No período manufatureiro se algum aperfeiçoamento e diversificação das ferramentas são introduzidas no processo produtivo, tais aperfeiçoamentos e diversificações são considerados funções específicas e especiais do trabalhador parcial (Marx, 1980). É no período seguinte – período da grande indústria – que a submissão do trabalhador ao processo produtivo se amplia não só diante da organização do trabalho, mas também, da base técnica. Na manufatura, o ofício manual, ainda que parcelado, constituía-se em um princípio regulador da produção social (Marx, 1980). Com a introdução da maquinaria no processo produtivo – característica fundamental do período denominado grande indústria – a valorização do ofício manual deixa de existir. A introdução da maquinaria no processo produtivo permite ao capitalista organizar a produção conforme a racionalidade técnica e não mais conforme a habilidade do trabalhador. Ou seja, com o advento da maquinaria, surge a possibilidade de organizar o processo produtivo sem, necessariamente, levar em consideração a qualificação da mão de obra. Assim, no processo produtivo, o capital adquire nova forma de controle sobre o trabalho: a organização do trabalho e a base técnica constituem-se fatores que exacerbam a submissão do trabalho ao processo produtivo. A introdução da maquinaria no processo produtivo ocorre simultaneamente ao processo de desapropriação do conhecimento técnico adquirido pelo trabalhador em sua práxis. Ao absorver o conhecimento técnico produzido pelo próprio trabalhador em suas atividades cotidianas e ao transferi-lo para ao processo produtivo, via introdução da maquinaria, o capitalista amplia o domínio do capital sobre o trabalho. Em primeiro lugar, a apropriação de parte do conhecimento dos processos e operações de trabalho pelo capitalista e a incorporação desses conhecimentos e operações à máquina, viabilizam, ao capital, uma administração mais objetiva da produção econômica (Ruas, 1985). Em parte, o próprio automatismo dos movimentos das máquinas, ao impor um ritmo mais acelerado ao trabalho, reduz a porosidade do processo produtivo e, com isso, reduz a autonomia do trabalhador diante do processo. Assim, além da organização do trabalho, a base técnica constitui-se outro instrumento de domínio do processo produtivo sobre o trabalhador. Em segundo lugar, a não exigência de qualificação profissional excepcional para fazer funcionar determinados tipos de máquinas destinadas a realizar operações parciais, permite uma mudança progressiva do trabalho vivo, ou seja, da força de trabalho, pelo trabalho sem vida, isto é, pela máquina (Ruas, 1985). Essa possibilidade de substituição do trabalhador pela máquina significa menos poder de resistência dos trabalhadores frente aos interesses do capital. A introdução da maquinaria, portanto, coloca o trabalhador em permanente ameaça da demissão e do desemprego. Em virtude do fantasma do desemprego que espreita os trabalhadores e de sua incapacidade de resistência, suas condições de trabalho se tornam mais degradantes. Em síntese, com a introdução da maquinaria no processo produtivo, o capital amplia sua capacidade de valorizar-se intensificando o ritmo de trabalho, tanto por meio da organização do trabalho como por meio de transformações na base técnica.
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