Homem e Sociedade
Por: Patricia de Miranda • 15/9/2015 • Resenha • 1.400 Palavras (6 Páginas) • 375 Visualizações
O futebol se enraizou tanto na vida dos brasileiros que é muito difícil encontrar alguém que não ache que é um esporte verdadeiramente brasileiro. Na verdade é apenas uma tradição emprestada da Inglaterra que entrou definitivamente para as manifestações culturais do Brasil. Pode parecer, aos leigos, apenas uma forma de lazer, mas para os brasileiros é a essência de seu povo.
Os ingleses, que trouxeram o esporte para o Brasil, faziam parte da elite paulista e carioca, apenas os brasileiros ricos tinham acesso ao esporte. Quase todo o material era importado e muito caro. Apesar da popularização do esporte, boa parte da elite não aceitava subalternos nem negros em seus times. Assim, a maior parte dos jogadores de clubes eram universitários que jogavam em seus clubes nas horas de lazer.
Nas ruas, os espaços vazios da periferia, nas areias das praias, os jovens que não pertenciam à elite econômica começavam a improvisar suas partidas de futebol, que mais tarde ficaram conhecidas como peladas. A expressão “pelada”, tem muito a ver com a cultura da pobreza dos jovens da periferia do Brasil pois como não tinham dinheiro para comprar materiais esportivos, costumavam jogar descalços e sem camisas porque não podiam estragar seus sapatos ou tênis nem suar suas camisas. Além de ser sinônimo de futebol no Brasil, essa expressão está extremamente ligada à popularização do esporte no país. O jogo se caracteriza pela desorganização tática e técnica dos jogadores, pode ser realizado com qualquer número de jogadores desde de que tenha o mesmo número em cada time. Não há necessidade de juiz ou bandeirinhas, mas as regras são rigorosamente respeitadas. Hoje, a pelada mantém a mesma importância e é delas que os “olheiros” tiram os grandes novos talentos do futebol. Esse esporte é tão importante para o país que existem escolas que integram crianças desde os 9 anos de idade e pode levá-las ao profissionalismo. Há toda uma estrutura destinada a saúde, educação escolar, alimentação, preparação física e até habitação tudo incluso no projeto.
Apesar de no início ser um esporte praticado apenas pelos os homens, as mulheres estão mostrando ao mundo que também podem jogar. Hoje praticam futebol como hobby e estão se profissionalizando não só como jogadoras mas também como técnicas, árbitras, técnicas, comentaristas, treinadoras e diretoras de clubes.
O futebol teve uma disseminação tão grande que atualmente é tido como o esporte que mais reúne ao seu redor diferentes povos e nações. Suas regras são as mesmas em todo o mundo e há competições entre equipes de diferentes países que se formam também com jogadores de diferentes nacionalidades.
Uma das grandes paixões dos brasileiros, que virou parte da cultura das classes mais pobres, de onde sai a maior parte dos jogadores, está se voltando cada vez mais à elite.
A Copa o Mundo de 2014 era a oportunidade de usar investimento federal em benefícios da população porém tornou-se um evento esportivo financiado com o dinheiro público para o lucro privado. Foram muitas manifestações por todo o Brasil contra os exorbitantes gastos na Copa. Muitos torcem até para que dê tudo errado.
O jornalista dinamarquês Mikkel Jensen, desejava muito cobrir a Copa do Mundo no Brasil, estudou o português, pesquisou sobre o país e veio ao Brasil conhecer, porém se decepcionou. Disse em seu depoimento ao jornal Tribuna do Ceará, que a Copa é uma grande ilusão para os gringos. O sonho de conhecer o Brasil se tornou em pesadelo. Todos os projetos e mudanças foram feitos apenas pensando em quem viria de fora e na imprensa internacional para se manter uma imagem muito fora da realidade brasileira. Foi visitar Fortaleza / CE, conhecer a cidade mais violenta a receber uma Copa do Mundo e em contato com algumas crianças de rua, ficou sabendo que muitas estão desaparecidas, muitas foram mortas quando estavam dormindo à noite em áreas que os turistas freqüentavam, simplesmente para deixar a cidade “limpa” para os gringos e a imprensa internacional. Depois de saber de tudo isso, desistiu de cobrir a Copa do Mundo no Brasil pois além de ser o preço mais alto em reais já pago na histórias das Copas, é também um preço absurdo pago com vidas de inocentes.
O jornal britânico “The Guardian” também fala negativamente sobre a Copa no Brasil: “quer se trate de violência nas favelas ou dos protestos nas ruas, o Estado fará de tudo para garantir que ninguém estrague a festa. O Complexo da Maré no Rio de Janeiro foi ocupado pela Força Nacional. Por que o governo determinou ocupação lá e não em outros lugares de grandes conflitos? Simplesmente pelo fato de o Complexo da Maré estar localizado na rota que vai do aeroporto ao centro da cidade, ou seja, um lugar de grande visibilidade e importância estratégica. Durante a Copa terá um solado para cada 55 habitantes sendo que, a média do estado, é de um para cada 369 pessoas, dando-lhes o máximo controle por um período indefinido, ou seja, durante o tempo que precisarem para se certificar que a Copa do Mundo correu bem”.
Jorge Luiz Souto Maior – Professor Direito da USP, fez as seguintes conclusões sobre a Copa do Mundo no Brasil: Perdeu-se o sentido Humano, a Copa já não tem mais valor para as mais de 8.350 famílias que foram removidas de suas casas no Rio de Janeiro, simplesmente para mascarar nossos problemas sociais e econômicos. Teremos que conviver com os estádios fantasmas e com as obras inacabadas dos próprios estádios, aeroportos e avenidas, além da indignação de saber que essas obras custaram milhões aos cofres públicos, mas que de fato, pouca serventia terá para a maior parte dos cidadãos. O problema aumenta ainda mais quando se lembra que não se tem visto historicamente no Brasil, a mesma disposição em investir dinheiro público em valores ligados aos direitos sociais como educação, saúde, moradias, creches, transporte etc.
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