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Introdução A Antropologia

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Por:   •  20/6/2013  •  5.298 Palavras (22 Páginas)  •  715 Visualizações

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Iniciação a Antropologia

Introdução

Ao longo da história do homem, inúmeros contatos entre povos de culturas distintas ocorreram, seja para o bem ou para o mal. Nem sempre os encontros eram pacíficos e cordiais. Em muitas situações, havia conflito, luta, morte e sofrimento. Contudo, a despeito de todas as tragédias na história do homem, o encontro entre outros diferentes era uma constante.

O grande antropólogo francês Claude Lévi-Strauss, no seu texto Raça e História (1975), relata uma história vivida pelos colonizadores e os índios americanos que mostra claramente como ambos os grupos estavam interessados buscando entender esse outro. No momento da descoberta, a pergunta que os colonizadores e os índios estavam se fazendo era sobre se os outros eram homens. Os colonizadores buscavam a resposta a partir da existência da alma nos ditos selvagens; isto é, se tem alma então são homens. E os índios buscavam na resposta no corpo, afundando os corpos dos europeus mortos na água para observar se acontecia o mesmo que com os corpos dos índios; se apodrecer, como eles próprios, podiam concluir que também eram homens. O que essa anedota nos mostra é que a curiosidade movia, e ainda move, os homens quando se encontram com aqueles que são diferentes.

Quando no Século XV as fronteiras do mundo se ampliaram radicalmente, esses outros começaram a estar mais presentes. O contato que a cultura européia estabelecia com a cultura dos outros, dos índios, fazia necessário que se pensasse sobre como cada um vivia no mundo. Assim, não faltaram pensadores que se puseram a pensar a diferença entre os homens.

Se a Antropologia é a ciência humana e social que busca conhecer a diferença e alteridade, então estudá-la pode nos fazer compreender que, longe de haver somente uma formação cultural que dê sentido às ações dos homens, toda e qualquer cultura é coerente em si mesma quando vista de forma total e a partir de seus próprios pressupostos.

Mais ainda, podemos aprender que nossa cultura e sociedade não são as únicas, nem as mais verdadeiras, originais e autênticas; não obstante, a Antropologia nos ensina que todo e qualquer esquema cultural e ou classificatório é mais um dentro dos inúmeros outros, que também coabitam o mundo juntamente conosco.

A antropologia pode nos ensinar uma importante lição: nossa sociedade não é superior a qualquer outra, seja ela uma tribo do Sudão, na África, ou uma tribo indígena no Mato Grosso do Sul, no Brasil.

Vistos a partir dos quadros centrais de qualquer cultura, os homens se julgam sempre mais humanos do que os outros; mais fortes, inteligentes e sinceros do que os outros, quaisquer que sejam.

Enfim, a antropologia nos ensina a nos descentrarmos de nós mesmos assim como de nossa própria sociedade e cultura. Isso é um exercício fantástico e que nos abre as portas para novos universos, novas possibilidades e alternativas de aprendermos com os outros e de nos vermos através dos outros, conhecendo-nos mais profundamente.

Afinal, como disse Sahlins (1979, p.08), “o homem apreende o mundo a partir de esquemas simbólicos que ordenam o mundo, mas que jamais são os únicos possíveis”. Isto quer dizer que outros grupos podem organizar o mundo de forma diferentes da nossa, e nesse sentido sempre lidamos com diferentes mundo possíveis.

“...se para a filosofia a questão é ‘fundamentar racionalmente uma ética universal’, para o antropólogo ou cientista social a questão será a de como agir eticamente.”

Roberto Cardoso de Oliveira

O que é a antropologia?

Na definição mais geral de antropologia, talvez a clássica, é entendida como o estudo do homem. Mas podemos nos perguntar: qual é a especificidade da antropologia? Dado que a psicologia, a medicina, e todas as ciências humanas têm como objetivo o estudo do homem, de algum ponto de vista especifico, qual é o objeto da antropologia?

Dissemos que o objeto da antropologia era o estudo do outro, das culturas chamadas na época de primitivas. Mas o interesse não está meramente em entender como elas percebem o mundo, qual é a visão do mundo dessas culturas.

A antropologia sempre busca um retorno reflexivo; se buscarmos entender como elas percebem o mundo é porque acreditamos que podemos aprender alguma coisa de nós mesmos com elas. Perceba que é a relação, acima de tudo, entre nós e elas, que está em jogo na antropologia.

A percepção que temos de nós mesmos é mudada quando nos percebemos em relação aos outros; quando ao observar que os outros podem fazer as mesmas coisas, mas de forma diferente, nos indagamos sobre as nossas próprias maneiras. Por exemplo, pensem em que há de “natural” em comer com garfo e faca? Ou em dormir em camas?

Ou ainda em escovar os dentes após as refeições? Isso é mais natural que comer com as mãos ou do que dormir em redes ou de não escovar os dentes? É “natural” para nós, mas é para os membros de uma outra cultura, os Bororo do parque do Xingu, por exemplo?

Um outro exemplo: há um costume em diversas culturas indígenas chamado de couvade. Ele consiste em que no momento em que uma mulher fica grávida, o pai da criança tem que cumprir os mesmos tabus rituais que a mulher, ficar em casa deitado, repousando, por exemplo.

É uma forma de expressar para a sociedade que ele é o pai. Já pensaram as consequências de tal costume na nossa sociedade? Essa não seria uma forma “natural” de viver uma gravidez para nós.

Assim, podemos começar a pensar numa definição de antropologia como o estudo do outro em relação a nós. Essa relação nos permite pensar em uma das dimensões fundamentais da antropologia que é a dimensão comparativa. Sempre estamos comparando as culturas, não para dizer que uma é melhor que a outra, mas para poder perceber a diferença. É na relação de contraste, de comparação, que percebemos a alteridade. Assim poderíamos dizer que a antropologia busca produzir um conhecimento sobre nós, mas através do desvio pelo outro. Observe o quadro abaixo com atenção.

Entretanto, para completar nossa definição precisamos de mais um elemento importante. O homem tem uma característica diferencial em relação a todos os outros animais: ele é ao mesmo tempo um ser biológico e um ser cultural/simbólico. Por um lado pertencemos a natureza, somos animais mas, por outro, demos um passo fundamental que nos separou para sempre da natureza: inventamos a cultura.

Depois desse movimento essencial de separação da natureza, passamos a ter uma diferença radical com o resto dos animais: a cultura.

O que diferencia a perspectiva

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