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JESUS E OS POBRES: IMPLICAÇÕES ECLESIOLÓGICAS E DESAFIOS PASTORAIS

Por:   •  21/5/2019  •  Artigo  •  5.014 Palavras (21 Páginas)  •  190 Visualizações

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LEANDRO DA CONCEIÇÃO RAFAEL (1165682)

Bacharelado em Teologia

JESUS E OS POBRES:

IMPLICAÇÕES ECLESIOLÓGICAS E DESAFIOS PASTORAIS

Tutor: Prof. Eugenio Daniel

Claretiano - Centro Universitário

SÃO PAULO

2017

JESUS E OS POBRES:

IMPLICAÇÕES ECLESIOLÓGICAS E DESAFIOS PASTORAIS

O conceito de "pobre" tem, obviamente, um profundo alcance religioso no cristianismo; porém, corresponde também a uma realidade social essencial no Brasil e na América Latina: a existência de uma imensa massa de despossuídos, tanto nas cidades quanto no campo, que não são todos proletários ou trabalhadores. Alguns sindicalistas cristãos latino-americanos falam de "proletariado" para descrever essa classe de deserdados que não somente são vítimas da exploração, mas, sobretudo, são vítimas da exclusão social pura e simples. Ao recorrer às Sagradas Escrituras, podemos tirar o retrato dos “pobres de Deus”, daqueles protegidos de Deus, com seu senso comunitário, sua fé e esperança. Foi um tipo acabado de homem bíblico que descobrimos. O homem bíblico é o homem diante de Deus. No caso dos “pobres de Deus”, trata-se duma procura total, uma doação plena e uma confiança sem limites. A partir desta reflexão teológica de como os pobres são tratados hoje, quero despertar o olhar da Igreja e dos teólogos para os mais pobres, o que corresponde às inquietações que temos vivido aonde os pobres são tão esquecidos, marginalizados e, infelizmente, por muitos teólogos, ainda tratados como uma “causa social”. Descobrir nos pobres um caminho, uma vivência, uma prática, um exemplo, um testemunho... um tesouro que nos faça refletir a fundo às próprias atitudes de Jesus e de Maria. Descobrir uma espiritualidade profunda que nos faça refletir tantos mistérios de Deus e da sua ação misericordiosa, será então o desafio deste trabalho.

Palavras Chave: Pobres, Anawin, Deus, Espiritualidade, Igreja

1. INTRODUÇÃO

Há um grande desafio quando tratamos de um tema tão complexo e tantas vezes abordado ao longo da História da Igreja. Talvez, seja necessário partir de uma realidade: os pobres estão presentes na bíblia, quase que em todos os livros, mas também estão presentes hoje, na nossa vida, na nossa Igreja. Os pobres, mais do que um dado ou um discurso, são uma realidade. Os pobres existem!

A inspiração para esta reflexão teológica parte de duas frases de Jesus nos evangelhos: “Felizes os pobres, porque deles é o Reino dos Céus” (Mt 5,3) e “O Espírito do Senhor está sobre mim... e me enviou para evangelizar os pobres.” (Lc 4, 18ss). Nota-se aqui que os pobres estão presentes também no discurso de Jesus, mas não só em suas palavras: os pobres tornam-se para Ele um referencial, um ponto de partida para realizar sua missão.

É a partir de Jesus que teremos autoridade e direito de falar dos pobres. Não pretendo ao longo destas páginas fazer uma “sociologia dos pobres”, dissertando algo como se fossem distante de nós... mas a partir da experiência de Jesus, para passar a uma “teologia dos pobres”, ou a uma “espiritualidade dos pobres”, e até mesmo, a uma “mística dos pobres”.

Existem hoje muitas comunidades, grupos e associações que desenvolvem um trabalho específico com os pobres (mendigos, moradores de rua, crianças abandonadas...). Na América Latina ainda ressoam os ecos de uma “Teologia da Libertação”, que nos proporcionou uma forma de ver a Igreja a partir dos pobres.  Escolhi esse tema, tendo como base a experiência que hoje tenho e faço através da minha comunidade (Aliança de Misericórdia), indo ao encontro dos mais pobres, com o desejo de proporcionar uma nova visão e descobrir, no contato com eles, uma nova espiritualidade, um novo jeito de viver e de ver a pobreza em nossos tempos. Jesus vem em continuidade com os pobres de Israel, vem como pobre, de tal sorte que somos chamados a ver Jesus nos pobres, que espelham, aos olhos da fé, o mistério de Jesus, marcado pela “quenose” e pela cruz. No convívio com os pobres aprendemos o sentido da cruz em nossa vida.

Nos evangelhos, a identificação de Jesus com os mais pobres, com os “pequeninos”, me faz desejar buscar com mais ensejo esse tema: Jesus é enviado aos mais pobres. Há nisso um mistério, um sentido. Desejo aprofundar nesse mistério, o mistério da “encarnação”, também como desenvolvimento desse Artigo Científico, nessa descida de Jesus aos mais pobres.

Terei como objetivo, o estudo aprofundado dos pobres na Sagrada Escritura e do Mistério da Encarnação, a vida e a atividade de Jesus nos evangelhos utilizando a Metodologia de Artigo de Revisão Bibliográfica. A partir dessa leitura, buscar o resgate da dignidade do ser humano a partir do ensinamento de Jesus sobre os pobres. Como conclusão, elaborar pistas para uma nova leitura espiritual e eclesiológica a partir dos pobres nos dias de hoje.A partir dessa reflexão teológica, quero despertar o olhar de hoje da Igreja e dos teólogos para os mais pobres, o que corresponde às inquietações que temos vivido nos dias de hoje, em que tantas vezes os pobres ainda são esquecidos e marginalizados. Descobrir nos pobres um caminho, uma vivência, uma prática que pode despertar o olhar da sociedade em tantos outros âmbitos. E, sobretudo, buscar pistas concretas que dêem um sentido a esse trabalho.

2. DESENVOLVIMENTO

Toda a tradição da Igreja reconhece nos pobres o Sacramento de Cristo, não certamente idêntico à realidade da Eucaristia, mas na perfeita correspondência analógica e mística com ela. Ademais, Jesus mesmo nos disse numa página solene do Evangelho, onde proclama que cada homem sofredor, faminto, enfermo, infeliz, necessitado de compaixão e de ajuda, é ele, como se fosse esse infeliz, segundo a misteriosa e potente sociologia, segundo o humanismo de Cristo.[1]

        Muitos foram os profetas, pregadores, padres e bispos que falaram em favor dos pobres, pregaram e deram testemunho de doação por amor aos mais pobres. Falando de América Latina, nestas últimas décadas foram muitos os “teólogos da libertação”, que procuraram fazer uma teologia a partir dos mais pobres, ou como eles mesmos preferiram dizer no início: opção preferencial pelos pobres.

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