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Lixo Extraordinário

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Por:   •  26/5/2013  •  528 Palavras (3 Páginas)  •  1.288 Visualizações

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Apenas parecia. O longa-metragem, na verdade, mostra o processo de criação – no campo das ideias – do artista brasileiro enquanto ele define seu novo e audacioso projeto: retratar a realidade dos catadores de material reciclável do Jardim Gramacho, localizado em área extremamente carente do Rio de Janeiro. E assim, percebe-se que o personagem principal não será Vik e também não será no singular, serão as pessoas que separam todo o lixo do maior aterro sanitário do mundo.

Desse modo, o documentário aborda não só o trabalho de Vik, mas também o poder transformador da arte, capaz de alterar não só a realidade das pessoas, mas ainda a percepção de mundo que elas têm. Logo no início do filme, aqueles que são considerados o nível mais baixo da pirâmide social surpreendem ao mostrar a felicidade e o orgulham que sentem por trabalhar de forma digna, o que já serve como um choque de realidade impactante – e capaz de alterar as percepções do espectador.

Quanto mais a realidade dos catadores do Jardim Gramacho é apresentada, mais interessante se torna o documentário que, engajado inicialmente em um retrato social crítico, com o passar do tempo mantém esse tom ao mostrar o poder transformador da arte na vida daquelas pessoas. E se até meados do longa o público era convidado a refletir sobre a questão da marginalização daquelas pessoas, absolutamente excluídas da sociedade, depois de sua metade passa a, inevitavelmente, emocionar-se com a transformação que a cultura traz para aquela comunidade.

Os catadores não são apenas objetos para belas fotografias artísticas de Vik em meio à sujeira, mas passam também a serem autores das obras ao darem os contornos necessários – sempre com material retirado do lixo – as suas próprias imagens ampliadas no chão e, posteriormente, fotografadas de cima por Vik. Assim, a emoção daquelas pessoas humildes ao verem o resultado de seus esforços e perceberem suas capacidades intelectuais para produzir, e até mesmo interpretar a arte, é facilmente dividida com o público que, em privado, inevitavelmente pensa que é hora de rever certos conceitos sobre a importância da cultura e os efeitos da exclusão social que leva ao desperdício de talentos.

Com apenas uma frase, o representante dos catadores no programa global mostrou que eles, graças às ambições de Vik, não podem mais ser encarados como subprodutos da sociedade. Merecem ter orgulho de serem catadores de lixo reciclável e de toda a capacidade intelectual que possuem.

os catadores diminuem sua distância com a arte e conseguem condições melhores de vida..

final é minimamente feliz para ambos: Vik conseguiu se renovar e os catadores de material reciclável, sob a liderança de Tião, ganham visibilidade. Mas existe algo muito errado no Brasil: se a classe média não olha para o contingente de pobres e não legitima o que eles fazem (sejam política ou artisticamente), passa imperceptível. É como Marisa Monte gravando samba: se não fosse por ela, Lágrimas e Tormentos e seu compositor Argemiro do Patrocínio nunca seria legitimado como músico pelo público fora do morro.

Alguma coisa está errada. Lixo Extraordinário é mais um exemplo desse país estranho. Um documentário que precisa ser revisto sob um olhar mais frio e sem a catarse provocado pelo final.

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