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MEMORIAL DE FORMAÇÃO

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Por:   •  23/9/2013  •  1.493 Palavras (6 Páginas)  •  487 Visualizações

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no início dos anos sessenta, suscitou elevada polêmica entre os estudiosos de Filosofia da Ciência e teve alguns de seus conceitos posteriormente reformulados pelo autor – especialmente no posfácio que passou a figurar no livro a partir de 1969. Embora as idéias de Kuhn sejam bastante sugestivas, creio ser possível tomá-las apenas a título de empréstimo parcial, como logo mais se verá.

O que caracteriza um paradigma é o fato de conter realizações científicas "reconhecidas durante algum tempo por alguma comunidade científica específica como proporcionando os fundamentos para sua prática posterior" (Kuhn, 1990, p.29), o que define "implicitamente os problemas e métodos legítimos de um campo de pesquisa para as gerações posteriores de praticantes da ciência"; ao fazê-lo, tais realizações atraem um "grupo duradouro de partidários, afastando-os de outras formas de atividade científica dissimilares". Ao mesmo tempo, trata-se de realizações "suficientemente abertas para deixar toda espécie de problemas para serem resolvidos pelo grupo redefinido de praticantes da ciência" (idem, p.30).

Desse modo, certas formulações originais contidas no amplo espectro das teorias psicológicas podem ser nomeadas paradigmas, ou matrizes disciplinares, conforme Kuhn mostrou preferir no posfácio acima mencionado. Tomadas na concepção de seus autores principais, a obra de Freud, ao fundar a Psicanálise, os trabalhos de Pavlov, bem como os de Watson, Skinner e outros psicólogos norte-americanos, ao estabelecerem as bases para o Comportamentalismo e os escritos de Piaget, na elaboração da Epistemologia Genética, são exemplos de realizações científicas que conquistaram o reconhecimento de parcelas da comunidade científica e propuseram, cada qual à sua maneira, métodos e problemas específicos para a compreensão de aspectos da psicologia humana. Cada um deles possui parâmetros delimitadores que dizem respeito a procedimentos, conceitos, vocabulário e, acima de tudo, definições sobre o que é relevante investigar. Embora esses paradigmas sejam limitadores do campo de visão do praticante da ciência, deixam desafiadores problemas a serem solucionados pela comunidade que compartilha seus princípios, métodos e valores.

Para ficar em nossos exemplos, a Psicanálise visa a compreender as forças inconscientes em sua luta contra as exigências da realidade, e define a "interpretação" como o instrumento adequado para tanto. O Comportamentalismo, tanto na versão associacionista russa quanto na vertente ambientalista norte-americana, dá ênfase às ações exteriores do organismo, repudiando conceitos mentalistas tidos como impossíveis de serem apreendidos objetivamente, o que encaminha as ações do pesquisador para métodos de observação e registro do comportamento observável. Piaget apresenta uma teoria para explicar as formas elementares do conhecimento e o modo como estas formas se desenvolvem, da criança ao adulto, o que sugere ao cientista a necessidade de trabalhar com métodos de observação e entrevista clínica para apreender a mudança das estruturas cognitivas.

Os problemas não resolvidos pelas formulações paradigmáticas animam seus seguidores, definidos por Kuhn como cientistas normais, a realizar o "trabalho de limpeza" que todo paradigma requer. Isto é assim porque todo paradigma é, em geral, "muito limitado, tanto no âmbito como na precisão, quando de sua primeira aparição". De início, um paradigma "é, em grande parte, uma promessa de sucesso que pode ser descoberta em exemplos selecionados e ainda incompletos".

A ciência normal consiste na atualização dessa promessa, atualização que se obtém ampliando-se o conhecimento daqueles fatos que o paradigma apresenta como particularmente relevantes, aumentando-se a correlação entre esses fatos e as predições do paradigma e articulando-se ainda mais o próprio paradigma. (idem, p.44)

O cientista normal, portanto, é aquele que, conquistado por um paradigma, empenha-se em aprimorá-lo. Dentre as várias modalidades de exercício da ciência normal, há uma espécie que consiste na busca de adequação dos referenciais, métodos e soluções apresentados pelo paradigma a áreas de interesse não contempladas originalmente pelas formulações paradigmáticas. "Nesse caso experiências são necessárias para permitir uma escolha entre modos alternativos de aplicação do paradigma à nova área de interesse" (idem, p.50). Nos exemplos aqui enfocados, os próprios autores dos paradigmas em questão encarregaram-se de iniciar o "trabalho de limpeza" das proposições que eles mesmos elaboraram, participando, assim, dessa última modalidade de ciência normal.

É sabido que Freud dedicou pelo menos os últimos cinqüenta anos de sua vida à elaboração da Psicanálise, tendo tido oportunidade de experimentar sua adequação a terrenos não diretamente vinculados à clínica psicológica. Tanto é assim que suas idéias podem ser avaliadas, hoje, muito menos como um conjunto de técnicas psicoterapêuticas do que como uma concepção a respeito das relações entre o indivíduo e a cultura. Algo semelhante pode ser dito quanto a Skinner, que buscou aplicar suas constatações, muitas delas obtidas em laboratório com animais inferiores, a uma reflexão sobre o papel da ciência no planejamento da cultura. Piaget, que acompanhou de perto o avanço de seu projeto de investigação das estruturas cognitivas, não se furtou a expandi-lo em várias direções, discutindo o desenvolvimento moral da criança, elaborando estudos de caráter sociológico e sobre o progresso das ciências.

É com base nestes aspectos – e em alguns outros que logo mais serão explicitados – que proponho a denominação kuhniana de paradigma para as teorias psicológicas. A vantagem oferecida por este empenho encontra-se justamente em tornar possível distinguir com mais clareza a especificidade que envolve o trabalho científico, especificidade esta que o distingue das exigências que cercam a prática educacional. No mais, creio que a visão de Kuhn quanto ao modo como os paradigmas se estabelecem e são superados, uns pelos outros, de tempos em tempos, por meio de rupturas sucessivas, necessita maiores esclarecimentos. Quando formulada pela primeira vez, esta concepção

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